Cultivo consorciado do ingá auxilia no controle biológico de pragas no cafeeiro

Experimentos apontam que nectários extraflorais da planta atraem inimigos naturais que controlam a broca-do-café e o bicho mineiro

04.03.2021 | 20:59 (UTC -3)
Mariana Vilela Penaforte de Assis

A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) testa diferentes estratégias de controle biológico de pragas no cafeeiro. Dentre as avaliadas, o cultivo consorciado do ingá aos cafezais tem resultado em maior proteção contra a broca-do-café e o bicho-mineiro. Os trabalhos tiveram início em sistemas agroflorestais no munícipio de Araponga, na Zona da Mata Mineira, e foram expandidos para o munícipio de Paula Cândido, na mesma região.

“Além dos experimentos em campo, fizemos diversos experimentos em laboratório e em casa de vegetação. Essa etapa do trabalho foi uma parceria com os departamentos de Entomologia e de Solos da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e com a University of Amsterdam, em projetos financiados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig)”, detalha a coordenadora do Programa Estadual de Pesquisa em Agroecologia da EPAMIG, Madelaine Venzon.

A pesquisadora explica que plantas como o ingá possuem nectários extraflorais (estruturas secretoras de néctar encontradas fora das flores) que atraem inimigos naturais dessas pragas. “O néctar extrafloral é uma importante fonte de carboidratos para os inimigos naturais. Por meio dessa alimentação, os predadores e parasitoides tem sua sobrevivência, fecundidade e longevidade aumentadas e, em troca, controlam os herbívoros presentes. Quando associamos uma planta com nectários extraflorais ao café pegamos emprestada essa defesa para o café”, afirma.

Diversas espécies de inimigos naturais de pragas do cafeeiro foram encontradas nos nectários extraflorais, como as vespas e formigas predadoras, parasitoides, crisopídeos, tripes predadores, entre outras. “Quando o ingá estava associado, tanto nos sistemas agroflorestais como em parcelas experimentais em Paula Cândido, nossas pesquisas demonstraram diminuição das populações das duas principais pragas do cafeeiro, o bicho-mineiro e a broca do café. Experimentos em laboratório e casa de vegetação confirmaram a adequação nutricional do néctar extrafloral para esses inimigos naturais”, conta Madelaine.

Atualmente, também são desenvolvidos projetos no Campo Experimental da EPAMIG em Patrocínio, no Cerrado Mineiro, com financiamento do CNPq e Consórcio de Pesquisa Café. “Estamos desenvolvendo, ainda para a região do Cerrado, projeto em atendimento a demanda de produtores e de associações. Na Zona da Mata, continuamos com experimentos nos sistemas agroflorestais”, completa a pesquisadora.

Plantio Consorciado

O ingá é uma planta de crescimento rápido e que desenvolve os nectários extraflorais já no início do ciclo evolutivo. “Verificamos atração de inimigos naturais em mudas recém-transplantadas. No entanto, em plantas maiores haverá mais nectários e maior disponibilidade de néctar”, informa Madelaine Venzon, que acrescenta sobre a possibilidade de introdução dessas espécies em lavouras já implantadas. “O ideal seria que fossem incluídas no planejamento da lavoura. No entanto, essas plantas podem ser introduzidas em cercas-vivas, corredores ou ilhas”.

A EPAMIG tem testado, também, outras plantas que podem ser consorciadas ao café de modo a atrair inimigos naturais e auxiliar no controle de pragas. “Já desenvolvemos trabalhos com plantas de cobertura e com adubos verdes, além de plantas espontâneas. Atualmente outras espécies, perenes e nativas, estão sendo testadas”, conta a coordenadora.

A pesquisadora explica, que antes dos experimentos serem testados em campo, as espécies passam por uma seleção prévia em laboratório e em casa de vegetação. “As plantas são selecionadas baseadas no fornecimento de recursos para os inimigos naturais, no não fornecimento desses recursos para as pragas, na compatibilidade com as práticas de cultivo locais, no aumento de polinizadores, na melhoria da qualidade do solo (via aumento da atividade biológica) e na facilidade de manejo das plantas introduzidas, entre outros fatores”.

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