Como realizar o controle eficiente da mosca-branca em soja

Como controlar de modo eficiente populações de adultos e ninfas da mosca-branca (Bemisia tabaci), praga que exige manejo rigoroso e a aplicação de inseticidas para a diminuição da população do inseto

27.08.2020 | 20:59 (UTC -3)
Revista Cultivar

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA/2019) estimou que a produção de soja (Glycine max) no mundo foi de 362,075 milhões de toneladas, para uma área plantada de 125,691 milhões de hectares. O Brasil é um grande responsável pela produção desta oleaginosa juntamente com os Estados Unidos. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab/2019), o Brasil produziu 114,843 milhões de toneladas na safra 2018-2019, o que resultou em uma média produtiva de 3.206kg/ha.

A cultura da soja está sujeita a ataques de pragas e patógenos em geral desde o momento em que é semeada, podendo ser afetada por pragas de solo, e mesmo pelas da parte aérea após sua emergência, insetos mastigadores ou sugadores, e por outros patógenos como fungos, vírus e bactérias, que podem afetar o potencial produtivo da cultura. A mosca-branca Bemisia tabaci biótipo B (Gennadius, 1889) (Hemiptera: Aleyrodidae) é um inseto cosmopolita que pode se alimentar de mais de 600 espécies de plantas (Oliveira et al., 2001).

Bemisia tabaci ocasiona danos diretos às plantas, pois se alimenta diretamente no floema debilitando a planta, além de provocar danos indiretos que ocorrem por meio da excreção açucarada honeydew ou “mela”, favorecendo o fungo Capnodium (fumagina), que impede trocas gasosas pelas folhas, diminuindo a produção (Lima 2001). Além dos danos diretos causados à cultura, a mosca-branca é vetor de inúmeras espécies de vírus, podendo provocar prejuízos indiretos ao inocular estirpes de vírus nas plantas caso o inseto esteja contaminado. Por possuir fácil adaptabilidade a novas espécies de plantas e diversidade de hospedeiros, aliadas ao clima tropical, a mosca-branca atingiu alto nível de propagação em regiões produtoras agrícolas no Brasil, tornando-se uma praga importante e de difícil controle (Quintela, 2013).

Figura 1 - Exemplificação de um adulto de Bemisia tabaci
Figura 1 - Exemplificação de um adulto de Bemisia tabaci

Neste contexto objetivou-se realizar um estudo de controle da população de Bemisia tabaci utilizando inseticidas comerciais de diferentes ingredientes ativos em início de infestação da cultura da soja.

O estudo foi realizado na estação experimental da MRE Agropesquisa, localizada na zona rural do município de Rio Verde, Goiás, com coordenadas geográficas de 51º09’01,9”W e 17º55’17,6”S com altitude (NMM) de 756m. Utilizou-se a variedade M7739 IPRO, semeada em sistema direto com espaçamento de 0,5m entre linhas e uma população de 14 plantas por metro linear. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, com cinco tratamentos e quatro repetições. As parcelas foram compostas por 9m de largura por 10m de comprimento, perfazendo um total de 90m² por unidade experimental. Os tratamentos foram compostos por tiametoxam + lambda-cialotrina [mistura comercial (300ml/ha)], piriproxifem (250ml/ha), acetamiprido + piriproxifem [mistura comercial (250ml/ha)], ciantraniliprole (500ml/ha) e controle (sem aplicação de inseticida), as doses são de produto comercial, outros manejos fitossanitários foram semelhantes para todos os tratamentos.

Figura 2 - Ilustração de adultos na face adaxial da planta (esquerda) e visão de ninfas de Bemisia tabaci (direita) em visão pela lupa binocular estereoscópica com aumento de 20 vezes
Figura 2 - Ilustração de adultos na face adaxial da planta (esquerda) e visão de ninfas de Bemisia tabaci (direita) em visão pela lupa binocular estereoscópica com aumento de 20 vezes

A aplicação dos tratamentos inseticidas foi realizada no início da infestação da mosca-branca (Bemisia tabaci), com pulverizador costal pressurizado a CO2, provido de barra de pulverização contendo seis pontas espaçadas com 0,50m, jato duplo tipo cone vazio TXA 80015, garantindo pressão constante de trabalho (30 PSI), com volume de calda proporcional a 150L/ha. A pulverização ocorreu a 0,5m do alvo, proporcionando cobertura homogênea da folhagem. Foram realizadas duas aplicações com intervalo de sete dias (Tabela 1).

