Escolha ideal de rodados e pneus agrícolas para tratores

Para possibilitar a adoção de tráfego controlado em lavouras de cana-de-açúcar, além de alterações nos espaçamentos das entre linhas da cultura, são necessárias novas configura&c

09.06.2020 | 20:59 (UTC -3)
Victor Aleixo e Mauro Oliveira

No cultivo da cana-de-açúcar ao final da década de 1990 se iniciou a introdução de máquinas e implementos para desenvolver as operações de plantio e colheita. Adoção de operações mecanizadas em substituição às operações manuais teve um crescimento exponencial após a criação de lei, pelo estado de São Paulo (Lei nº 11.241/2002), que proíbe a queima de 100% das áreas de cana-de-açúcar do estado até 2021 que podem receber operações mecanizadas. A partir desse fato, as máquinas passaram a trafegar com maior intensidade dentro dos canaviais, com a adoção da distribuidora e da plantadora de rebolos, ambos os equipamentos utilizados no plantio mecânico; a colhedora autopropelida que corta os colmos, subsequentemente processa-os produzindo colmos fracionados, que são descarregados nos transbordos. Por fim, os colmos são transportados e transbordados em treminhão ou rodotrem, que seguem para a usina. Os transbordos são rebocados por tratores e/ou montados sobre o chassi dos caminhões, todos utilizados no sistema de cana picada colhida mecanicamente sem queima (cana crua).

A partir desse momento, houve o aumento do tráfego e pisoteio na soqueira, ambos provocados pelos rodados das máquinas e equipamentos, isto gerou redução da produtividade e longevidade dos canaviais. A estes fatores também estão relacionados o aumento da densidade e a compactação do solo.

Alguns autores relatam que a compactação do solo causa a redução de 30% na produtividade de uma safra para a outra, a ação do pisoteio sobre a soqueira causa redução de até dez toneladas de cana por hectare, também causando impacto negativo no valor do ATR (Açúcar Total Recuperável) por tonelada de cana processada.

Comumente os canaviais são plantados com dois principais tipos de espaçamento entre as linhas, o espaçamento convencional de 1,5m x 1,5m, sendo este o mais adotado, e o espaçamento duplo alternado de 0,9m x 1,5m, chamado de canteiro pelo fato de ser formando por duas linhas de cana com distância entre elas de 0,90m. Em ambos os espaçamentos, os rodados trafegam nas entre linhas da cultura que possuem o espaçamento de 1,5m.

Muitos são os esforços para os rodados trafegarem distantes das soqueiras, ou seja, passarem no centro das entre linhas da cana desde o momento das operações de quebra-lombo, cultivo, até a colheita mecanizada. Para que isso seja possível em todas as etapas, podemos citar a importância de realizar o ajuste de bitola das máquinas. No plantio com espaçamento convencional (1,5m x 1,5m) a bitola das máquinas deve ser de três metros e no plantio com espaçamento duplo alternado (0,90m x 1,5m) a bitola deve ser de 2,40m.

O ajuste de bitola é essencial para o chamado sistema de tráfego controlado, que consiste em separar as zonas de tráfego das zonas em que há crescimento das plantas, concentrando a passagem de pneus em linhas delimitadas, assim, uma área menor será atingida, embora mais intensamente.

Com o intuito de adequar a bitola de acordo com o espaçamento das entre linhas do canavial, usinas e produtores adaptaram peças metálicas nos eixos para servir como alongadores, posteriormente devido a uma exigência dos consumidores, os próprios fabricantes das máquinas passaram a entregar os tratores com os eixos alongados.

O uso da tecnologia, com a adoção dos receptores GNSS (Global Navigation Salellite System) embarcados nos tratores, permite a utilização do piloto automático, este equipamento, por sua vez, corrige possíveis erros e desvios de rotas muitas vezes acometidos pelos operadores que não contam com o piloto embarcado no trator.

Para adequar a bitola de acordo com o espaçamento das entre linhas, produtores utilizam alongadores de eixos e alguns modelos já podem vir de fábrica com eixos alongados
Para adequar a bitola de acordo com o espaçamento das entre linhas, produtores utilizam alongadores de eixos e alguns modelos já podem vir de fábrica com eixos alongados

O fator-chave para o sucesso do tráfego controlado de qualidade é a escolha correta de pneus que possuem a banda de rodagem de largura reduzida. Na colheita de cana picada mecanicamente a dimensão de pneu 600/50-22.5 na construção diagonal cintada ou radial é a mais utilizada nos transbordos rebocados e/ou nos caminhões transbordos.

Com o objetivo de aumentar a distância das laterais do pneu até a soqueira, algumas usinas estão substituindo o pneu 600/50-22.5, principalmente nos caminhões, por outro pneu de menor largura da banda de rodagem, o pneu 560/60-22.5. Essa dimensão possui 40mm a menos de largura quando comparado com o pneu 600/50-22.5. Nos transbordos rebocados por tratores que transportam maior volume de cana, por volta de 22 toneladas, e possuem número de eixos superior a três, a dimensão 500/60-22.5 tem sido adotada devido à largura menor de 100mm da banda de rodagem.

