Estudo mostra que vespas são eficazes no controle de pragas

Pesquisa é feita em colaboração entre Unesp, USP e University College London (Reino Unido)

14.11.2019 | 20:59 (UTC -3)
Rose Talamone, com informações de Chris Lane

Espécies comuns de vespas podem ser valiosas no manejo sustentável de pragas. Esses insetos podem combater a broca Diatraea saccharalis, comum nas plantações de cana-de-açúcar, e também a lagarta Spodoptera frugiperda, que ataca principalmente plantações de milho, duas culturas de alto valor comercial. Resultados de experimento controlado mostraram que as vespas reduziram efetivamente as populações de pragas, e as plantas ainda sofreram menos danos quando elas estavam presentes. 

O estudo que revelou a eficácia das vespas como predadores destas pragas foi realizado por pesquisadores da University College London (UCL), Reino Unido, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP e da Unesp, câmpus de Jaboticabal. Na Unesp, foi o professor Odair Aparecido Fernandes, da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV), que participou da pesquisa.

Os pesquisadores lembram que as vespas são encontradas em todo o mundo e podem ser usadas facilmente em pequena ou grande escala para controlar uma série de pragas comuns. “Existe uma necessidade global de métodos mais sustentáveis para controlar pragas agrícolas, reduzir dependência excessiva de pesticidas ou da importação de controladores de pragas. Vespas são muito comuns, mas pouco estudadas; com essa pesquisa fornecemos evidências importantes de seu valor econômico como controladoras de pragas”, diz o autor principal do estudo, Robin Southon, da UCL.

O experimento foi o primeiro do gênero realizado em condições controladas e ao ar livre. Foi utilizado milho infestado pela lagarta Spodoptera frugiperda, também conhecida como verme do exército, e cana-de-açúcar pela broca de cana Diatraea saccharalis. A eficiência de algumas espécies de vespas nas culturas e na dieta de lagartas já havia sido demonstrada, dizem os pesquisadores, “mas sem o controle minucioso feito nesta pesquisa, com infestação controlada dentro e fora da planta”. 

A parte experimental do estudo foi feita em Ribeirão Preto, conta o professor da FFCLRP e coautor do estudo Fábio Nascimento, e realizada em estufa, com a inserção de vasos com as plantas; primeiro, de cana-de-açúcar e depois de milho, já infestados com as larvas das pragas de forma aleatória, e de outras duas maneiras: externamente e internamente na planta. Na estufa estavam os ninhos com as vespas comuns, denominadas Polistes satan. “As vespas mostraram eficiência acima do que esperávamos nas duas culturas – 90% e 100% sobre as lagartas expostas nas folhas, e 40% e 60% sobre as lagartas abrigadas dentro da cana e do milho”. 

O pesquisador brasileiro comemora os resultados: “Diferentemente do que se pensava, elas são capazes de encontrar as lagartas entre as junções das folhas das plantas; assim, a eficiência delas como controladoras é significativa.” 

Vespas podem integrar manejo de pragas

O grupo pretende continuar o trabalho com ensaios maiores e em atividades agrícolas ativas. Mas os pesquisadores já defendem que as vespas devam ser consideradas controladoras de pragas e que consistam em parte importante de um esquema integrado de manejo. 

Os cientistas acreditam na eficiência de uma abordagem multifacetada de combate às pragas. “Não estamos dizendo que os agricultores precisam parar o que estão fazendo e começar a usar vespas em suas estratégias atuais de manejo de pragas; em vez disso, estamos adicionando ao kit de ferramentas de combate às pragas um novo elemento”, enfatizam. “Vespas sociais, como as que estudamos, são caçadoras generalistas, portanto, complementar às abordagens existentes. Esses insetos poderiam reduzir a probabilidade de uma praga desenvolver resistência a um pesticida ou agente de biocontrole específico”, diz Southon

Segundo o professor Nascimento, o uso de vespas de espécies nativas que já fazem parte do ecossistema local tende a ser mais sustentável também por preservar a biodiversidade daquela área. “Nosso estudo fornece evidências de que as vespas podem ser uma forma barata e acessível de controle de pragas, particularmente útil para agricultores de pequena escala ou de subsistência em países como o Brasil, que poderiam atrair e incentivar vespas a se estabelecerem.”

Já Seirian Sumner, do Centro de Biodiversidade e Meio Ambiente da UCL, lembra que ao usar produtos químicos para matar pragas, muitas vezes os agricultores também matam os mesmos insetos que podem fornecer formas naturais de controle de pragas. E isso acontece com as vespas sociais. “Temos que aproveitar ao máximo o que já temos ao nosso redor.” 

Sumner espera que a pesquisa realce o valor das vespas. Ele já liderou estudo anterior sobre estes insetos, mostrando que muitas pessoas não gostam delas por não compreenderem seu papel no ecossistema. “Não se trata apenas de agricultura, trata-se de vespas em geral e de seu papel na regulação de outras populações de insetos”, afirma Sumner.

Na segunda etapa do estudo, conta o professor da USP em Ribeirão Preto, as vespas serão testadas em área aberta de cultivo. Nascimento e o professor Odair Fernandes, da Unesp, orientam estudante de pós-graduação que vai testar a eficácia das vespas nas áreas de cultivo orgânico em Jaboticabal.

“As vespas estão em declínio em todo o mundo, semelhantes às abelhas, que são mais queridas; perdendo esses insetos, o resultado seria o aumento de pulgões, moscas e outros incômodos”, alertam os pesquisadores. Eles afirmam que quintal e jardim também podem se beneficiar de uma atitude mais favorável à vespa. “Em vez de matar vespas e usar pesticidas em suas plantas, trate suas vespas locais como os controladores de pragas que elas são”, finalizam.

O estudo recebeu apoio da Fapesp e do Departamento de Negócios, Energia e Estratégia Industrial do Reino Unido.

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