Como evitar perdas em colheitas mecanizadas

Velocidade da colhedora e umidade dos grãos são dois fatores importantes que devem ser considerados durante a colheita para minimizar perdas desnecessárias.

06.08.2020 | 20:59 (UTC -3)
Revista Cultivar

Dentro do processo produtivo da soja, a colheita é uma das atividades mais importantes, uma vez que se refere à última etapa anterior à comercialização dos grãos e se realizada de maneira incorreta pode provocar perdas significativas, o que impacta diretamente no lucro final dos produtores. Apesar da alta tecnologia empregada nas colhedoras, em muitas propriedades, as perdas de grãos geradas durante colheita têm ultrapassado o limite tolerável para a cultura da soja, que é de uma saca por hectare.

As perdas na colheita mecanizada de soja ocorrem por fatores relacionados à cultura e à colhedora. Em relação à cultura, podem-se citar umidade dos grãos, deiscência das vagens, semeadura inadequada, presença de plantas daninhas e mau desenvolvimento da cultura. Já os fatores relacionados à máquina incluem velocidade do molinete, altura da barra de corte, rotação do cilindro trilhador, abertura entre o cilindro e o côncavo e velocidade de deslocamento da máquina.

Dentre os fatores responsáveis por provocar perdas dentro do processo de colheita da soja, a umidade dos grãos e a velocidade de deslocamento da colhedora merecem atenção especial. Grãos colhidos com teor de água acima de 15% estão sujeitos a perdas nos mecanismos internos da máquina, uma vez que a alta umidade dificulta o trabalho do sistema de trilha. Por outro lado, se a colheita ocorre no momento em que os grãos estão com umidade inferior a 13%, tem-se a ocorrência de danos imediatos (quebras) e perdas na plataforma de corte.

Monitoramento das perdas com a máquina em processo de colheita
Monitoramento das perdas com a máquina em processo de colheita

Em relação à velocidade, os limites recomendados para a colheita da soja variam de 4km/h a 7km/h, e quando não respeitados tem-se a ocorrência de perdas significativas. A determinação da velocidade de trabalho correta deve ser feita com base na produtividade da cultura e na capacidade admissível da colhedora de processar todo o material colhido.

Diante desse contexto, pesquisadores do Instituto Federal Goiano – Campus Ceres avaliaram as perdas na colheita mecanizada de soja em função de três velocidades de deslocamento da colhedora (4km/h, 5km/h e 6km/h) e três umidades dos grãos (13%, 15% e 17%). Adotou-se o delineamento inteiramente casualizado em esquema fatorial, com seis repetições para cada tratamento.

Coleta dos grãos perdidos após a passagem da máquina
Coleta dos grãos perdidos após a passagem da máquina

A pesquisa foi realizada no mês de fevereiro de 2018 em uma fazenda produtora de grãos localizada no município de Itapaci (GO). Na área foi semeada a variedade de soja Brasmax Desafio, tendo essa sido implantada no espaçamento de 0,50m entre linhas, com um estande final de aproximadamente 350 mil plantas por hectare. A colhedora utilizada para a colheita é da marca John Deere, Modelo S 540, com plataforma do tipo convencional de 25 pés (7,62m) e sistema de trilha axial. A máquina operou em segunda marcha, rotação do ventilador de 540rpm, rotação do molinete de 35rpm, velocidade do cilindro trilha de 570n min-1, côncavo com 20mm e peneiras superior e inferior respectivamente com 22mm e 13mm.

Durante a colheita foram quantificadas as perdas naturais, por deficiência de altura de corte, da plataforma de corte, dos mecanismos internos e totais. As perdas naturais foram determinadas antes do início da colheita utilizando uma armação retangular de 2m² com o mesmo comprimento da plataforma da colhedora. Foram amostrados vários pontos ao longo da área, sendo que em cada um desses, a armação era colocada entre as plantas e todos os grãos que estavam caídos ao chão coletados.

