Como fazer a escolha correta de fertilizantes

O que levar em consideração ao escolher fertilizante e como qualidade do produto impacta em problemas de segregação, variação da dose e da fórmula no sulco

15.12.2020 | 20:59 (UTC -3)
Cultivar Grandes Culturas

O tema qualidade de fertilizante, apesar da importância, ainda é pouco abordado. Todo ano é comum produtores perguntarem pela qualidade de sementes, sobre quanto o material produziu, com o objetivo de realizar as compras do ano seguinte. Mas infelizmente o mesmo critério não é adotado em relação à qualidade de fertilizantes.

No Brasil, boa parte das empresas de fertilizantes é apenas misturadora de grânulos, que elabora as formulações. A produção interna de matérias-primas tem sido insuficiente para atender à demanda, o que resulta no aumento das importações dos macronutrientes nitrogênio, fósforo e potássio, que constituem os três grupos de materiais de fertilizantes presentes na composição do enxofre, da amônia, da rocha fosfática e rocha potássica.

De acordo com a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), em 2019 foram consumidos aproximadamente 36,3 milhões de toneladas de fertilizantes no Brasil, um aumento de 2,25% em relação ao ano de 2018.

Você costuma dosar a quantidade de adubo com base na intepretação da análise de solos? Ou acaba comprando o mesmo adubo que o vizinho? Ou, ainda, o mais barato? Saiba que adubação em excesso ou insuficiente pode acarretar complicações.

As adubações em excesso podem causar custos desnecessários, desenvolvimento anormal da planta, toxidez, salinidade, redução na absorção de outros nutrientes devido ao acúmulo de outro, crescimento excessivo, ou seja, acamamento, dificultando a colheita.

Já as adubações insuficientes, bem como menores quantidades dosadas, ocasionam falhas na germinação, desuniformidade de plantas, que ficam mais suscetíveis à entrada de doenças e pragas, plantas de porte menor, deficiências de nutrientes e, consequentemente, queda na produtividade.

Qualidade dos fertilizantes

Infelizmente, alguns fertilizantes nacionais são de péssima qualidade. Basta olhar para o fertilizante e avaliar os tamanhos dos grânulos. Primeiramente, há diferentes nutrientes, cada um com tamanho e formato diverso (Box).

A falta de padrão de tamanho pode acarretar problemas, como segregação, variação da dose e variação da fórmula no sulco.

Segregação é a separação dos grãos, que em algumas unidades beneficiadoras pode ser feita pela mesa densimétrica, pelo movimento vibratório em uma mesa que tem cada canto de suas pontas em uma altura diferente. Dessa forma, irá separar os grãos por tamanho, pois cada um tem um peso, que na vibração tenderá a se separar. Isso irá ocorrer também na semeadora, claro que não na mesma intensidade de vibração do exemplo fornecido. Mas esta ação irá resultar na alteração da fórmula que está caindo no sulco, ou seja, se planejei e regulei 250kg/ha de dose, esta dosagem não estará com a quantidade de N-P-K que deveria ter.

A variação da dose precisa levar em conta que os dosadores já variam acima de 20% no campo. Dependendo do modelo, alguns oscilam de 50% a até 75%. Fator que resta agravado por esta variação no tamanho dos grânulos e no seu formato. Para verificar este exemplo na prática, basta ir até a semeadora com algumas sacolas e coletar fertilizante a cada 10m. Faça três coletas e após compare as amostras.

Figura 1 - Índice de dispersão granulométrica ou de partículas (GSI)
Figura 1 - Índice de dispersão granulométrica ou de partículas (GSI)

Em função da segregação, esta separação dos grânulos irá repercutir na alteração da fórmula inicial, pois os grânulos mais pesados tenderão a ir para o fundo da caixa, assim, dosando mais um nutriente do que outro e resultando na variação da fórmula no sulco. Além disso, há inúmeras causas que afetam a dose do fertilizante, como densidade, umidade, dureza, dosagem, tipo de dosador, perfil e tamanho da rosca, inclinação do terreno e velocidade de deslocamento.

Embora existam regulamentações a serem seguidas (Instrução Normativa n° 39, de 2018), o fertilizante não é avaliado, em virtude de uma grande infraestrutura governamental necessária e não disponível. Entretanto, há um parâmetro utilizado para controle de qualidade, o índice de dispersão granulométrica ou de partículas (GSI), que fornece quanto o fertilizante irá segregar, ou seja, a separação e acomodação seletiva das partículas por ordem de tamanho, com a movimentação e a trepidação do produto (separação dos grânulos).

A baixa segregação irá resultar em alta uniformidade de aplicação. Já a média, em média uniformidade de aplicação, e a alta segregação fornecerá uma baixa uniformidade de aplicação. Um trabalho realizado no Nesma, com avaliação de cinco fertilizantes utilizados no Rio Grande do Sul, chegou aos resultados observados na Tabela 1 e na Figura 2.

Figura 2 - Índice de dispersão de partícula (GSI) e coeficiente de variação (CV) da distribuição linear dos fertilizantes
Figura 2 - Índice de dispersão de partícula (GSI) e coeficiente de variação (CV) da distribuição linear dos fertilizantes

Conclui-se que nenhum dos fertilizantes testados apresentou um índice de dispersão granulométrica considerado baixo, apenas os fertilizantes D e E demonstraram média segregação e uniformidade de aplicação. Já os demais apresentaram alta segregação. Isso significa que ocorrerá uma desuniformidade na aplicação de fertilizantes, devido à separação dos grânulos na própria “caixa de adubo na plantadeira”. Isso irá resultar na má distribuição dos nutrientes, ocasionando manchas com deficiências de alguns elementos na lavoura.

A granulometria do elemento fósforo da fórmula 02-23-23 (Fertilizante D) apontou um coeficiente de variação de 58,60%. Se isso já ocorreu apenas com a presença do fósforo, quando forem adicionados o nitrogênio e o potássio, que também possuem uma granulometria diferenciada no seu tamanho, a tendência é de que haja ainda mais segregação quando juntar toda essa variação de granulometria na caixa da semeadora ao dosar.

Box – Dica do Nesma

Agora fica a dúvida, qual comprar, algumas dicas que passamos é:

Rosa, Girardi e Conte explicam características dos fertilizantes
Rosa, Girardi e Conte explicam características dos fertilizantes

David Peres da Rosa, Junior Girardi e Paulo Henrique Conte, IFRS Campus Sertão, Nesma

Cultivar Grandes Culturas Outubro 2020

A cada nova edição, a Cultivar Grandes Culturas divulga uma série de conteúdos técnicos produzidos por pesquisadores renomados de todo o Brasil, que abordam as principais dificuldades e desafios encontrados no campo pelos produtores rurais. Através de pesquisas focadas no controle das principais pragas e doenças do cultivo de grandes culturas, a Revista auxilia o agricultor na busca por soluções de manejo que incrementem sua rentabilidade. 

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