Diferença visível entre o local onde ocorre o pisoteio das máquinas e a área sem ação dos rodados
Diferença visível entre o local onde ocorre o pisoteio das máquinas e a área sem ação dos rodados

Para obtenção de maiores ganhos da distância das laterais do pneu até a soqueira, uma alternativa para este propósito é a adoção do pneu 445/65R22.5. A largura da sua banda de rodagem é de 445mm, tendo 155mm menos de largura em relação ao pneu 600/50-22.5. Levando em consideração que, a partir da linha de plantio os colmos da cana-de-açúcar crescem lateralmente 20cm para cada lado, totalizando 40cm, a zona de tráfego fica restrita a uma área de 1,10m, quando temos o espaçamento de 1,50m nas entre linhas. Nas Figuras 1 e 2 está ilustrada a disposição espacial dos pneus 600/50-22.5 e 445/65R22.5 nas entre linhas do canavial.

Figura 1 - Disposição espacial dos pneus 600/50-22.5 nas entre linhas do canavial     Figura 2 - Disposição espacial dos pneus 445/65R22.5 nas entre linhas do canavial
Figura 1 - Disposição espacial dos pneus 600/50-22.5 nas entre linhas do canavial Figura 2 - Disposição espacial dos pneus 445/65R22.5 nas entre linhas do canavial

As laterais externas e internas dos pneus 600/50-22.5 trafegam com uma distância da soqueira de 250mm. Nos pneus 445/65R22.5, o ganho na distância é maior, sendo a distância das laterais externas e internas do pneu até a soqueira de 327,5mm. Comparando a distância da soqueira até as laterais do pneu 600/50-22.5 e do 445/65R22.5, o pneu 445/65R22.5 trafega 77,5mm mais distante da soqueira.

Nos tratores com a potência de 180cv a 230cv utilizados nas operações canavieiras, não são utilizados pneus duplos. Geralmente são usados os pneus simples, sendo eles no eixo dianteiro 600/65R28 e no eixo traseiro 710/70R38. Para tratores com esta faixa de potência, que tracionam transbordos, pode ser adotada para o eixo traseiro a dimensão 650/75R38. Com esta dimensão, além de se obter maior distância das laterais do pneu até a soqueira, ele pode ser montado no aro DW 23Bx38, o mesmo aro utilizado para a dimensão 710/70R38, não havendo a necessidade da aquisição de um novo ou retrabalho no mesmo. A circunferência de rolamento dos pneus possui valores próximos e, deste modo, não há necessidade da troca dos rodados dianteiros 600/65R28. Devido à compatibilidade entre os rodados dianteiros e traseiros, o avanço dinâmico vai sempre estar no intervalo de 1% a 5%, valores estes recomendados pelos fabricantes de tratores.

Nas Figuras 3 e 4 está ilustrada a distância das laterais dos pneus 710/70R38 e 650/75R38 até a soqueira da cana.

Figura 3 - Distância das laterais dos pneus 710/70R38 até a soqueira da cana     Figura 4 - Distância das laterais dos pneus 650/75R38 até a soqueira da cana
Figura 3 - Distância das laterais dos pneus 710/70R38 até a soqueira da cana Figura 4 - Distância das laterais dos pneus 650/75R38 até a soqueira da cana

A partir destas imagens é possível verificar que as laterais do pneu 650/75R38 estarão 30mm mais distantes das soqueiras quando comparado ao pneu 710/70R38.

Para o plantio de um novo canavial, em substituição a outro, são levados em conta alguns parâmetros, como a produtividade de toneladas por hectare e o vigor de rebrota da cana após os consecutivos cortes. Dentre diversos fatores, os rodados com a bitola e a pressão de inflação incorretas contribuem para a redução da longevidade do canavial. Desta forma, as operações de subsolagem e gradagem no preparo do solo são as mais onerosas, demandam grande quantidade de energia e provocam o aumento do custo das usinas.

Uso de rodados mais estreitos tem o intuito de diminuir o impacto dos mesmos sobre a cana, aumentando, assim, a longevidade e o número de cortes do canavial
Uso de rodados mais estreitos tem o intuito de diminuir o impacto dos mesmos sobre a cana, aumentando, assim, a longevidade e o número de cortes do canavial

As soluções propostas de rodados mais estreitos têm o intuito de diminuir o impacto dos rodados sobre a cana, assim aumentar a longevidade com a elevação da quantidade do número de cortes, sem que a produtividade de toneladas por hectares seja reduzida.

 

Victor Aleixo e
Mauro Oliveira,
Trelleborg Wheel Systems

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