 Peneiras utilizadas para determinar as perdas na plataforma e nos mecanismos internos
Peneiras utilizadas para determinar as perdas na plataforma e nos mecanismos internos

Para determinar as perdas na plataforma e nos mecanismos internos, utilizou-se um conjunto de peneiras com área útil conhecida, sendo que em cada ponto amostrado eram arremessadas três peneiras debaixo da máquina, estando essa em processo de colheita. Os grãos caídos sob a peneira correspondem às perdas internas, enquanto que os grãos que ficaram debaixo da peneira, descontando-se as perdas naturais, referem-se às perdas da plataforma. As perdas por deficiência de altura de corte foram obtidas coletando-se as vagens que estavam presas em partes remanescentes de caule ou resteva que não foram colhidas pela máquina. As perdas totais foram determinadas fazendo-se o somatório das outras perdas quantificadas anteriormente.

Em relação aos resultados obtidos, não houve a ocorrência de perdas naturais, evento esse que está associado à variedade de soja analisada que apresenta uma menor suscetibilidade à deiscência natural das vagens. A debulha natural é uma característica que está intimamente relacionada à variedade de soja cultivada, existindo algumas mais suscetíveis que outras. Esse aspecto torna-se ainda mais relevante quando há o retardamento da colheita, uma vez que a ação dos fatores climáticos, como alta temperatura e umidade, tende a contribuir para o processo de deiscência das vagens.

Para as perdas por deficiência de altura de corte (Figura 1), os piores resultados foram obtidos com a colheita sendo realizada na umidade de 17% (10,17kg/ha). Já em relação às diferentes velocidades, pouco influenciaram na ocorrência desse tipo de perda. A ocorrência de perdas por altura de corte é uma fator que está intimamente relacionado com a topografia da área, bem como com a altura de inserção da primeira vagem. Variedades de soja que tem como característica baixa altura de inserção da primeira vagem tendem a contribuir para a ocorrência desse tipo de perda. No presente ensaio, a altura média de inserção da primeira vagem das plantas foi de 0,14m, valor esse que é considerado bom para a colheita mecanizada da soja.

Figura 1 - Perdas por altura de corte para colheita mecanizada de soja sob diferentes umidades dos grãos e velocidades de deslocamento da colhedora
Figura 1 - Perdas por altura de corte para colheita mecanizada de soja sob diferentes umidades dos grãos e velocidades de deslocamento da colhedora

Figura 1 - Perdas por altura de corte para colheita mecanizada de soja sob diferentes umidades dos grãos e velocidades de deslocamento da colhedora
Figura 1 - Perdas por altura de corte para colheita mecanizada de soja sob diferentes umidades dos grãos e velocidades de deslocamento da colhedora

Na Figura 2, observa-se que os maiores valores de perdas na plataforma de corte (PP) foram encontrados na umidade de 17% (38,35kg/ha), podendo esse resultado ser explicado pelo alto conteúdo de água da massa vegetal que dificulta o corte das plantas. Para as velocidades testadas, verifica-se que a maior PP foi obtida com a velocidade de 4km/h, estando esse resultado associado à velocidade de rotação do molinete, que estava excessiva para a velocidade supracitada. A rotação do molinete deve ser de 15% a 20% acima da velocidade de deslocamento da colhedora, sendo que rotações acima desse limite provocam abertura das vagens quando as barras transversais do molinete atingem a planta.

Figura 2 - Perdas na plataforma de corte para colheita mecanizada de soja sob diferentes umidades dos grãos e velocidades de deslocamento da colhedora
Figura 2 - Perdas na plataforma de corte para colheita mecanizada de soja sob diferentes umidades dos grãos e velocidades de deslocamento da colhedora

Figura 2 - Perdas na plataforma de corte para colheita mecanizada de soja sob diferentes umidades dos grãos e velocidades de deslocamento da colhedora
Figura 2 - Perdas na plataforma de corte para colheita mecanizada de soja sob diferentes umidades dos grãos e velocidades de deslocamento da colhedora

Nas perdas internas (PI) (Figura 3), verifica-se que à medida que houve o incremento do teor de água dos grãos, os valores de PI tenderam a aumentar. Isso mostra que em condições de maior umidade, tem-se o aumento da resistência à desagregação entre a massa vegetal e os grãos no sistema de separação e limpeza, e em função disso, a debulha das vagens torna-se mais difícil, ocorrendo assim elevação das perdas.

