Fim do El Niño antecipa colheita do café

O fenômeno influenciou o ciclo produtivo de diversas culturas na última safra

12.05.2016 | 20:59 (UTC -3)
Williams Ferreira, Marcelo Ribeiro, Domingos Queiroz e Sammy Soares

No Brasil, o tempo seco e quente esteve presente em parte do Sul da Bahia, parte do Tocantins, de Minas Gerais, de São Paulo e do Mato Grosso. As temperaturas foram superiores à média em até 3ºC, variando entre 30 e 35ºC no horário mais quente do dia. Mais recentemente, áreas de instabilidade têm se formado sobre o Atlântico Norte e se deslocado para sobre a região do litoral do Nordeste, provocando chuvas fortes com algumas vezes, inundações.

O acompanhamento, a partir das imagens de satélites, nos tem revelado que esse fenômeno tem ocorrido em diferentes regiões do Brasil a partir de bandas de nuvens cada vez mais estreitas. Esse comportamento parece um novo padrão comum mais próximo de grandes centros urbanos e pode estar associado à maior emissão de poluentes aéreos nessas grandes áreas. A concentração de aerossóis emitidos nos grandes centros urbanos facilitam a maior concentração de umidade atmosférica, favorecendo o pico de chuvas na região do entorno dos grandes centros urbanos.

Temos observado que o tempo dos eventos, principalmente de chuvas convectivas (formada a partir da elevação do ar úmido presente próximo a superfície), tem diminuído, contribuindo para o maior pico das chuvas e refletindo em maiores enchentes principalmente devido à manutenção indevida da infraestrutura das águas pluviais das grandes cidades.

El Niño

O forte fenômeno El Niño poderá chegar ao fim nas próximas semanas. As atuais temperaturas do Oceano Pacífico já chegaram ao nível de neutralidade e os padrões atmosféricos também deverão chegar à neutralidade nas próximas semanas. Os modelos internacionais atualmente indicam que há aproximadamente 50% de probabilidade de que um evento La Niña (possivelmente de intensidade moderada) venha a se desenvolver até a chegada da primavera. Em se confirmando tal fato, o ano de 2016 que começou com a presença do El Niño, se encerrará com a presença do La Niña que se caracteriza por apresentar efeitos opostos aos do El Niño. A presença do La Niña (“A Menina” em português) representa o esfriamento anormal nas águas superficiais do Oceano Pacífico Tropical sendo que o último episódio, que foi de intensidade moderada, ocorreu entre o ano de 1998 e 2001. Normalmente os eventos La Niña costumam durar mais de seis meses. Assim, a possibilidade de ocorrência a partir de outubro desse ano representa a possibilidade de que o verão de 2017 seja mais ameno na região Sudeste e mais chuvoso no Nordeste brasileiro, bem como o inverno possa ser mais seco no Sudeste e Sul do Brasil.

Com a chegada da neutralidade nas próximas semanas, a redução das chuvas deverá ocorrer de forma natural no período do inverno desse ano, que terá início às 19h34 do próximo dia 20 de junho, fazendo com que as culturas de inverno na região Sul do país possam ocorrer dentro da normalidade. Para a região Nordeste, a presença do La Niña no final do ano irá ajudar a reverter o atual quadro de falta de chuva que castiga principalmente a região do semiárido e deve persistir nos próximos meses.

Chuvas em junho

No próximo mês a área em verde nos estados de Minas Gerais e São Paulo poderá apresentar volume de chuvas abaixo da média normal do mês (Figura 1). Há probabilidade de 40% de que as chuvas ocorram abaixo da média principalmente na região metropolitana de Belo Horizonte, na Zona da Mata (particularmente na região de Ponte Nova, Manhuaçu e Caratinga), na parte sul do Sul de Minas (particularmente na região de Santa Rita do Sapucaí, Poços de Caldas e Pouso Alegre), no Vale do Mucuri, no Vale do Jequitinhonha (particularmente na região acima de Araçuaí) e em Araxá e Uberaba, no Triângulo Mineiro. Em São Paulo poderá chover abaixo da média principalmente na região de Ribeirão Preto, Araraquara e Campinas.

Chuva acima da média, com 40% de probabilidade de ocorrência, poderá ocorrer principalmente na região noroeste de Minas, em Patrocínio no Triângulo Mineiro, e em Pirapora no Norte de Minas.

minas
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Figura 1 – Estados de Minas Gerais e São Paulo, com área destacada na cor verde, poderão apresentar chuvas abaixo da média no mês de junho.

Temperaturas em junho

Temperaturas acima da média do mês deverão continuar em todo o estado de Minas Gerais, com exceção da região central, Metropolitana de Belo Horizonte, Norte de Minas, em Diamantina e Capelinha, no Vale do Jequitinhonha, e de Unaí no noroeste de Minas, que deverão apresentar temperaturas dentro da normalidade no mês de junho.

