Brasil integra ação internacional para combater a praga Drosophila suzukii

A suzuki é uma espécie nativa da Ásia e é apontada como uma das principais pragas em expansão mundial na atualidade; ela foi detectada em janeiro de 2014 pela primeira vez no Brasil

22.01.2016 | 21:59 (UTC -3)
Viviane Zanella

Uma pequena mosca que possui as asas manchadas, cientificamente conhecida como Drosophila suzukii (drosófila da asa manchada ou simplesmente suzuki ) foi a responsável por atrair e garantir a primeira ação do Programa americano Farmer to Farmer do Partners of the Americas no Brasil.

A suzuki é uma espécie nativa da Ásia e é apontada como uma das principais pragas em expansão mundial na atualidade. Ela foi detectada em janeiro de 2014 pela primeira vez no Brasil, causando danos na cultura do morangueiro, na cidade de Vacaria (RS). Na sequência, a espécie foi encontrada em diferentes estados produtores, o que tem gerado uma elevada preocupação devido ao potencial de causar prejuízos em diferentes frutas, como morango, framboesa, amora e mirtilo.

Segundo Régis Sivori Silva dos Santos, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho e coordenador das ações relacionadas a essa praga na instituição de pesquisa, a facilidade na expansão da suzuki ocorre pois as moscas depositam os ovos nas frutas próximo ao período de maturação, sem deixar danos aparentes. “Somente quando a larva se desenvolve, num período que varia de três a sete dias, é que os estragos aparecem, resultando no colapso da fruta e prejudicando a comercialização”, esclarece Santos.

Atualmente, diversos esforços de pesquisa estão sendo conduzidos pela Embrapa e entidades parceiras para minimizar os prejuízos causados pela drosófila no Brasil. O mais recente foi o apoio do programa Farmer to Farmer (http://vegaalliance.org/our-programs/farmer-to-farmer-program), estabelecido há 20 anos nos Estados Unidos. O Programa realiza intercâmbios para auxiliar tecnicamente outros países, levando consultores para atuarem em situações pontuais realizando atividades conjuntas de pesquisa e extensão. Segundo Richard Perritt, coordenador do Projeto para as Américas, a expansão e os danos ocasionados pela drosófila foram decisivos na escolha do Brasil e também na identificação da Dra. Hannah Burrack, do Departamento de Entomologia da Universidade do Estado da Carolina do Norte para vir ao Brasil, para auxiliar a equipe brasileira a definir ações de pesquisas visando o manejo da praga.

Durante sua estada no Brasil, no mês de dezembro, em parceria com a Emater- RS / Ascar, ela visitou importantes áreas produtoras de frutas nos municípios gaúchos de Bento Gonçalves, Bom Princípio, Caxias do Sul, Feliz e Vacaria; e palestrou em dois Seminários Técnico sobre o manejo e o controle de Drosophila suzukii, nas cidades de Bento Gonçalves (RS) e Vacaria (RS). A pesquisadora explicou as medidas adotadas para o manejo da praga nos E stados Unidos e discutiu quais as alternativas que podem ser empregadas pelos agricultores brasileiros.

Dentre as principais medidas indicadas pela pesquisadora Hannah estão o reforço na identificação da presença da praga na propriedade, realizando a amostragem das frutas com o uso de solução salina (vídeo no final da matéria) e o manejo preventivo, com o controle cultural, colheitas frequentes e o saneamento da propriedade.

“A tolerância com a ocorrência da drosófila em frutas frescas nos Estados Unidos pode ser zero, dependendo da finalida de de venda. Se uma única larva for detectada, todas as frutas daquele produtor poderão ser rejeitadas pelos compradores”, comentou Hannah.

O apoio do Programa Farmer to Farmer será fundamental para um reforço nas ações que já vem sendo conduzidas pela Embrapa, como o recém aprovado projeto com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa no Rio Grande do Sul (Fapergs). “Iremos mapear as principais regiões produtoras de morango no Rio Grande do Sul, monitorar a ocorrência da praga e seus hábitos'”, informa Santos. Com este mapeamento será possível, por exemplo, determinar quais as épocas e os horários a suzuki está mais ativa. Com isso, o pesquisador visa fazer um uso mais eficiente dos produtos, com aplicações precisas e proteção ao meio ambiente.

Outra ação que também está sendo articulada pela Embrapa é a avaliação e articulação para agilizar o registro de produtos para a cultura. “Com base nas experiências de outros países que já sofreram com a suzuki, os danos podem ser de perda total”, comenta. Ele cita que não existe um dado geral das perdas no Estado pela praga, mas que muitas propriedades já registram 30% de perdas e que se medidas não forem tomadas esse prejuízo poderá inviabilizar a ser de 100%.

Segundo o pesquisador Marcos Botton, articulador Internacional da Embrapa Uva e Vinho, a união de especialistas internacionais para combater a drosófila da asa manchada é fundamental para reduzir os prejuízos causados pela praga, além de manter a viabilidade das pequenas propriedades produtoras de frutos hospedeiros da praga.

O trabalho realizado em parceria com o Programa Farmer to Farmer e algumas ações inovadoras, como a utilização do fungo Boveria no seu combate, garantiram o convite a participação do pesquisador Santos, primeiro especialista da América Latina a integrar o grupo internacional de combate à Drosophila suzukii.

No segundo semestre de 2016, haverá a segunda etapa do Programa Farmer to Farmer no Brasil, no qual serão avaliados os avanços no manejo da praga no Sul do Brasil depois da consultoria inicial.

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