Comportamento ambiental de defensivos na tomada de decisão da lavoura de cana

​Evento reuniu técnicos para conhecer aspectos do comportamento ambiental de agroquímicos, controle biológico de cigarrinha-da raiz, entre outros temas.

03.08.2017 | 20:59 (UTC -3)
Christiane Congro Comas

Mato Grosso do Sul conta com uma área total de 800 mil hectares cultivado com cana-de-açúcar. O setor sucroalcooleiro estadual investe bastante em prevenção e controle das pragas e doenças das lavouras, pois os prejuízos podem ser muito grandes, caso os aspectos relacionados ao manejo de pragas e doenças nas lavouras de cana-de-açúcar não sejam observados e executados. “O controle de pragas e doenças é um tema de fundamental importância para os envolvidos no setor", destaca o gerente da Biosul, Erico Paredes.

Para conhecer detalhes da pesquisa sobre pragas e doenças da cana-de-açúcar e debater sobre esse assunto, cerca de 135 técnicos de usinas de cana-de-açúcar da região Sul de Mato Grosso do Sul compareceram, na quarta, 2 de agosto, na terceiro Seminário Agrícola, intitulado". Esta programação faz parte da Ciclo de Seminários Agrícolas. A realização é da Associação dos Produtores de Bioenergia do Mato Grosso do Sul (Biosul) e da Embrapa Agropecuária Oeste, a organização é da TCH Gestão Agrícola.

O consultor de gestão agrícola para produção de cana-de-açúcar da TCH, José Trevelin Junior, destaca a importância do evento para os profissionais das usinas estaduais, em que estão reunidas as principais demandas dos técnicos da usinas do Centro Sul do Estado. “Já estamos no terceiro ano consecutivo de realização desse evento, o que respalda sua importância. Hoje, por exemplo, temos a presença nessa edição do evento de técnicos de 70% das cerca de 20 usinas existentes no Centro Sul do Mato Grosso do Sul", finalizou ele.

Comportamento ambiental de agroquímicos deve ser considerado na tomada de decisão

O comportamento ambiental dos agroquímicos na cultura da cana-de-açúcar foi um dos temas abordados no evento, por meio de palestra apresentada pelo pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Rômulo Penna Scorza Junior. Segundo ele, o uso de agroquímicos, apresentam riscos tanto ambientais quanto aos seres humanos. “As pesquisas realizadas na Unidade enfocam os riscos ambientais com ênfase no comportamento desses produtos nos ambiente, tais como riscos associados a contaminação de solo, dos recursos hídricos, entre outros", disse Scorza Júnior.

“No Mato Grosso do Sul a cultura da cana-de-açúcar é uma das que mais consomem agroquímicos, apenas atrás das lavouras de soja. Apesar disso, é muito difícil afirmar que uma cultura apresenta maior risco do que outra, pois existem inúmeros aspectos que precisam ser considerados na tomada de decisão sobre o uso de agroquímicos para o controle de pragas e/ou doenças", disse o pesquisador. Segundo ele, é preciso levar em conta características relacionadas ao solo, clima, formas de aplicação, enfim, existem muitas variáveis que devem ser observadas pelo produtor e que extrapolam os tradicionais conceitos de eficiência e custo.

“O comportamento ambiental dos agroquímicos deve ser levado em conta na tomada de decisão dos produtores. É possível, por exemplo, utilizar agroquímicos que apresentam a mesma eficiência e custos semelhantes, mas que apresentam comportamento ambiental completamente diferentes. Assim, dependendo do local onde será utilizado, se existem corpos hídricos próximos, água subterrânea próxima à superfície convém observar se esse produto tem maior potencial de lixiviação, em relação ao outro produto que tem custo e eficiência semelhantes", explicou ele.

Os agroquímicos, em geral, tem uma classificação de comportamento ambiental relacionadas a periculosidade ambiental, ou seja, o perigo ambiental está relacionado a eventuais acidentes, que possam vir a ocorrer e suas consequências. Já o risco ambiental, por sua vez, apresenta um conceito completamente distinto, pois envolve informações relacionados a forma de uso, manipulação, doses adequadas, com avaliações mais reais e que envolvem o dia-a-dia de uso dos agroquímicos.