O Café

As chuvas que ocorreram em setembro e o tempo quente e seco nos meses de março e abril motivaram a florada do café e contribuíram para que o ciclo da atual safra fosse encurtado. Tal fato fez com que as colheitas tivessem início em algumas regiões já em abril, sendo que em outras devem ser iniciadas nos próximos dias. Isso ocorre principalmente na região do café de montanha, devido aos diferentes microclimas proporcionados pelas diferentes altitudes das lavouras, o café se encontra com o fruto em etapas de amadurecimento bem diferentes. O desejável é que a colheita tenha início quando existir na planta maior percentual de grãos cereja quando comparado aos grão verdes.

A colheita precoce significa maior quantidade de grãos verdes e colheita tardia significa maior número de grãos secos e maior varrição de grãos no chão, sendo que ambos comprometem a qualidade final do produto. O café é uma bebida que tem preços baseados em parâmetros qualitativos, sendo que os cuidados que devem ser tomados no momento da colheita são poucos quando comparados ao valor agregado ao café de qualidade superior.

Na região de montanhas, onde a colheita manual é adotada, logo após ser colhido, o café não deve permanecer ensacado no cafezal, devendo ser providenciado o transporte imediato para o local de processamento dos frutos, etapa na qual são realizadas as operações de limpeza, lavagem, descascamento e desmucilamento para remover folhas, ramos, cascas e parte da mucilagem. O objetivo é formar lotes de café boia, verde e cereja descascado, com teores de umidade menos variável, o que permite ajustar as condições de secagem a cada lote e, principalmente, obter o cereja descascado, produto com maior valor no mercado.

A remoção das impurezas e, em especial, das cascas, além de conferir maior valor ao café, possibilita reduzir a estrutura de secagem, o tempo e a mão de obra envolvida nessa operação. Em regiões com alta umidade durante o período de colheita do café, a remoção de parte da mucilagem no descascamento e desmucilamento reduz o risco da ocorrência de fermentações, que pode prejudicar a qualidade da bebida do café.

Entretanto, o processamento dos frutos de café consome muita água e gera um efluente rico em material orgânico, com potencial de poluir o ambiente. A reutilização da água no descascador é uma opção que possibilita minimizar o gasto de água no processamento. Após essa etapa, os lotes de café são submetidos à secagem.

Nesse período de colheita o cafeicultor deve estar mais atento para as previsões do tempo para evitar maiores problemas com as chuvas de outono, que por ser uma estação de transição, apresenta com maior frequência ocorrência de chuvas eventuais e isoladas.

Pastagens

Com a proximidade do final do outono e a chegada do inverno é comum ocorrer queda na produtividade e na qualidade do pasto para o gado. Temperaturas mais baixas, dias mais curtos e reduzida precipitação da próxima estação atuam para limitar o crescimento do pasto. A queda de valor nutritivo do pasto, decorrente do florescimento que ocorre no outono para a maioria das espécies de gramíneas forrageiras, provoca queda de desempenho dos animais na pecuária de corte e, como consequência, a necessidade do reforço na suplementação concentrada das vacas de leite. A situação de pastos ruins é muito provável na maioria das propriedades, já que estamos vindo de vários anos seguidos com chuvas abaixo da média na região Sudeste. Isso fez com que os pastos sejam manejados com baixa oferta de forragem, provocando superpastejo e limitando a rebrota do capim. Caso as chuvas se prolonguem até o início do inverno, o pecuarista tem condições de manter o gado consumindo volumosos somente no pasto, sem a necessidade de suplementação no cocho. Se as chuvas não persistirem, como é a previsão para grande parte de Minas Gerais, é hora de o pecuarista pensar em iniciar o fornecimento da silagem armazenada.

O prognóstico

A análise e o prognóstico climático aqui apresentados foram elaborados com base na estatística e no histórico da ocorrência de fenômenos climáticos globais, principalmente daqueles atuantes na América do Sul. Foram consideradas ainda as informações disponibilizadas livremente pelo NOAA; Instituto Internacional de Pesquisas sobre Clima e Sociedade — IRI; Met Office Hadley Centre; Centro Europeu de Previsão de Tempo de Médio Prazo — ECMWF; Boletim Climático da Amazônia elaborado pela Divisão de Meteorologia (DIVMET) do Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM) e com base nos dados climáticos disponibilizados pelo INMET/CPTEC-INPE. Pelo fato do prognóstico climático fazer referência a fenômenos da natureza que apresentam características caóticas e são passíveis de mudanças drásticas, a EPAMIG e a Embrapa Café não se responsabilizam por qualquer dano e, ou, prejuízo que o usuário possa sofrer, ou vir a causar a terceiros, pelo uso indevido das informações contidas na presente matéria. Sendo de total responsabilidade do usuário (leitor) o uso das informações aqui disponibilizadas.

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