Benefícios da tecnologia de aplicação em soja

Como a tecnologia de aplicação pode ajudar o produtor a atingir o alvo, facilitar a ação do fungicida e proteger melhor a cultura

30.12.2020 | 20:59 (UTC -3)
Cultivar Grandes Culturas

Apesar de muitos técnicos e produtores as considerarem como sinônimos, há importantes diferenças de conceito entre aplicação e pulverização de agroquímicos. Logo, pode-se considerar pulverização como um processo mecânico que tem o objetivo de quebrar o volume de calda do pulverizador em um grande número de partículas, denominadas gotas. Enquanto a aplicação é a colocação de um produto químico em um determinado alvo, para proteger a cultura. Com isso, para os fungicidas entregarem a sua máxima eficácia no controle de doenças, é preciso aplicar mais e pulverizar menos.

Após a gota ser produzida pela ponta de pulverização, terá de enfrentar uma barreira climática e, depois, uma barreira vegetal para conseguir atingir o alvo no interior do dossel. O grande desafio da Tecnologia de Aplicação consiste em fazer com que as gotas atravessem a camada superior de folhas das plantas e cheguem em condições de se distribuir, depositar e cobrir adequadamente o dossel da cultura. Para isso, é necessário estudar estratégias que incrementem a deposição de gotas pulverizadas com produtos fitossanitários na parte inferior do dossel. 

Estádio de desenvolvimento da planta e índice de área foliar

A penetração de gotas no dossel de uma cultura é fator fundamental para o controle químico de doenças, especialmente as que iniciam o processo infeccioso nas folhas baixeiras, como é o caso da ferrugem-asiática da soja e das manchas foliares. A penetração de produto no dossel está relacionada com o estágio de desenvolvimento em que a cultura se encontra e o seu índice de área foliar, sendo que, quanto mais fechado o dossel, maior é a dificuldade de as gotas atingirem as folhas basais da planta.

A aplicação do fungicida antes do fechamento entre linhas (estágio vegetativo -  Vn) tem o objetivo de aumentar a penetração das gotículas da calda do fungicida, melhorando a cobertura das folhas nas partes média e inferior do dossel, consequentemente, protegendo as folhas das doenças que incidem no início do ciclo (Figura 1). A partir do fechamento da entre linha, as gotas da calda pulverizada têm dificuldade de atingir o dossel inferior da cultura, devido ao excesso de folhagem, formando uma espécie de barreira física para a penetração do fungicida. Dessa forma, a aplicação não atingirá o alvo, e a evolução da doença comprometerá todo o programa de controle e, consequentemente, a produtividade.

Figura 1 - Momento de aplicação do fungicida em relação ao estágio de desenvolvimento da cultura e índice de área foliar. Ilustração: Elevagro
Figura 1 - Momento de aplicação do fungicida em relação ao estágio de desenvolvimento da cultura e índice de área foliar. Ilustração: Elevagro

Apesar de existirem diversos trabalhos na área de tecnologia de aplicação que quantifiquem a deposição de calda no dossel das plantas, poucos consideram as barreiras impostas pelas diferenças de arquitetura entre as cultivares. Logo, pode-se citar a arquitetura vegetal como fator que limita ou facilita a entrada e a distribuição da aplicação no perfil da planta. Para Huyghe (1998), a arquitetura inclui diversos caracteres, como número de hastes e ramos, estrutura de hastes ou ramos (número e comprimento dos entrenós) e estrutura, tamanho e orientação das folhas. Cada cultivar apresenta características peculiares no que diz respeito à própria arquitetura, as quais variam conforme a época de semeadura e as condições ambientais de cultivo, que influenciam na cobertura de gotas ao longo do dossel da planta pelas aplicações de fungicidas. 

Tamanho de gotas

A eficiência da aplicação de fungicidas depende de uma cobertura uniforme das folhas (alvo), seja nos terços superior, médio ou inferior, a qual é proporcionada pelos diferentes espectros de gotas. A Figura 2 mostra como um volume de líquido contido em uma gota de 400µm pode ser reduzido a oito gotas de 200µm, proporcionando uma maior cobertura e distribuição do produto na área foliar. Em geral, gotas de espectro maior tendem a ser depositadas no topo da planta. Já as gotas de espectro de médio a fino tendem a ser depositadas nos terços médio e inferior das plantas, principais locais de infecção do patógeno. Dessa forma, a aplicação de fungicidas com gotas de finas a médias é recomendada para se obter maior eficácia no controle de doenças.

