Benefícios do planejamento da mecanização utilizada na atividade agrícola

O planejamento da mecanização numa propriedade agrícola é essencial para otimizar a frota, garantindo que serão adquiridas e utilizadas as máquinas corretas e nas dimensões adequadas

22.05.2020 | 20:59 (UTC -3)
Cultivar Máquinas

O agronegócio brasileiro é uma das atividades mais importantes do país pela sua representatividade na economia, geração de empregos e na questão social através da produção de alimentos. No entanto, esta importante atividade, exigente em elevados investimentos em diferentes áreas e momentos, está sujeita a inúmeras variáveis que dependem de uma combinação positiva, para que resulte em sucesso. Destas variáveis a maioria delas não pode ser controlada pelo gestor e tem estreita ligação com fatores climáticos.

A combinação destes fatores caracteriza esta atividade como de risco, justificando a realização de estudos, principalmente quanto a investimentos, para torná-la sustentável e lucrativa. O fator humano, responsável por gerenciar essa atividade, interpretar o que os números revelam e encontrar soluções apropriadas, para garantir o melhor aproveitamento dos recursos disponíveis, torna-se extremamente importante.

O gerenciamento torna-se mais eficiente quando realizado através de um planejamento agropecuário, que consiste em organizar a distribuição de recursos produtivos no tempo e no espaço para racionalizar e simplificar as operações, com base nos recursos disponíveis. Desta forma, é possível contar com este auxílio na programação das atividades, seleção dos meios de produção, antecipação do orçamento dos recursos necessários para a execução das operações, estimativa do provável lucro, necessidade de crédito, além de servir como um roteiro para execução das atividades.

Dentre as rubricas que constam em um planejamento agropecuário, o item relacionado às máquinas e aos implementos agrícolas tem considerável contribuição no total dos recursos gastos em um empreendimento rural. Neste sentido, a realização de um planejamento específico para esta área contribui para conhecer melhor os recursos disponíveis, auxilia na tomada de decisão do momento de aquisição e substituição de equipamentos, facilita a interpretação para a harmonização dos conjuntos máquina/implemento, analisa a subutilização de máquinas, além de verificar em um determinado espaço de tempo a disponibilidade de máquinas e equipamentos para realizarem outras atividades, não relacionadas à atividade principal.

Planejamento da mecanização

Entre os diversos projetos de Planejamento da Mecanização Agrícola desenvolvidos no âmbito do Laboratório de Agrotecnologia, utilizando o Modelo do Núcleo de Ensaio de Máquinas Agrícolas (Nema/UFSM) descrito por Tatsch, M (2015), foi desenvolvido um projeto de gerenciamento em uma propriedade rural, situada na Região Central do Estado do Rio Grande do Sul, com área de cultivo de 4.215 hectares, manejados em sistema de semeadura direta. As culturas utilizadas na propriedade anualmente compreendem soja (verão), trigo (inverno) e aveia branca (inverno), as quais são implementadas através de um plano preestabelecido de sucessão de culturas.

A primeira atividade na realização de um planejamento da mecanização agrícola consiste em realizar o inventário das máquinas e dos equipamentos agrícolas, disponíveis na empresa rural, que são utilizados para a realização das atividades. No inventário constam informações como o tipo da máquina, o ano de fabricação, a potência nominal, a largura de trabalho, o valor de aquisição e o valor final, com base na estimativa da sua vida útil, informações fundamentais para a elaboração de tabelas e gráficos que auxiliam no desenvolvimento do planejamento.

CUSTOS DE UTILIZAÇÃO

Os custos de utilização das máquinas agrícolas dividem-se basicamente em dois tipos: o custo fixo e o custo variável. O primeiro refere-se a aquisição e propriedade (posse) da máquina e existe mesmo que a máquina não esteja sendo utilizada. Inclui os custos como depreciação do bem, juros e encargos, seguros e espaço físico para o armazenamento da máquina. As despesas com combustível, lubrificantes, pneus, reparos ou substituição de peças, filtros, graxa, dentre outros custos, que são geradas pelo uso sistemático da máquina ou implemento, são denominadas custos variáveis.

