Incertezas no mercado de etanol sustentam mix açucareiro na safra 2020/21

Centro-Sul brasileiro deve fortalecer direcionamento de cana à produção de açúcar após COVID-19 e desdobramentos macroeconômicos impactarem petróleo

19.03.2020 | 20:59 (UTC -3)
Cristina Arinelli

Com apelo extra do cenário macroeconômico colocando a oferta e a demanda de etanol em contexto de incerteza, a safra brasileira de cana 2020/21 (abr-mar) deve reforçar seu direcionamento à produção de açúcar.

"O elevado patamar do dólar comercial estimulou ainda mais a fixação da produção por parte de algumas usinas, visto que os preços do açúcar convertidos ao real alcançaram os arredores de R$ 1.500/t na metade do último mês – proporcionando margem significativa em relação ao custo médio de produção", avalia o analista de inteligência de mercado da INTL FCStone, Matheus Costa.

Segundo a revisão de março, divulgada na quarta-feira, 18 de março, a INTL FCStone espera que o Centro-Sul brasileiro produza 33,1 milhões de toneladas de açúcar em 2020/21, crescimento de 24,5% em relação a 2019/20. Especificamente, esse volume representa um mix açucareiro de 42,1%, 4,3 pontos percentuais acima da estimativa anterior e 8 p.p. além do esperado para 2019/20.

A rápida disseminação do Coronavírus (COVID-19) aliada ao desentendimento entre dois grandes produtores de petróleo, Arábia Saudita e Rússia, levou à forte derrocada nos preços do óleo bruto.

Consequentemente, a Petrobras fez novo reajuste negativo nos preços da gasolina A na quinta-feira (12 de março), na ordem de R$ 0,16/L – fazendo com que no acumulado de 2020, as revisões totalizassem pouco mais de -R$ 0,39/L.

Considerando esse contexto, a fabricação de etanol de cana deve se posicionar em 28,1 milhões de m³ de acordo com os cálculos da INTL FCStone, queda safra-a-safra de 11,4%. Em meio às perspectivas de que a gasolina ganhe participação no consumo de combustíveis de ciclo Otto, o grupo estima que a destilação de hidratado atinja 19,2 milhões de m³, queda de cerca de 1,2 milhão de m³ em relação à estimativa de janeiro e de 14,0% ante ao ciclo 2019/20. O anidro, por sua vez, deve apresentar retração mais branda no comparativo com o ciclo anterior, para 8,9 milhões de m³ (-5,1% no comparativo anual).

As perspectivas para a fabricação de etanol de milho se mantém estáveis em relação à última estimativa, com pouco menos de 1,7 milhão de m³ de hidratado e 804 mil m³ de anidro. De modo geral, a destilação total de álcool pelo Centro-Sul deve atingir 30,6 milhões de m³ em 2020/21, recuando 8,2% frente ao projetado para a temporada anterior.

Em relação às condições climáticas sobre os canaviais, destaca-se que no acumulado do último mês, as precipitações totalizaram 182,3 mm na média ponderada da região analisada. Embora represente diminuição de 11,3 mm em relação à mesma época de 2019, esse volume supera a média histórica para o período em 6,7%, segunda análise de inteligência de mercado da INTL FCStone.

Os efeitos positivos da umidade observada em fevereiro/20 devem se somar aos ganhos de saúde vegetal obtidos desde o início de outubro/19, resultando em maior disponibilidade de matéria prima.

O grupo elevou sua expectativa de moagem no Centro-Sul em relação à publicação anterior, para 597,8 milhões de toneladas, volume que representa crescimento de 1,4% ante ao estimado para 2019/20.

Uma evidência desse incremento é a quantidade de usinas em atividade no início de março. Estima-se que 33 unidades produtoras estejam operacionais na 1ª quinzena de mês corrente, superando em 22,2% a quantidade observada na mesma época do ano passado.

A quantidade disponível de ATR (açúcar total recuperável) estimada para a próxima temporada é de 82,5 milhões de toneladas, crescimento de aproximadamente 0,8 milhão de toneladas em relação à estimativa anterior e de 0,9% frente ao estimado para 2019/20.

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