Congresso discute novas estratégias para fortalecer cadeia do trigo

O objetivo do evento, realizado em Campinas (SP), de 22 a 24 de setembro, é fortalecer a cadeia produtiva da cultura

23.09.2019 | 20:59 (UTC -3)
Nadir Rodrigues​

O presidente da Embrapa, Celso Moretti, participou nesta segunda-feira (23), do 26° Congresso Internacional da Indústria do Trigo. O objetivo do evento, realizado em Campinas (SP), de 22 a 24 de setembro, é fortalecer a cadeia produtiva da cultura, discutindo novas estratégias para adaptação do setor às constantes mudanças de cenários, especialmente nos hábitos de consumo.

“Com tecnologia, melhoramento genético e adaptação de culturas, a Embrapa e seus parceiros estão levando o trigo para o Cerrado brasileiro e o Triângulo Mineiro, com elevados índices de produtividade”, disse Moretti, durante a solenidade de abertura do congresso. Os pesquisadores da Embrapa Trigo e outros centros de pesquisa no País têm se preocupado em adaptar a cultura a diferentes regiões, buscando a melhoria da qualidade industrial e o aumento do teor de proteína, de acordo com o presidente.

“Em 2030, nós teremos 8,5 bilhões de pessoas e precisaremos aumentar em 30% a produção de alimentos. Haverá uma demanda maior por 40% de energia e 50% de água. Não tenho dúvida de que com pesquisa, desenvolvimento e inovação, e com a parceria do setor privado, o Brasil será o maior produtor de alimentos do mundo”, ressaltou Moretti.

O secretário Econômico, Social e de Turismo de Campinas, André von Zuben, afirmou que “Campinas se destaca no cenário nacional como produtora de conhecimento, principalmente na área do agronegócio”. O município conta com as primeiras instituições de pesquisa na área da agricultura criadas no Brasil, como o Instituto Agronômico, que possibilitou o desenvolvimento do café e outras várias culturas, e o Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), que também tem contribuído muito para o desenvolvimento do setor.

“Agora, estamos apostando muito no conceito de inovação aberta através das startups. Para isso já constituímos aqui em Campinas um hub de agrotech onde, por meio de parcerias com a Embrapa, com aceleradoras locais e empresas do setor agro, estamos desenvolvendo, com participação das principais startups do Brasil, uma forma de melhorar tanto a produtividade no campo quanto, também, o processamento dos alimentos e a tecnologia necessária para fazer toda essa cadeia funcionar de forma mais eficiente”, explicou.

Participaram ainda da solenidade o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), embaixador Rubens Barbosa; o presidente e o vice-presidente do Conselho Deliberativo da Abitrigo, João Carlos Veríssimo e Rogério Tondo, respectivamente; o diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Christian Saigh; o presidente da Federação Argentina da Indústria de Moinho, Diego Cifarelli; o representante do Ministério da Agricultura do Paraguai, Nicasio Romero; a adida agrícola do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) no Brasil, Katie Woody; e a representante do Ministério das Relações Exteriores, Camila Olsen. A primeira conferência do dia coube ao secretário-adjunto de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Flávio Bettarello, que representou a ministra Tereza Cristina no evento.

Sexto maior importador mundial de trigo, o Brasil não figura entre os maiores produtores do grão. Ainda que seja mantido o importante papel de importador, Bettarello ressaltou o esforço de todo o setor nacional, em conjunto com o governo, para que a produção de trigo também consolide um lugar de destaque entre os principais produtos agrícolas brasileiros, ampliando sua produção e exportação. Ele citou como exemplo a Política Nacional do Trigo, atualmente em estudo no Ministério da Agricultura, que visa fortalecer toda a cadeia produtiva.

O secretário também abordou a infraestrutura logística, considerado importante gargalo com reflexos na competitividade da produção nacional, e indicou a necessidade de diversificar os modais de transporte, hoje majoritariamente rodoviário, para redução do custo logístico. “É necessário atualizarmos nossa legislação de cabotagem, por exemplo, para que possam ser explorados outros modais de transporte. É um esforço de atualização normativa, mas também um esforço conjunto muito grande de desenvolvimento da infraestrutura, atração de investimentos e um trabalho coordenado entre as diferentes esferas do governo”, disse Bettarello.

Durante a conferência, Bettarello comentou ainda o plano do ministério de implantar, até o final do ano, a cota sem tarifa para importação de 750 mil toneladas/ano de trigo de origens de fora do Mercosul. A medida terá como objetivo diversificar as origens do trigo importado no País.

A cadeia produtiva do trigo tem passado por uma série de avanços nas últimas décadas, embora ainda há vários desafios a serem superados. Entre eles, as micotoxinas são uma preocupação, já que esses contaminantes causam grande impacto econômico, gerando perdas e prejudicando a qualidade também na produção animal. Por isso, a pesquisadora da Embrapa Trigo Casiane Tibola falou sobre a prevalência das micotoxinas na cultura e nos produtos derivados de trigo no Brasil, abordando estratégias, tanto na fase de produção quanto na etapa de pós colheita, para reduzir o impacto desses contaminantes, atender a legislação brasileira e produzir alimentos com mais qualidade para os consumidores.

Entre as estratégias que podem ser adotadas, a limpeza, descartando grãos leves e chochos na etapa de recebimento na unidade armazenadora, tem um impacto importante na diminuição de micotoxinas. Outras medidas são a segregação de lotes, evitando misturar os altamente contaminados com os lotes sadios, e o polimento, que é uma abrasão superficial que reduz a contaminação nas camadas mais externas do grão. A moagem e as altas temperaturas no processo de panificação também reduzem a contaminação por micotoxinas.

O congresso discutiu, ainda, temas como regulamentação e tendências do mercado do trigo, conjuntura e visão de futuro da cadeia, e acordos de livre comércio do Mercosul e agronegócio. Além de painéis e mesas-redondas, o evento contou com uma feira de negócios e exposição de tecnologias e produtos do setor.


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