A soma dos custos fixos e variáveis representa o custo total da máquina ou implemento, e serve como parâmetro para inúmeras avaliações gerenciais, inclusive para se conhecer a sua relação benefício-investimento. A descrição dos custos fixos e variáveis de algumas máquinas e implementos agrícolas da propriedade estudada (em função do tamanho da tabela) e o total de todas as máquinas, juntamente com a quantidade de horas de trabalho anual desenvolvido pela mesma, no exemplo considerado, encontram-se detalhados nas Tabelas 1 e 2.

O critério de rateio adotado para quantificar custos das máquinas da propriedade, em cada cultura, foi a utilização do tempo operacional total de cada máquina multiplicado pelo seu percentual de uso em cada cultura (decimal). Para facilitar a interpretação dos resultados, foram acrescentadas outras variáveis como: o custo horário da máquina na cultura e o custo por hectare. Representam-se estes custos em sacos do produto e em sacos por hectare. Na Tabela 3 estão representados os custos para a cultura da soja considerando-se o valor do saco da soja de R$ 70,00.

RITMO OPERACIONAL DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS

Durante o ciclo das culturas agrícolas diversas intervenções são exigidas no seu manejo, sendo normalmente realizadas por máquinas e implementos agrícolas. Dentre as principais atividades que compõem esse processo, destacam-se as pulverizações com aplicação de herbicidas, inseticidas e fungicidas, operações de semeadura para a implantação da cultura, colheita e transporte dos grãos. Para o melhor desempenho de todas as atividades, um planejamento do ritmo operacional se fez necessário para que fosse possível programar as atividades em função do tempo. Neste trabalho, foram distribuídas as máquinas que operam em cada cultura nos decêndios do mês (Figura 2). Um decêndio corresponde a um período de dez dias.

Através deste planejamento é possível organizar as operações de manutenção, escalonamento e descanso de operadores. Serve ainda como base para melhorar o aproveitamento das máquinas, pois as mesmas podem estar sendo exigidas de forma demasiada em determinados períodos e em outros sendo subutilizadas. Na Figura 3 são mostrados os tipos e a quantidade de máquinas utilizadas em cada decêndio de cada mês ao longo do ano.

Figura 1 - Descrição do Processo de Planejamento da Mecanização Agrícola, como explicado por Tatsch, M. (2015)
Figura 1 - Descrição do Processo de Planejamento da Mecanização Agrícola, como explicado por Tatsch, M. (2015)

Figura 2 - Área trabalhada (ha) com pulverização de herbicidas e fungicidas, semeadura e colheita em cada decêndio de cada mês na propriedade
Figura 2 - Área trabalhada (ha) com pulverização de herbicidas e fungicidas, semeadura e colheita em cada decêndio de cada mês na propriedade

Figura 3 - Quantidade de pulverizadores, tratores, colhedoras e caminhões utilizados em cada decêndio do ano na propriedade
Figura 3 - Quantidade de pulverizadores, tratores, colhedoras e caminhões utilizados em cada decêndio do ano na propriedade

DIMENSIONAMENTO DA POTÊNCIA REQUERIDA PARA A SEMEADURA

O dimensionamento adequado dos conjuntos mecanizados utilizados nas propriedades agrícolas é de extrema importância para manter os conjuntos harmônicos. Isto é, que a potência fornecida pelo trator e a demandada pelo implemento sejam as mais próximas possíveis para prolongar a durabilidade da máquina, diminuir o consumo de combustível e evitar a ociosidade. Na avaliação dos conjuntos de semeadura na condição ideal, no caso estudado, a potência total necessária foi de 1.463cv. De acordo com os conjuntos atualmente empregados, contabilizando as nove semeadoras em operação, a potência total utilizada é de 1.570cv. A partir desse estudo foram sugeridos novos conjuntos operacionais e de acordo com os tratores disponíveis na propriedade. A sugestão de ajuste permitiu reduzir a potência para 1.542cv e, desta forma, proporcionar maior harmonia entre os respectivos conjuntos (Tabela 4). O saldo de potência ociosa que antes era de 109cv passou para 73cv com a nova conjugação.