Foi avaliada a população de insetos (adultos e ninfas). Os insetos adultos foram avaliados em dez folíolos aleatórios na área útil da unidade experimental, realizou-se uma avaliação prévia (um dia antes da aplicação dos tratamentos), e avaliações pós-aplicação foram efetuadas aos um, três e sete dias após a 1ª aplicação (DA1A), e aos um, três e sete dias depois da 2ª aplicação (DA2A). As avaliações de ninfas foram realizadas de modo prévio (antecedendo a aplicação dos inseticidas) e aos três e sete dias após a 1ª aplicação (DA1A), e aos três, sete e 14 dias depois da 2ª aplicação (DA2A). As avaliações do número de ninfas foram realizadas com a coleta dos folíolos a campo, levados ao laboratório de entomologia da MRE Agropesquisa, e com o auxílio de uma lupa binocular estereoscópica com aumento de 20 vezes realizou-se a contagem das ninfas em uma área total de 2cm²/folíolo. Ao final do ciclo da cultura realizou-se a colheita da soja e feita correção da umidade dos grãos para 13%. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância pelo teste de F (p<0,05) e comparados pelo teste de médias de Tukey (p<0,05), utilizando o software SASM – Agri (Canteri et al., 2001).

RESULTADOS

Na Tabela 2 observam-se os resultados da população de adultos e de ninfas de mosca-branca antes da aplicação e após a primeira e segunda aplicações, assim como os valores de produtividade da cultura da soja em sacas por hectare.

As avaliações prévias demonstram estabilidade entre o número de indivíduos por folíolo amostrado tanto para adultos quanto para ninfas em início de pressão exercida pela praga na lavoura. Para as avaliações de adulto após a primeira aplicação (DA1A) é possível observar que os tratamentos compostos com os ingredientes ativos, mistura comercial de tiametoxam + lambda-cialotrina (300ml/ha), a mistura comercial de acetamiprido + piriproxifem (250ml/ha) e ciantraniliprole (500ml/ha) obtiveram a maior eficiência de controle um dia após a aplicação, destacando-se o tratamento que continha a mistura comercial de acetamiprido + piriproxifem (250ml/ha), que aos três dias após a 1ª aplicação continuou com a melhor porcentagem de eficácia no controle do adulto de Bemisia tabaci (Figura 3). Para a avaliação aos 7 DA1A, a população de adulto nos folíolos se estabilizou para todos os tratamentos, não havendo diferença estatística significativa.

Figura 3 - Eficiência no controle de adultos de Bemisia tabaci em dias após a 1ª aplicação (DA1A), um, três e sete dias, respectivamente. Rio Verde - GO, safra 2018-2019
Figura 3 - Eficiência no controle de adultos de Bemisia tabaci em dias após a 1ª aplicação (DA1A), um, três e sete dias, respectivamente. Rio Verde - GO, safra 2018-2019

Figura 3 - Eficiência no controle de adultos de Bemisia tabaci em dias após a 1ª aplicação (DA1A), um, três e sete dias, respectivamente. Rio Verde - GO, safra 2018-2019
Figura 3 - Eficiência no controle de adultos de Bemisia tabaci em dias após a 1ª aplicação (DA1A), um, três e sete dias, respectivamente. Rio Verde - GO, safra 2018-2019

Figura 3 - Eficiência no controle de adultos de Bemisia tabaci em dias após a 1ª aplicação (DA1A), um, três e sete dias, respectivamente. Rio Verde - GO, safra 2018-2019
Figura 3 - Eficiência no controle de adultos de Bemisia tabaci em dias após a 1ª aplicação (DA1A), um, três e sete dias, respectivamente. Rio Verde - GO, safra 2018-2019

Após a segunda aplicação (DA2A), é possível observar um destaque na eficiência de controle dos adultos de mosca-branca para os tratamentos de mistura comercial de acetamiprido + piriproxifem (250ml/ha) e ciantraniliprole (500ml/ha) que obtiveram os melhores níveis de controle para as avalições de 1 e 3 DA2A, e mesmo na avaliação de 7 DA2A (Figura 4), onde não há diferença estatística entre os tratamentos do estudo, é possível verificar que para estes dois tratamentos citados anteriormente a média de indivíduos adultos por folíolo foi menor.

Figura 4 - Eficiência no controle de adultos de Bemisia tabaci em dias após a 2ª aplicação (DA2A), um, três e sete dias, respectivamente. Rio Verde - GO, safra 2018-2019
Figura 4 - Eficiência no controle de adultos de Bemisia tabaci em dias após a 2ª aplicação (DA2A), um, três e sete dias, respectivamente. Rio Verde - GO, safra 2018-2019

As ninfas foram avaliadas em laboratório após colheita dos folíolos em campo. As avaliações de três e sete dias após primeira aplicação (DA1A) demonstraram que todos os inseticidas aplicados reduziram a população de ninfas, com destaque para a mistura comercial de acetamiprido + piriproxifem (250ml/ha) e ciantraniliprole (500ml/ha) que reduziram drasticamente a população de ninfas nos folíolos da planta de soja, obtendo maior eficiência de controle (Figura 5).

