Estratégias que garantem eficiência no manejo da mosca-branca em soja

Expansão da área de plantio, ampliação da época de semeadura, cultivos sucessivos e escalonados com o uso de pivô central estão entre os motivos da alta incidência da mosca-branca na soja no Brasil

04.08.2020 | 20:59 (UTC -3)
Revista Cultivar

A produtividade da soja (Glycine max L.Merril) é influenciada por diversos fatores como solo, clima, chuva, ocorrência de pragas e doenças. Dentre as diversas pragas que ocorrem na cultura da soja, a mosca-branca (Bemisia tabaci biótipo B) tem aumentado sua frequência nas lavouras de soja de todo o país (Luttrell, 1994). A alta incidência da mosca-branca deve-se à expansão da área de plantio da soja, a ampliação da época de semeadura e os cultivos sucessivos e escalonados da cultura, com o uso de pivô central. A mosca-branca ataca diversas culturas, suga sua seiva, provoca alterações no desenvolvimento vegetativo e reprodutivo, podendo ocorrer murchas, queda de folhas e perda de frutos (Alencar et al., 1998). Trabalhos na cultura da soja mostram que a convivência com uma média de dez ninfas por folha, levou a prejuízo da ordem de 12 sacas por hectare (Tomquelski; Martins; Dias, 2015).

É recomendada, dentro do manejo químico, a alternância de produtos com diferentes modos de ação, para um manejo sustentável e que diminua a probabilidade de evolução de resistência de B. tabaci aos produtos empregados em seu controle. No controle químico têm sido utilizados produtos que induzem mudança comportamental pela repelência ou irritação, inseticidas reguladores de crescimento e também inseticidas que agem no sistema nervoso, como os neonicotinoides (Basu, 1995). Diante dos poucos inseticidas de grupos químicos e modo de ação distintos utilizados para seu controle, o registro de novas moléculas e misturas de ingredientes ativos já existentes é estratégia importante para garantir a eficiência de controle dessa praga nas mais diversas culturas.

As moléculas flupyradifurone e spiromesifen possuem baixa toxicologia e ecotoxicologia, apresentando um excelente perfil toxicológico para serem integradas a programas de manejo integrado de pragas. Além disso, as duas moléculas apresentam controle de mosca-branca nas fases de ninfas até o terceiro instar (Nicolaus et al., 2005; Nauen et al., 2015) e adultos. O spiromesifen inibe a lipogênese através do efeito na acetil CoA-carbolxylase (Nauen et al., 2003), e o flupyradifurone é um inseticida sistêmico que pertence a uma nova classe química, butenolida, atuando como modulador competitivo de receptores nicotínicos da acetilcolina (Irac, 2020). O flupyradifurone pode ser utilizado em diferentes culturas via foliar, tratamento de sementes e sulco, além de ser considerado uma nova ferramenta de manejo de resistência para vários alvos em diversos cultivos, devido à sua eficácia contra insetos sugadores resistentes a outros grupos como neonicotinoides e pymetrozine (Bayer, 2013).

Figura 3 - Testemunha típica de um experimento com ataque de mosca-branca (esquerda), e reflexo da eficácia de flupyradifurone + spiromesifen a 1kg/ha (direita)
Figura 3 - Testemunha típica de um experimento com ataque de mosca-branca (esquerda), e reflexo da eficácia de flupyradifurone + spiromesifen a 1kg/ha (direita)

Experimento

O presente trabalho teve como objetivo avaliar a eficácia do inseticida flupyradifurone 120g i.a./kg + spiromesifen 120g i.a./kg no controle de mosca-branca, a cultura da soja, com o uso da variedade BMX Garra RR. O experimento foi conduzido em condições de campo, na Fazenda Escola da Universidade Estadual de Londrina (UEL), localizada na Rodovia Celso Garcia Cid, km 380, cidade de Londrina, Paraná, entre os meses de fevereiro e maio de 2017; em solo de textura argilosa (73%). O delineamento experimental foi em blocos casualizados, com seis tratamentos e quatro repetições. Além da testemunha, os tratamentos foram compostos pelos inseticidas flupyradifurone 120g i.a./kg + spiromesifen 120g i.a./kg a 0,8; 1,0; 1,2 e 1,4 kg/ha; piriproxifen 100g/L + xileno 800g/L (padrão) a 0,25L/ha. Foram realizadas duas aplicações, com intervalo de sete dias, nos estádios BBCH de 60 e 65.