CAPACIDADE REQUERIDA OU RITMO OPERACIONAL

É a capacidade de trabalho da máquina requerida para atender à demanda de trabalho, com base em um período de tempo (descontados os dias impróprios para o trabalho) e considerando a jornada de trabalho. Dela parte o método para a estimativa da largura de trabalho necessária para que uma máquina ou conjunto de máquinas atenda o ritmo operacional da propriedade. Na Tabela 5 estão descritas as máquinas selecionadas para atender, da melhor forma, o número de conjuntos operacionais necessários nas diversas operações da propriedade.

De acordo com os dados obtidos e demonstrados nesta tabela, pode-se constatar que a propriedade trabalha no limite de sua capacidade requerida das máquinas para o manejo fitossanitário (pulverização) na cultura da soja. No caso de aplicação de fungicidas na soja, o aumento da eficiência operacional no trabalho realizado pela máquina é necessário. Isso significa que a propriedade precisa buscar a redução das perdas de tempo que ocorrem durante as aplicações, como por exemplo, dos deslocamentos desnecessários das máquinas, reabastecimentos, entre outros. Neste sentido, a melhoria da eficiência pode ser alcançada pelo reabastecimento programado e organizado, utilizando caldas pré-misturadas transportadas até o local de aplicação, planejamento do tráfego da máquina através de uma organização antecipada, objetivando reduzir tempo e número de manobras e arremates.

Realizar a manutenção preventiva da máquina buscando evitar a corretiva, ampliar a jornada de trabalho com a possibilidade de operação no período noturno, onde se encontram condições favoráveis para aplicações com pulverizadores de barras. Por outro lado, cabe salientar que em caso de uma epidemia severa de ferrugem-asiática na soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi. Syd., as perdas decorrentes da limitação da capacidade podem compensar a aquisição de mais máquinas.

Dependendo do tipo e das características da máquina, além de aumentar a eficiência operacional existe a possibilidade do aumento da velocidade de trabalho. No entanto, essa característica depende muito da operação agrícola que está sendo executada, pois na semeadura, por exemplo, a elevação da velocidade de trabalho resulta em perdas da qualidade de semeadura. Para a pulverização, o aumento da velocidade requer a substituição das pontas do pulverizador, o ajuste da pressão e o volume de aplicação para manter o tamanho de gotas e a qualidade de aplicação. Destaca-se que em alguns pulverizadores essas configurações já são realizadas automaticamente conforme o aumento da velocidade de trabalho.

Este trabalho demonstra, também, que pode existir ociosidade de máquinas na propriedade rural. A Tabela 5 revela que para a operação de colheita existe uma sobra de, aproximadamente, 14 metros de largura corte (46 pés). Como recomendação o estudo possibilitou sugerir ao produtor que se desfaça de duas ou três colhedoras, sem comprometer o calendário de colheita, reduzindo, por outro lado, os custos da mecanização agrícola.

Considerações finais

Como visto neste artigo, o planejamento da mecanização agrícola pode auxiliar o produtor rural em diversas tomadas de decisões importantes para o aumento da rentabilidade da sua lavoura. Permite sugerir, com base em informações práticas, a aquisição ou a venda de determinada máquina ou implemento agrícola. Torna possível analisar a opção de terceirização de serviços em períodos de ociosidade de máquinas e mão de obra ou mesmo organizar e programar as manutenções das máquinas e a organização das férias dos trabalhadores. Enfim, planejar a mecanização agrícola auxilia na otimização do uso das máquinas de forma a torná-las mais eficientes e sustentáveis.

Gilvan Moisés Bertollo
UTFPR – Campus Santa Helena
Geomar Mateus Corassa
CCGL
José Fernando Schlosser
Valmir Werner
UFSM 

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