Figura 5 - Eficiência no controle de ninfas de Bemisia tabaci em dias após a 1ª aplicação (DA1A), três e sete dias, respectivamente. Rio Verde - GO, safra 2018-19
Figura 5 - Eficiência no controle de ninfas de Bemisia tabaci em dias após a 1ª aplicação (DA1A), três e sete dias, respectivamente. Rio Verde - GO, safra 2018-19

Após a aplicação sequencial, sete dias depois da primeira aplicação, observou-se uma redução drástica aos três, sete e 14 dias após a segunda aplicação (DA2A) da população de ninfas nos folíolos avaliados, destacando-se os tratamentos inseticidas com ingredientes ativos piriproxifem (250ml/ha), a mistura comercial de acetamiprido + piriproxifem (250ml/ha) e ciantraniliprole (500ml/ha), que mantiveram uma eficácia de controle até os 14 DA2A, como mostra a Figura 6.

Figura 6 - Eficiência no controle de ninfas de Bemisia tabaci em dias após a 2ª aplicação (DA2A), três, sete e 14 dias, respectivamente. Rio Verde - GO, safra 2018-2019
Figura 6 - Eficiência no controle de ninfas de Bemisia tabaci em dias após a 2ª aplicação (DA2A), três, sete e 14 dias, respectivamente. Rio Verde - GO, safra 2018-2019

A colheita da soja foi realizada quando as plantas estavam em final de estádio fenológico. Após a colheita, os grãos tiveram umidade corrigida para 13%, e foi possível observar, tanto na Tabela 2 quanto na Figura 7, que todos os tratamentos que tiveram inseticidas aplicadas resultaram em aumento de produtividade da soja quando comparados ao tratamento controle, onde não houve aplicação do inseticida. Os tratamentos contendo a mistura comercial de acetamiprido + piriproxifem (250ml/ha) e ciantraniliprole (500ml/ha) proporcionaram a maior produtividade da oleaginosa com 60 sacas/ha e 58 sacas/ha, respectivamente, demonstrando que a eficiência destes produtos sobre as populações de adultos e ninfas de Bemisia tabaci foi fundamental para a sanidade da lavoura e incrementar valor produtivo sobre a área que não teve controle da praga.

Figura 7 - Produtividade da soja em sacas por hectare. Rio Verde - GO, safra 2018-2019
Figura 7 - Produtividade da soja em sacas por hectare. Rio Verde - GO, safra 2018-2019

Os pesquisadores registraram as faces superiores e inferiores de folíolos da soja 21 dias após a segunda aplicação (Figura 8), sendo possível observar a sanidade das plantas independentemente da face, nos tratamentos inseticidas com ingredientes ativos piriproxifem (250ml/ha), a mistura comercial de acetamiprido + piriproxifem (250ml/ha) e ciantraniliprole (500ml/ha), representando visualmente os dados analíticos expressos na Tabela 1 e figuras de controle e produtividade já apresentadas.

Figura 8 - Face adaxial (parte superior) e face abaxial (parte inferior) das folhas de Glycine max, 21 dias após a segunda aplicação. Rio Verde - GO, safra 2018-2019
Figura 8 - Face adaxial (parte superior) e face abaxial (parte inferior) das folhas de Glycine max, 21 dias após a segunda aplicação. Rio Verde - GO, safra 2018-2019

Os adultos de Bemisia tabaci depositam seus ovos na folha, e quando as ninfas eclodem começam a se alimentar de fotoassimilados das plantas, causando prejuízo direto à cultura. Ao se alimentar, excretam substâncias. Este melaço excretado pelas ninfas se torna substrato para o desenvolvimento de fumagina nas folhas e nos frutos.

O controle das populações de Bemisia tabaci com aplicação sequencial de inseticida se faz necessário para a diminuição da população do inseto e a preservação da sanidade da lavoura de soja.

Estevão Rodrigues, Raphael Neumaister, MRE Agropesquisa, Fernando Rezende Corrêa, UniBras; Corrêa Weed Science, Nelmício Furtado da Silva, UniBras, AgirTec; Paulo Afonso Betinelli, Wendson Soares da Silva Cavalcante, Bruna Guimarães da Silva, Daniele Ferreira Ribeiro, UniBras

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