As aplicações foram realizadas através de um pulverizador costal de pressão constante, propelido por CO2 pressurizado, utilizando-se seis pontas de pulverização do tipo jato plano modelo 110.015, espaçadas a cada 0,4m, com pressão de trabalho de 2,5bar e volume de pulverização de 200L/ha. Cada parcela experimental apresentava 5m de comprimento e 4m de largura, totalizando 20m², com espaçamento de 45cm, 8cm entre plantas, cinco ruas por parcela e uma densidade de 12 plantas por metro linear. As avaliações de eficácia agronômica dos tratamentos foram realizadas aos 4, 7 DAA e 1, 3, 7, 10 DAB (dias após a primeira e segunda aplicação), seguindo uma contagem do número de insetos em dez folíolos por parcela, sendo que posteriormente essas informações foram transformadas em porcentagem de Abbott.

O comportamento do inseto adulto dificulta as avaliações, pois é um inseto migratório, consequentemente são usadas as avaliações de ninfas para comprovar a eficácia. Para quantificar a seletividade dos tratamentos à cultura foram realizadas avaliações de fitotoxicidade nas plantas de soja. Também foi avaliada a produtividade, sendo que foi quantificada aos 74 DAB, através da colheita de 7,5m²/parcela (kg). Os dados obtidos foram submetidos à análise da variância, e as médias dos tratamentos comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade (Tabela 1).

Nas condições em que o experimento foi conduzido foi possível observar controle de ninfas a partir de 4 DAA nos tratamentos utilizando flupyradifurone 120g i.a./kg + spiromesifen 120g i.a./kg nas doses de 1,0, 1,2 e 1,4 kg/ha, com eficácia variando de 82,3% a 95%. Essas doses se mantêm superiores ao padrão a partir da primeira avaliação até a avaliação realizada aos 10 DAB, quando alcançam controle variando entre 98,4% e 99,1%. A partir dos 7 DAB, flupyradifurone 120g i.a./kg + spiromesifen 120g i.a./kg apresenta eficácia de 97,7% na menor dose: 0,8kg/ha (Figura 1). 

Figura 1 - Porcentagem de controle (Eficácia - %) de ninfas de mosca-branca (Bemisia tabaci) aos 4 e 7 DAA e 3, 7 e 10 DAB - Londrina (PR), 2017
Figura 1 - Porcentagem de controle (Eficácia - %) de ninfas de mosca-branca (Bemisia tabaci) aos 4 e 7 DAA e 3, 7 e 10 DAB - Londrina (PR), 2017

O inseticida flupyradifurone 120g i.a./kg + spiromesifen 120g i.a./kg não causou quaisquer sinais de fitotoxicidade na cultura da soja, independentemente da dose. Em relação à produtividade, todos os tratamentos foram estatisticamente superiores à testemunha, sendo que flupyradifurone 120g i.a./kg + spiromesifen 120g i.a./kg a 0,8; 1,0; 1,2 e 1,4 kg/ha geraram incremento à produtividade de 14,3% a 40,8% (Figura 2). Conclui-se que flupyradifurone 120g i.a./kg + spiromesifen 120g i.a./kg nas doses de 0,8, 1,0, 1,2 e 1,4 kg/ha é eficiente no controle de mosca-branca e seletivo para a cultura da soja.

Figura 2 - Produtividade em peso (sc/ha) e % Relativa (IR) na cultura da soja – Londrina – PR, 2017
Figura 2 - Produtividade em peso (sc/ha) e % Relativa (IR) na cultura da soja – Londrina – PR, 2017

Classificação do Modo de Ação desses inseticidas segundo o IRAC
Classificação do Modo de Ação desses inseticidas segundo o IRAC

 

Yuri Ramos, J. N Della Valle, F. Sulzbach, A. C. A. Krol, T. Docema, M. M. Martins, M. A. N. Nishikawa e D. M. Okuma, Bayer

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