Embrapa apresenta alternativas de uso para cultivares de uva de processamento

Dia de campo teve como objetivo divulgar as cultivares de uva para processamento desenvolvidas pelo Programa de Melhoramento Genético

06.02.2020 | 20:59 (UTC -3)
Mª Francisca Canovas de Moura

A Embrapa Uva e Vinho realizou um dia de campo na Sede da Unidade, em Bento Gonçalves (RS), com o objetivo de divulgar as cultivares de uva para processamento desenvolvidas pelo Programa de Melhoramento Genético ‘Uvas do Brasil’:  ‘BRS Bibiana’,  ‘BRS Carmem’ e  ‘BRS Magna’. Na ocasião, em visita aos vinhedos da Embrapa, os participantes conheceram as plantas e degustaram os vinhos elaborados com as cultivares, orientados pela equipe de pesquisa da empresa.

A ‘BRS Bibiana’ é uma cultivar de uva para elaboração de vinhos brancos aromáticos, com perfil enológico que remete ao vinho elaborado com uvas europeias, da espécie Vitis vinifera. Adapta-se melhor ao clima subtropical úmido da região da Serra Gaúcha e tem alta produtividade e demanda menos tratamentos fitossanitários para controle de podridões de cachos. De acordo com o pesquisador Mauro Zanus, “O vinho elaborado com a 'BRS Bibiana'  tem uma coloração palha-claro, aroma fino, delicado, com acidez e sabor equilibrados; é elegante, tem notas que remetem aos vinhos finos de Sauvignon Blanc e pode harmonizar muito bem com pescados e carnes brancas”.

Com relação à já conhecida ‘BRS Magna’ cultivar de ciclo intermediário, com alto potencial produtivo, ela inicialmente foi indicada para elaboração de suco, mas também se mostrou bastante interessante para elaboração de vinhos, dado o alto conteúdo de açúcar, aroma aframboesado e matéria corante, que fazem da ‘BRS Magna’ uma cultivar completa, para elaboração de varietais e cortes com outras cultivares. Com potencial produtivo de 30 toneladas por hectare e grau glucométrico de 21º Brix, a ‘BRS Magna’ representa boa alternativa às variedades tradicionais de uva, garantindo ao viticultor uma melhor remuneração por ocasião da comercialização da uva às vinícolas.

Sobre o vinho elaborado com a 'BRS Magna', o pesquisador Zanus afirma que ele se apresenta como uma interessante opção para os vinhos tintos de mesa tradicionais. Tem coloração intensa, violácea - se assemelhando ao vinho de Bordô, embora menos intenso, com aroma e sabor frutados, típicos das cultivares americanas. O sabor é equilibrado, de boa acidez e persistente.

A outra cultivar apresentada no evento foi a‘BRS Carmem’, uma uva tardia, inicialmente desenvolvida para elaboração de suco com aroma e sabor lembrando framboesa. Tem alto potencial produtivo, sendo uma ótima opção para oferta de uva ao final da safra. A cultivar apresenta tolerância às principais doenças da videira, como o míldio, sendo uma boa alternativa ao cultivo orgânico.

 “O vinho elaborado com a 'BRS Carmem' tem coloração brilhante,  rubi intensa, de aroma com notas de morango, framboesa e frutas vermelhas.  Surpreende pela fineza e delicadeza de paladar, com acidez refrescante e taninos macios, reunindo características intermediárias entre aqueles elaborados com uvas americanas e europeias”, acrescenta Zanus. 

Maurício Fugalli, engenheiro agrônomo da Cooperativa Aurora já conhecia as cultivares destinadas para elaboração de sucos, mas não para vinho. Para ele seria interessante cortar o vinho da ‘BRS Magna’ com ‘BRS Carmem’, para aportar um sabor mais típico. Mas foi a proposta da ‘BRS Bibiana’ que mais lhe chamou a atenção: "É uma uva que faltava no mercado para compor o quadro dos vinhos que são mais baratos, que agregam uma característica de maior volume de venda por serem mais acessíveis e com excelente qualidade".  Para Edvaldo Moro Gallon, produtor de uvas e de suco integral em Bento Gonçalves, RS também gostou do evento: "Foi bastante enriquecedor ver in loco as uvas e conversar com os especialistas, tirando dúvidas e degustando os produtos".

Para a pesquisadora Patrícia Ritschel, coordenadora do Programa de Melhoramento Genético Uvas do Brasil, a realização de eventos para apresentar novos produtos elaborados com as cultivares desenvolvidas pela Embrapa é sempre uma oportunidade para conversar com os produtores e saber de suas dificuldades e demandas: “Ouvir a avaliação que os viticultores fazem sobre o trabalho que desenvolvemos, neste caso, sobre as cultivares para processamento e seus derivados, nos leva a conhecer as dificuldades que eles estão enfrentando no dia a dia e nos estimulam a pensar em novas formas para contribuir com a solução destes problemas”.

Com essas três novas opções, as vinícolas têm diante de si a possibilidade de enriquecer o seu portfólio de sabores, atendendo aos consumidores modernos, que buscam novas experiências sensoriais e que também estão atentos aos processos produtivos mais sustentáveis.

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