Especialistas internacionais debatem agricultura tropical

Evento virtual realizado pela Embrapa e IICA será oportunidade para compartilhar experiências sustentáveis sobre o tema e recolher insumos para Cúpula Mundial de Sistemas Alimentares

16.03.2021 | 20:59 (UTC -3)
Embrapa

Mais de 20 especialistas de vários países estarão reunidos, de forma virtual, durante a Semana Internacional de Agricultura Tropical (AgriTrop), entre 22 e 26 de março das 11h às 14h. O evento, organizado pela Embrapa e pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), tem como objetivo compartilhar experiências de cientistas, ambientalistas e empreendedores no uso sustentável de tecnologias para adaptação de culturas agrícolas e animais às condições climáticas e ambientais do cinturão tropical. Informações sobre inscrição, links de transmissão, programação e palestrantes estão disponíveis no site do evento.

A expectativa é que, a partir dessa troca de conhecimentos, surjam sinergias e parcerias, além de subsídios para a coordenação da região na inédita Cúpula de Sistemas Alimentares das Nações Unidas, marcada para setembro, em Nova York.

Um dos destaques será o modelo brasileiro, que conseguiu transformar o País de importador de alimentos na década de 1970 em um dos mais importantes players do agro mundial. Graças à tropicalização de culturas agrícolas e animais, o agro brasileiro atingiu em 2021 um Valor Bruto da Produção de quase R$ 900 bilhões, representando cerca de 21% do PIB nacional. É responsável ainda por 48% das exportações brasileiras, com destaque para café, açúcar, laranja, etanol, carne bovina, frango e soja, e pela geração de aproximadamente 19 milhões de empregos no Brasil. Sem falar que alimenta mais de 800 milhões de pessoas no mundo.

Segundo o presidente da Embrapa, Celso Moretti, por trás do sucesso da agricultura, está a ciência. Os esforços conjugados entre a Empresa, universidades, empresas de assistência técnica e extensão rural e outros parceiros possibilitaram, por exemplo, que o Cerrado brasileiro seja responsável hoje por 50% dos grãos produzidos no País. “Algo considerado utópico no fim da década de 1960 e início dos anos 70”, comenta.

Outro exemplo de destaque vem da pecuária. Hoje, o Brasil tem o maior rebanho bovino do mundo, com mais de 200 milhões de animais. “A ciência agrícola fez com que hoje frutas e hortaliças sejam comercializadas de norte a sul do País”, acrescenta, lembrando que todos esses avanços foram conquistados com foco na sustentabilidade, ou seja, aumentando a produtividade sem impactar a expansão de áreas agrícolas. Prova disso é o fato de que o Brasil conta com mais de 500 milhões de hectares de florestas naturais e cerca de 10 milhões plantadas.

Para o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Guy de Capdeville, o evento será um espaço para fortalecer e compartilhar práticas sustentáveis de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I), de forma a divulgar esse modelo para outros países do cinturão tropical das Américas. “A ideia é promover sinergias que visem a identificar oportunidades de crescimento econômico e social com sustentabilidade ambiental e bem-estar para as populações”, complementa.

Cúpula das Nações Unidas sobre Sistemas Alimentares

O diretor-geral do IICA, Manuel Otero, foi designado integrante da Rede de líderes da Cúpula das Nações Unidas sobre Sistemas Alimentares, denominada Summit's Champions, uma das quatro principais estruturas de apoio da reunião, cujo objetivo é definir as bases para uma transformação positiva na forma de produzir e de consumir alimentos.

“A partir do modelo de desenvolvimento sustentável desenhado e exportado pelo Brasil, pretendemos contribuir para posicionar a agricultura tropical como proposta de valor voltada à sustentabilidade e à oferta de alternativas para o continente, no contexto dos objetivos traçados para a cúpula mundial”, disse Otero. "Este evento deve ser também o início de um movimento para nossa região, a América Latina e o Caribe, para que as transformações que estão ocorrendo há décadas no setor agropecuário do Brasil se estendam, e nenhum país fique atrasado em matéria de agricultura e pecuária, o que implica acelerar o processo de transformação da agricultura nas nações da franja tropical, a maioria importadores líquidos de alimentos que apresentam atrasos tecnológicos”, completou.

A Semana tem ainda como objetivos consolidar a oferta de inovações institucionais e tecnológicas disponíveis atualmente com relação à agricultura tropical sustentável no hemisfério e promover o intercâmbio de ideias de forma a constituir um diálogo permanente, que englobe múltiplos atores nacionais, regionais e internacionais, públicos e privados, bem como agências e organismos de referência na cooperação internacional.

Publicação sobre tecnologias poupa terra

Durante a Semana Internacional de Agricultura Tropical, será apresentada ao público uma publicação sobre tecnologias do tipo poupa terra desenvolvidas pela Embrapa. São sistemas, produtos e metodologias, entre outros, que transcendem questões conceituais do desenvolvimento sustentável e propõem ações que promovam maior produção de alimentos, bens e energia, maximizando o uso de recursos naturais limitados sem expansão da área cultivada.

Entre elas, destacam-se os sistemas integrados ILPF (Lavoura-Pecuária-Floresta), que têm se mostrado alternativas viáveis de produção para recuperação de áreas alteradas ou degradadas. Esses sistemas, que ocupam hoje no Brasil uma área superior a 11 milhões de hectares, fundamentam-se na integração dos componentes do sistema produtivo, visando atingir patamares cada vez mais elevados de qualidade do produto, qualidade ambiental e competitividade.

A Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) é outro caso de sucesso nesse sentido. Ao utilizar bactérias do solo para prover nitrogênio às plantas, a tecnologia gera ao País uma economia de R$ 22 milhões por ano em adubos nitrogenados, além de não poluir o meio ambiente.

A publicação traz ainda outras tecnologias que reduzem o impacto das práticas agrícolas ao meio ambiente, como plantio direto e controle biológico de pragas, e ressaltam os benefícios da sua aplicação em várias culturas de importância socioeconômica no Brasil, como por exemplo, milho, soja, café e laranja, entre outras.

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