Bioanálise indica a memória do solo

A bioanálise do solo é uma nova visão do solo”, disse o pesquisador Júlio Cesar Salton, da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS), ao iniciar a Reunião Técnica com sobre o tema

24.01.2020 | 20:59 (UTC -3)
Sílvia Zoche Borges​

“As informações de análise química e física do solo não são suficientes para analisar a qualidade do solo. Para integrar esse processo, é importante a realização da análise biológica do solo, uma nova ferramenta de trabalho para que os produtores e técnicos possam utilizar as informações a favor do sistema de produção. A bioanálise do solo é uma nova visão do solo”, disse o pesquisador Júlio Cesar Salton, da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS), ao iniciar a Reunião Técnica com sobre o tema no estande da Embrapa no segundo dia de Showtec 2020 (23 de janeiro).

A pesquisadora da Embrapa Cerrados (Planaltina, DF), Iêda Mendes, explicou que a bioanálise veio depois da evolução dos sistemas de produção, como Integração Lavoura-Pecuária e Sistema Plantio Direto, que ativam a atividade biológica do solo. É uma metodologia desenvolvida pela Embrapa para diagnosticar a saúde do solo e ajuda na tomada de decisão para transformar um ambiente adverso em altamente produtivo.

Iêda explica que a análise biológica mostra porque áreas quimicamente semelhantes podem ser biologicamente diferentes. “As que possuem melhor biologia têm melhores resultados”. A bioanálise, associada às análises químicas e físicas, também deve ser realizada porque pode diagnosticar problemas assintomáticos do solo.

Na metodologia, estão definidos os valores de referência para avaliar a saúde biológica, o que vai ajudar na escolha correta de manejo.  “A bioanálise reflete tudo que foi feito anteriormente com ou sem SPD, ILP e consórcio, por exemplo. É como se tivesse a memória do solo. E as enzimas são os indicadores de toda a biologia do solo, que refletem gerações passadas de organismos que já estiveram presentes no solo”, explica a pesquisadora.

A coleta da amostra é realizada pós-colheita (mesmo período da coleta da análise química) e deve ser da camada de 0 cm a 10 cm. É a camada diagnóstica, que reflete o solo como um todo. “Com o diagnóstico, posso inferir o que está acontecendo na área mais profunda”, afirma. “Se o resultado mostrar níveis biológicos baixos e o produtor não adotar tecnologias adequadas, a situação do solo pode piorar”, alerta Iêda. “Atualmente, na maioria dos casos, o que falta é aplicar as tecnologias que já existem. Um solo biologicamente ativo armazena mais água, sequestra carbono, é tolerante a doenças, pragas e plantas daninhas”, diz Iêda.

 “Devemos olhar e pensar o solo como um super organismo (macro, meso e microrganismo) e cuidar dele como tal”, enfatiza. A pesquisadora disse que sete laboratórios já foram capacitados para realizarem a bioanálise do solo, e os nomes serão divulgados nesse primeiro semestre. Outros laboratórios também estão na lista para a capacitação.


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