Congresso mostra ILPF como estratégia para construção de fertilidade do solo

O tema foi apresentado e discutido em um simpósio na quarta-feira, dia 24, e também foi visto na prática em uma visita técnica a duas propriedades rurais na sexta-feira, dia 26

29.07.2019 | 20:59 (UTC -3)
Gabriel Faria ​

O uso de diferentes estratégias de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) na recuperação da fertilidade de solos com baixa fertilidade foi um dos temas abordados durante o XXXVII Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, realizado de 21 a 26 de julho em Cuiabá (MT). O tema foi apresentado e discutido em um simpósio na quarta-feira, dia 24, e também foi visto na prática em uma visita técnica a duas propriedades rurais na sexta-feira, dia 26.

Com o tema “ILPF como estratégia de intensificação sustentável do uso do solo”, o simpósio mostrou diferentes resultados de pesquisas e de experiências de produtores em que a ILP foi usada na recuperação de pastagens degradas.

Utilizando dados do Censo Agropecuário realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o pesquisador da Embrapa Cerrados Lourival Vilela mostrou que, entre 2006 e 2017, houve um aumento em 18% da área com pastagens degradadas no Brasil, chegando a 11,7 milhões de hectares. Estima-se em 100 milhões de hectares a área com pastagens no país.

De acordo com o pesquisador, como estes dados são feito a partir da autodeclaração dos entrevistados, é provável que o número seja ainda maior. Prova disso é que, ainda de acordo com o Censo Agropecuário, 82% das pastagens do país possuem taxa de lotação abaixo de 0,8 unidade animal por hectare. O número é bem abaixo da possibilidade de produção, caso as pastagens sejam bem manejadas.

“Se subirmos a média para 2 ua/ha, serão liberados 74,7 milhões de hectares para a agricultura”, calcula o pesquisador, mostrando que é possível mais que dobrar a produção agrícola sem a necessidade de abertura de novas áreas.

Para que possa haver esse ganho de produtividade, uma das melhores alternativas disponíveis para os produtores é a integração da pecuária com a lavoura. Além de custear as despesas com a recuperação do pasto e permitir o uso mais eficiente dos recursos, o consórcio traz benefícios para o solo.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Soja Osmar Conte, a ILP promove a diversificação das culturas, recupera as propriedades químicas do solo, melhora a cobertura, possibilita maior crescimento de raízes, aumenta a porosidade e o teor de matéria orgânica do solo. Com isso gera um ambiente mais diverso e propício para o desenvolvimento das plantas.

Entre os benefícios da ILP, Osmar destaca a maior capacidade de aprofundamento de raízes, o que permite às plantas buscar nutrientes e água em camadas mais profundas. Assim elas resistem melhor aos períodos de veranicos.

“A soja aprofunda mais as raízes quando plantada após a braquiária ruziziensis. Dobrando a profundidade das raízes, você dobra o número de dias de atendimento pleno de água para a planta”, explica.

Matéria orgânica

De acordo com o pesquisador, o incremento de 1% no teor de matéria orgânica no solo representa aumento na produção de 12 a 15 sacas de soja. Nesse sentido, o uso das forrageiras é o maior aliado do produtor, sobretudo pelo incremento gerado pelas raízes. Osmar explica que, conforme pesquisas realizadas na Embrapa Soja, 30% do ganho de produtividade devem-se à palha gerada pela forrageira e os 70% restantes às raízes.

Exemplo do que foi apresentado no simpósio pôde ser visto pelos participantes do congresso que estiveram no tour técnico de ILPF. Um grupo formado por cerca de 70 pessoas visitou duas fazendas que usam diferentes estratégias da tecnologia.

Em uma delas, no munício de Poconé (MT), no bioma Pantanal, era um exemplo de pastagem degradada. Com o uso da lavoura de soja, o produtor Raul Santos Costa Neto viu a produtividade da fazenda Lagoa Dourada dar um salto. Na primeira safra, em 2012/2013, colheu em média 42 sacas de soja. Cinco anos depois, colheu 72 sacas em média em 1.500 ha de lavouras. Além disso, foi, pelo segundo ano seguido, ganhador em Mato Grosso do prêmio de máxima produtividade de soja do Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), chegando a 100 sacas/ha em um de seus talhões.

De acordo com o produtor, graças à ILP, pôde aumentar o teor de matéria orgânica média em seu solo de 1,5% para 3%. Em alguns pontos o índice ultrapassa os 5%.

 Ampliação da área com ILPF

Além de permitir o aumento da produtividade de grãos e da pecuária, a ILPF é uma tecnologia mais eficiente no balanço de emissões de gases causadores do efeito estufa. Pastagens recuperadas, plantio direto na palha e o plantio de árvores são técnicas que ajudam a mitigar as emissões.

Por esse motivo políticas públicas como o Plano Agricultura de Baixo Carbono (Plano ABC) preveem o aumento da área com adoção de ILPF no Brasil em 5 milhões de hectares até 2030. Somando-se aos 15 milhões da meta de pastagens a serem recuperadas, são 20 milhões de hectares.

Para contribuir com esse resultado, a Associação Rede ILPF, uma parceria público privada formada pela Embrapa e instituições da iniciativa privada tem como meta ampliar a área com ILPF no Brasil dos atuais 15 milhões de ha para 35 milhões até 2030.

Para isso, explica o presidente do Conselho Gestor da Rede ILPF e pesquisador da Embrapa, Renato Rodrigues, a Associação está, entre outras ações, trabalhando no desenvolvimento de uma certificação de propriedades e de produtos gerados a partir da ILPF. O intuito, explica, é criar mercados diferenciados para a produção feita por meio da intensificação sustentável.

Já pensando nesse potencial mercado, produtores como Arno Schneider, da Estância Ana Sophia, em Santo Antônio do Leverger (MT), estão apostando no uso de árvores em ILPF. Atualmente ele já possui 140 hectares de ILPF com uso da teca. A maior parte é em sistema silvipastoril. Em algumas novas áreas está cultivando mandioca entre as linhas até que as árvores tenham tamanho suficiente para não serem prejudicadas pelo gado.

A experiência do produtor rural, que é referência no estado, também foi visitada durante o tour técnico do Congresso Brasileiro de Ciência do Solo. O local também já recebeu dias de campo promovidos pela Embrapa Agrossilvipastoril e é usado frequentemente em aulas práticas de cursos superiores de agronomia e engenharia florestal.


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