Estudos sobre a origem e dispersão das plantas ajudam a melhorar a qualidade nutricional dos cultivos

O assunto foi tema da palestra "10 mil anos de domesticação de plantas – as origens da agrobiodiversidade da Amazônia indígena"

10.11.2016 | 21:59 (UTC -3)
Irene Santana

Melhorar a qualidade nutricional dos alimentos e adaptar os cultivos para as mudanças climáticas são algumas das razões pelas quais é tão importante conhecer sobre a origem e dispersão das plantas. O assunto foi tema da palestra "10 mil anos de domesticação de plantas – as origens da agrobiodiversidade da Amazônia indígena", proferida ontem (09/11) pelo Dr. Charles R. Clement, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), durante o IV Congresso Brasileiro de Recursos Genéticos. O evento acontece até amanhã (11/11) em Curitiba (PR).

Dr. Charles, referência mundial no assunto, afirma que a domesticação de plantas e animais teve início há cerca de 15 mil anos e que os primeiros humanos que habitaram a Amazônia foram caçadores, coletores e também domesticadores, pois produziram alimentos. "A domesticação é um processo co-revolucionário em que a seleção humana nos fenótipos (características externas da planta) resulta em mudanças nos genótipos, tornando as plantas mais úteis para os humanos e melhor adaptadas às intervenções humanas na paisagem", explicou Dr. Clement.

O cientista também afirmou que a busca pela origem das espécies deve ser tarefa multidisciplinar e envolver diversas áreas do conhecimento, tais como Botânica, Genética, Arqueologia, Biogeografia, História e Linguística. Com esse trabalho, é possível afirmar hoje que quanto mais perto da origem, maior a probabilidade de se encontrar mais diversidade genética de plantas.

"E essa é uma informação importante porque podem haver alelos (formas alternativas de um mesmo gene) que vão ajudar os pesquisadores a adaptar os mesmos cultivos para as mudanças climáticas que estão acontecendo e que também podem oferecer novas oportunidades de modificar o valor nutricional dos alimentos", disse o professor.

Um exemplo citado foi o milho, alimento domesticado há 10 mil anos mas que, ao longo de sua existência, foi gradualmente perdendo proteína. No entanto, ainda é possível encontrar diferentes variedades no seu centro de origem (no caso, o México), o que torna possível melhorar a qualidade protéica do milho para o consumo humano e animal.

Domesticações em solo amazônico e terra preta de índio
Dr. Clement afirmou durante a palestra que a maioria das domesticações ocorridas na Amazônia se deu na periferia da região. Outra hipótese já confirmada em trabalhos científicos diz que as espécies frutíferas foram as que mais chamaram a atenção dos domesticadores, embora ainda haja pouca informação sobre este assunto.

Outro tema interessante abordado pelo cientista foi o papel que as populações indígenas tiveram na domesticação das plantas. A chamada "terra preta de índio" teria sido gerada a partir da ocupação indígena milenar do território amazônico (o lixo orgânico dos índios teria atuado como adubo), sendo considerado um dos solos mais férteis do mundo.

"Numerosos cultivos seguiram os assentamentos humanos e aproveitaram os nutrientes, a luz e a água nas lixeiras. Um exemplo é o cultivo originário da Amazônia que na minha opinião é o mais importante a nível mundial: a Manihot esculenta, ou Mandioca, grande fonte de energia", afirmou Dr. Clement. O cientista também citou os exemplos da Pupunha, Cacau, Pimenta, Guaraná, Cuia (ou Cabaça), Biribá e Urucum, espécies cujos estudos indicam como centro de origem a Amazônia.


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