Excesso de nebulosidade prejudica lavouras de soja

Radiação solar abaixo do normal e excesso de água no solo, são os responsáveis pelo abortamento de vagens

29.01.2018 | 21:59 (UTC -3)
Christiane Congro Comas

Em algumas áreas no Sul do Mato Grosso do Sul (MS) tem ocorrido abortamento de vagens da soja que tem preocupado os produtores rurais. A equipe de pesquisadores da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS) está atenta a essa questão e esclarece que o problema está relacionado a pouca incidência de radiação solar e ao excesso de umidade no campo, devido às precipitações acima da média.

Segundo o pesquisador Danilton Luiz Flumignan, a ocorrência de chuva
abundante na fase reprodutiva das lavouras, tão desejada pelo agricultores,
aconteceu, porém veio acompanhada de nebulosidade. “No período de 19 de
dezembro até 23 de janeiro, a região Sul do MS esteve sob a constante presença de
nebulosidade. Dos 36 dias deste período, tivemos chuvas em 30 deles. Ou seja,
embora as plantas tivessem água à disposição, faltou luz solar”, explica.

O pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Rodrigo Arroyo Garcia,
explica que apesar da soja ser uma espécie com aparelho fotossintético via C3, ela
também tem suas necessidades de luminosidade adequada para realização de
fotossíntese, refletindo em crescimento da parte aérea e formação de grãos. Ele
relembra que três insumos da atmosfera são fundamentais para que ocorra a
fotossíntese das plantas, ou seja, para que elas possam produzir glicose. Estes
insumos são: 1) dióxido de carbono (CO 2 ) (o qual está sempre disponível na
atmosfera); 2) água (a qual esteve a disposição devido à excelente oferta de
chuvas); 3) luz solar (a qual esteve abaixo do normal devido à nebulosidade,
especialmente na fase reprodutiva).

Radiação solar - Dados relacionados a radiação solar diária (MJ m -2 dia -1 ),medido na estação agrometeorológica da Embrapa Agropecuária Oeste, por meio do Guia Clima (http://www.cpao.embrapa.br/clima), demonstram que desde setembro a radiação solar que incidiu sobre a região de Dourados foi abaixo do normal. “Esse fenômeno ficou ainda mais evidente de outubro em diante, meses em que os valores medidos foram pelo menos 15% abaixo do normal. Para se ter uma ideia, nos meses de novembro, dezembro e janeiro no período de 2001 a 2012, jamais foram registrados valores tão baixos como os de agora. Logo, esta safra está sendo atípica e constituindo um recorde para a variável luminosidade”, explica Flumignan.

Garcia explica ainda que “devido a essa baixa luminosidade as plantas de
soja não puderam realizar tanta fotossíntese quanto deveriam para produzir os
fotoassimilados necessários para sustentar uma produtividade altíssima que era
esperada. A consequência dessa baixa luminosidade na fase de reprodutiva é que
as flores e vagens podem ser abortadas, uma estratégia natural da soja, bem como
de outros vegetais”.


Ele explica ainda que “quando essa baixa luminosidade ocorre na fase de
formação das vagens e de enchimento de grãos a consequência é o abortamento de
vagens, especialmente as pequenas, bem como o menor enchimento de grãos que
resulta em menor peso de 1000 grãos”. Segundo o pesquisador, existem estudos
que sugerem que essa menor luminosidade, quando ocorre na fase reprodutiva,
pode reduzir a produtividade da soja em 17 a 26%.


Garcia acrescenta ainda que em função da elevada oferta de chuvas, em
muitas áreas o solo esteve com teores de água elevado por diversos dias,
resultando em menor respiração das raízes, o que também implica em prejuízos na
dinâmica de nutrientes.


O pesquisador destaca que diversos fatores simultâneos contribuíram no
abortamento de vagens e esclarece que “ainda é muito cedo para tecer estimativas
acerca da queda na produtividade que essa ‘sombra’ deverá provocar na soja
cultivada nesta safra na região Sul do MS, ainda mais que há grande interação de
fatores, que podem oscilar entre as propriedades rurais”. Ele acredita que “mesmo
com a baixa luminosidade nesse período, devemos esperar uma ótima colheita”.

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