Cultivar BRS 7380 RR aumenta produtividade dos sojicultores do Cerrado

​Na safra deste ano, a colheita de soja na Fazenda Porteira Branca, em Campo Alegre de Goiás (GO), superou 70 sacas por hectare

17.03.2017 | 20:59 (UTC -3)
Liliane Castelões

Na safra deste ano, a colheita de soja na Fazenda Porteira Branca, em Campo Alegre de Goiás (GO), superou 70 sacas por hectare. Esse resultado é bom, levando-se em conta, que por muitos anos, a produção não passava de 50 sacas. A perda de produtividade era causada pela infestação de nematoides (parasitas presentes no solo que atuam nas raízes das plantas) e como a BRS 7380 RR apresenta resistência aos tipos mais frequentes da praga, a cultura voltou a produzir bem na região do Cerrado.

A experiência do agricultor Giberto Yuki com os nematoides também não tem sido nada boa. Na safra passada, em uma de suas áreas na Fazenda Monte Belo, em Ipameri (GO), a perda da soja foi total. Em outra, que apresentava manchas de nematoides, a produtividade foi de 52 sacas por hectare, dez sacas a menos comparada à área sem presença da praga. Para este ano, a perspectiva é de aumento de produtividade, já que as plantas não apresentam sintomas de presença de nematoides.

Yuki plantou 1.150 hectares com a BRS 7380 RR, nas fazendas em Ipameri e Cristalina, também em Goiás. Mesmo que a colheita não atenda a sua expectativa, ele continuará plantado a variedade. “Só por resolver o problema de nematoides já compensa investir nessa cultivar. Independente de quanto será a colheita, a tendência é aumentar a área de plantio na próxima safra para reduzir ainda mais a infestação de nematoides”, afirmou.

Os nematoides presentes na cultura da soja inviabilizam outros cultivos. O produtor Celonir de Castilhos, de Uberaba (MG), após a colheita da soja, planta milho ou sorgo. Há seis anos, ele vê a produtividade cair nessas três culturas. “Estou confiante de que com essa cultivar, vamos alavancar a produção e, não apenas, da soja. E, ainda, tem a vantagem de não pagarmos royalties, diminuindo o nosso custo”, declarou.

Deixar de pagar royalties não é a única economia que o produtor faz usando a BRS 7380 RR. De acordo com o pesquisador Sebastião Pedro da Silva Neto, da Embrapa Cerrados e coordenador do programa de melhoramento da soja na região do Cerrado, a cultivar permite um saldo positivo na conta do produtor. Isso porque também diminui os custos com nematicidas e exige menor quantidade de sementes – a metade do que é usado com outras cultivares de ciclo precoce.


Combate aos “inimigos silenciosos”

O pesquisador classifica os nematoides como “inimigos silenciosos”. Sebastião Pedro explicou que os nematoides são pragas de solo, existentes naturalmente no solo de Cerrado nativo. Com o passar dos anos de cultivo intensivo, a população atinge o nível de dano econômico, sendo responsável pelos crescentes prejuízos nas lavouras.

Os nematoides mais comuns na cultura da soja são os de cisto (Heterodera glycines), de galhas (Meloidogyne incognita e o Meloidogyne javanic) e o das lesões radiculares (Pratylenchus spp). Para conter a população de nematoides no solo e evitar grandes prejuízos na cultura da soja, o produtor deve adotar medidas preventivas como manejo do solo, rotação de culturas, utilização de plantas de cobertura e controle biológico, além da utilização de variedades resistente à praga.

Uma das principais medidas preventivas é o manejo da fertilidade do solo. O produtor precisa se preocupar com o equilíbrio do pH no perfil do solo, pois quanto mais ácido, mais baixos os teores de cálcio e magnésio, o que tornam as plantas mais vulneráveis ao ataque dos nematoides. É preciso também manter bons níveis de potássio e aumentar os teores de matéria orgânica no solo.

A cultura que tem maior capacidade de reduzir a população de nematoides no solo, principalmente o das lesões radiculares, é a crotalária. Ela funciona como planta “armadilha” que captura os nematoides no interior das raízes e não permite que se reproduzam, fazendo com que diminua a população no solo.

Para o controle do nematoide do cisto, a rotação deve-se feita como culturas como arroz, algodão, sorgo, milho e girassol. Já para o controle do nematoide das galhas, a indicação é utilizar, além das crotalárias, mucuna preta, mucuna cinza ou nabo forrageiro.

Cultivar

A BRS 7380 RR, lançada em 2015 pela Embrapa em parceria com a Fundação Cerrados, além de resistente ao herbicida glifosato (RR) apresenta resistência a seis raças do nematoide de cisto (Heterodera glycines) – as raças 3, 4, 6,9, 10 e 14, e aos dois nematoides formadores de galhas (Meloidogyne incognita e o Meloidogyne javanica). Também tem baixo fator de reprodução ao nematoide das lesões radiculares, o Pratylenchus spp, que afeta não apenas a soja, mas também o milho, algodão, feijão, sorgo e as pastagens.

A cultivar foi desenvolvida para atender aos produtores de Goiás, Distrito Federal, Oeste da Bahia, Noroeste de Minas Gerais e Mato Grosso que desejam fazer safrinha de milho, sorgo ou de boi. Como é material de ciclo precoce (de 95 a 120 dias, dependendo da região), a cultivar permite a sua utilização no sistema produtivo da sucessão de culturas em regiões em que os solos apresentam histórico de problemas com os nematoides.

A engenheira agrônoma Samara Van Ass monitora, no Triângulo Mineiro, dez campos de produção de sementes de cooperados da Sementes Shaparral, parceira da Fundação Cerrados. Nas visitas que fez nos campos, Samara verificou a redução dos sintomas de nematoides nos plantios. Na opinião dela, a variedade de soja mais resistente aos nematoides é mais uma ferramenta que o produtor deve aliar às boas práticas agrícolas. “Não adianta o produtor achar que vai conseguir tudo com único material, como se existisse uma fórmula mágica. Ele tem que usar a variedade mais resistente e junto fazer um adequado manejo do solo”, afirmou.


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