“Os maiores riscos de contaminação ambiental, podem ser os prejuízos para tratamento da água que se consome, impacto aos organismos aquáticos entre outros", finalizou Scorza Junior.

Uso de controle biológico é eficiente para combate a cigarrinha-da-raiz-da cana-de-açúcar

Pesquisador do tema há 36 anos, tendo iniciado sua carreira com estudos sobre as cigarrinhas das pastagens, o estudioso da Embrapa Cerrados, Roberto Teixeira Alves, esteve presente no evento falando sobre as cigarrinhas-da-raiz da cana-de-açúcar.

Em sua fala, explicou que se trata de um inseto que pode ser controlado biologicamente, pois existem inimigos naturais reconhecidamente eficientes e o principal é o fungo Metarhizium anisopliae, que possibilitam a convivência com a praga, sem prejuízos, evitando a aplicação de defensivos químicos.

Os produtos biológicos normalmente são mais baratos que os produtos químicos, tendo o seu custo de aplicação geralmente semelhante ao dos produtos químicos. Precisamos aprender a conviver com os insetos pragas, que tanto nos tratamentos com controle biológico quanto com o controle químico nunca serão eliminados completamente.

A grande novidade nessa forma de controle biológico são as tecnologias de aplicação dos fungos. Existem várias formas de aplicação dos fungos que podem ser feitas com trator ou avião e podem ser ainda granulada (seca) ou molhada, por meio de forma líquida misturada com água. “Atualmente, estamos recomendando a aplicação do microinseticida biológico com óleo emulsionável que tem inúmeras vantagens. O óleo adere mais ao inseto e as plantas, pois é mais pegajoso, também protege mais o fungo no campo, pois evita a radiação ultravioleta e diminui a evaporação, além de apresentar vantagens na sua manipulação tanto de uso quanto de transporte (não necessita ser refrigerado). Esse produto tem seu custo um pouco mais caro que o elaborado com água, porém gera economia na hora de manejo e apresenta maior eficiência.

Outro aspecto é a influência da palhada (palhiço) que armazena vários ovos de cigarrinhas. No período seco, eles estão na forma de ovo e depois que começar as chuvas, essas ninfas saem do ovo e procuram as raízes da cana-de-açúcar para sugar. Esse afastamento do excesso da palha das raízes de cana-de-açúcar quando feito corretamente, com uso de trator e enleirador, diminui o excesso da palhada de perto da base da cana, possibilitando uma redução do microclima favorável para o crescimento da cigarrinha e facilita a aplicação de produtos químicos ou biológicos que impendem a ação eficiente dos inseticidas químicos ou biológicos.

“Hoje temos 23 produtos registrados para o controle da cigarrinha em cana. Sendo 12 produtos químicos e onze biológicos, fruto das pesquisas. Quase meio a meio", explicou Alves. Segundo ele, no momento da escolha da forma de controle utilizada, se será químico ou biológico, o produtor deve levar em consideração os resultados a longo prazo, não apenas os resultados imediatos. “Existe uma cultura de que o produto químico vai eliminar a praga rápida e definitivamente, porém isso não existe. O que temos disponível para agricultura como um todo é um somatório de medidas que minimizam o problema. Infelizmente, não existe uma medida única de manejo de pragas nas lavouras, e sim um conjunto de ações que vai minimizar o problema e garantir a produtividade do campo", destacou o pesquisador da Embrapa Cerrados.

Programação do evento - Os participantes do evento também obtiveram informações sobre diversos assuntos. Confira: Aspectos climáticos para o trimestre, com o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Claudio Lazzarotto; Matriz de manejo de cigarrinhas: interação entre praga, com Augusto Monteiro, da Bayer; Inteligência digital para controle de pragas: cases de sucesso, com Eder Giglioti, da Smartbreeder; Ciclo 100: manejo de pragas na cultura da cana-de-açúcar, com Ana Paula Bonilha (Ourofino); Uso de drones no controle biológico da cana-de-açúcar, com Luiz Cláudio Gromboni (Geocom). O encerramento teve como debatedores o Gerente de Tecnologia da Usina Adecoagro, Marcelei Daniel da Silva e o Supervisor de Tecnologia Agrícola da Usina Adecoagro, Jadson Batista da Silva.


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