Figura 3 - Perdas internas para colheita mecanizada de soja sob diferentes umidades dos grãos e velocidades de deslocamento da colhedora
Figura 3 - Perdas internas para colheita mecanizada de soja sob diferentes umidades dos grãos e velocidades de deslocamento da colhedora

Figura 3 - Perdas internas para colheita mecanizada de soja sob diferentes umidades dos grãos e velocidades de deslocamento da colhedora
Figura 3 - Perdas internas para colheita mecanizada de soja sob diferentes umidades dos grãos e velocidades de deslocamento da colhedora

Em relação às velocidades, observa-se o mesmo comportamento apresentado anteriormente, em que as perdas internas se elevaram com o aumento da velocidade. Esse fato está associado com a taxa de alimentação da máquina, que com a elevação da velocidade tende a aumentar e, por conseguinte pode comprometer a capacidade operacional do sistema de separação e limpeza, que não consegue processar toda a massa vegetal quando há um grande fluxo de material.

Nas perdas totais (PT), como mostra a Figura 4, a umidade influenciou significativamente, tendo a umidade de 17% proporcionado uma perda média de 64,87kg/ha, valor esse que está acima do limite tolerável para a cultura da soja (60kg/ha). As outras umidades analisadas proporcionaram valores de PT dentro do limite aceitável. Fazendo um comparativo em relação à produtividade da cultura, que foi de 5.454kg/ha, as umidades de 13%, 15% e 17% proporcionaram uma perda total que corresponde respectivamente a 0,71%, 0,78% e 1,18% da produtividade obtida.

Figura 4 - Perdas totais para colheita mecanizada de soja sob diferentes umidades dos grãos e velocidades de deslocamento da colhedora
Figura 4 - Perdas totais para colheita mecanizada de soja sob diferentes umidades dos grãos e velocidades de deslocamento da colhedora

Figura 4 - Perdas totais para colheita mecanizada de soja sob diferentes umidades dos grãos e velocidades de deslocamento da colhedora
Figura 4 - Perdas totais para colheita mecanizada de soja sob diferentes umidades dos grãos e velocidades de deslocamento da colhedora

Outro fato importante é que a diferença entre a menor e a maior perda média de grãos foi de 26kg/ha, resultado esse que demonstra que é muito importante a atenção do produtor para a umidade dos grãos durante a operação de colheita ao longo do dia, sendo uma estratégia para minimizar as perdas a adoção de uma regulagem para cada período do dia, já que a umidade varia continuamente, tendendo essa a estar mais alta pela manhã e mais baixa no período da tarde.

Em relação às velocidades, todos os valores de perdas obtidos situaram-se bem próximos e dentro do limite tolerável para a cultura da soja, na ordem de 0,93%, 0,83% e 0,92%, respectivamente para 4km/h, 5km/h e 6km/h em relação à produtividade. De maneira geral, as diferentes velocidades não exerceram muita influência nas perdas totais, estando esse resultado associado à colhedora, que conta com um sistema de trilha axial, o que possibilita operações em maiores velocidades.

As perdas totais foram pouco influenciadas pelas perdas por altura de corte, sendo o maior percentual de contribuição oriundo das perdas na plataforma, que representaram de 51% a 75% da PT. Esse resultado é um indicativo de que é necessário atentar-se às regulagens da plataforma de corte, principalmente ao posicionamento do molinete em relação à barra de corte e à velocidade periférica do molinete.

As perdas na colheita mecanizada de soja podem ser minimizadas com simples ajustes realizados na máquina e o passo principal para isso é monitoramento frequente das perdas durante o processo de colheita. Com base nas condições em que foi feita a pesquisa, a colheita da soja pode ser realizada com os grãos apresentando umidade de 15% e a colhedora operando a 6km/h, proporcionando, dessa forma, bom rendimento operacional e redução do tempo de permanência da cultura no campo.

Autores falam sobre a importância de verificar a velocidade da colhedora e a umidade dos grãos para evitar perdas desnecessárias na hora da colheita
Autores falam sobre a importância de verificar a velocidade da colhedora e a umidade dos grãos para evitar perdas desnecessárias na hora da colheita

Walter José Pereira Filho, Ariel Muncio Compagnon, Rayan Fernandes Naves, Felipe José Barbosa Franco e Luíla Macêdo Lemes, Instituto Federal Goiano – Campus Ceres

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