Figura 2 - Deposição de diferentes espectros de gotas no dossel da cultura da soja
Figura 2 - Deposição de diferentes espectros de gotas no dossel da cultura da soja

As gotas finas proporcionam melhor cobertura, já as gotas muito pequenas podem sofrer deriva ou evaporação. Isso ocorre porque têm pouco peso e inércia, permanecendo por mais tempo em suspensão no ar, ficando suscetíveis ao arraste pela deriva e evaporação durante a aplicação. No entanto, em condições climáticas adequadas, a penetração e a cobertura do alvo das gotas finas são frequentemente maiores. As condições ideais para maximizar as aplicações são de umidade relativa do ar acima de 55%, temperatura abaixo de 30°C e velocidade do vento de 3km/h a 10km/h.

Normalmente, as gotas mais finas são consequência de aplicações com pontas de pulverização de orifícios finos e volumes de aplicação reduzidos sob pressões altas. Inversamente, pontas de orifícios maiores, volumes altos e pressões baixas têm a tendência de gerar gotas maiores (Santos, 2003). A escolha da ponta de pulverização permite adequar o tamanho das gotas produzidas às condições de aplicação, garantindo, ao mesmo tempo, eficácia biológica e segurança ambiental.

Qualidade da cobertura de gotas

A cobertura de gotas pode ser definida como a percentagem do alvo que foi coberta pela calda (Baesso et al., 2014). Logo, pode-se dizer que é a área ocupada pelas gotas após a aplicação, o número de gotas/cm² do alvo. Segundo Christofoletti (1999), necessita-se, para uma boa eficácia no controle de doenças, de uma cobertura de 30 gotas/cm² a 40 gotas/cm² para fungicidas sistêmicos, e entre 50 gotas/cm² e 70 gotas/cm² para fungicidas protetores (Tabela 1). Trabalhando com volumes de calda de 120L/ha e 160L/ha, Ugalde (2005) observou uma cobertura de gotas mínima eficiente para fungicidas sistêmicos e protetores de 45 gotas/cm² e 60 gotas/cm², respectivamente. Contudo, o principal objetivo é produzir gotas com o máximo de cobertura possível com um volume de calda apropriado, seguindo as recomendações contidas nos receituários agronômicos.

A cobertura da folha pelas gotas pode ser agregada positivamente pela adição de adjuvantes na calda de pulverização, que, além de contribuírem na aderência da gota, auxiliarão no espalhamento sobre a folha e sua absorção para o interior do tecido (Figura 3). Com isso, o tempo de vida do produto será adequado, zelando pela sanidade da cultura e pelo controle eficiente das doenças.

Figura 3 - Representação da formação de depósito da gota na ausência e na presença de adjuvante. Ilustração: Elevagro
Figura 3 - Representação da formação de depósito da gota na ausência e na presença de adjuvante. Ilustração: Elevagro

Percebe-se que a tecnologia de aplicação tem um papel fundamental para aumentar a cobertura da planta pelas gotas, com objetivo de depositar a quantidade de ingrediente ativo necessária para o controle das doenças. A otimização da eficácia no controle de doenças não depende somente da escolha de fungicidas eficientes, mas também de fatores relacionados à penetração e à cobertura de gotas em todo o dossel da planta. 

Stefanello aborda o papel da tecnologia de aplicação na proteção das plantas
Stefanello aborda o papel da tecnologia de aplicação na proteção das plantas

Marlon Tagliapietra Stefanello

Cultivar Grandes Culturas Dezembro/Janeiro 2021

A cada nova edição, a Cultivar Grandes Culturas divulga uma série de conteúdos técnicos produzidos por pesquisadores renomados de todo o Brasil, que abordam as principais dificuldades e desafios encontrados no campo pelos produtores rurais. Através de pesquisas focadas no controle das principais pragas e doenças do cultivo de grandes culturas, a Revista auxilia o agricultor na busca por soluções de manejo que incrementem sua rentabilidade. 

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