Mariangela Hungria é covencedora de Prêmio Científico Internacional

Pesquisadora ganhou prêmio por pesquisas em fixação biológica do nitrogênio, tecnologia que aumenta produtividade da soja tropical sem uso de fertilizantes químicos

08.12.2020 | 20:59 (UTC -3)
Embrapa

A pesquisadora Mariangela Hungria, da Embrapa Soja, ao lado do cientista chinês Li Jiagyang, é covencedora do prêmio científico TWAS-Lenovo, criado em 2013 pela Academia Mundial de Ciências (The World Academy of Sciences- TWAS) e a Lenovo, empresa chinesa líder mundial em tecnologia. Entre indicações de mais de 150 países, Mariangela ganhou o prêmio por suas pesquisas em fixação biológica do nitrogênio, tecnologia que aumenta a produtividade da soja tropical sem o uso de fertilizantes químicos.

O Prêmio homenageia os estudos da pesquisadora brasileira voltados para o desenvolvimento de inoculantes à base de bactérias que substituem os fertilizantes nitrogenados e possibilitam uma agricultura mais sustentável.

Além disso, a pesquisadora é reconhecida internacionalmente por seus esforços para capacitar mulheres na Ciência do Solo e na Agricultura. Com atuação em microbiologia do solo e vasta contribuição para o avanço na ciência básica, Mariangela tem incentivado o trabalho de diversas mulheres na ciência, por meio da orientação em mestrados e doutorados. “O prêmio recebido de 50 mil dólares será aportado integralmente para premiações ou outras atividades de apoio a mulheres, com ênfase em mulheres com pesquisa em microbiologia agrícola”, destaca. Mariangela pretende retribuir as oportunidades que teve com ensino superior público de qualidade, da graduação ao doutorado, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP), em Piracicaba (SP) e na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em Seropédica (RJ). “Também fui bolsista de pós-doutorado e recebi apoio financeiro a projetos de pesquisa de extrema importância para nosso laboratório do CNPq. Pude dedicar minha carreira no desenvolvimento de pesquisas para a sustentabilidade agropecuária na Embrapa. Estou extremamente feliz por poder retornar uma pequena fração do que recebi e vou começar por esse prêmio”. 

O presidente da TWAS, Mohamed H.A. Hassan, reforçou que Mariangela é uma das principais microbiologistas de solo do mundo, especialmente na área de fixação biológica de nitrogênio. "Sua pesquisa contribuiu para a substituição bem-sucedida do fertilizante químico de nitrogênio por inoculantes microbianos, o que resultou na economia de bilhões de dólares no Brasil”, destacou. O vice-presidente sênior da Lenovo, George He, acrescentou: "Estamos muito satisfeitos em parabenizar os vencedores do prêmio deste ano, que são pesquisadores de grande sucesso nas ciências agrícolas. Tanto Li Jiayang, que fez descobertas indispensáveis importantes para a produção de arroz, e Mariangela Hungria, que introduziu importantes práticas agrícolas ecologicamente corretas no Brasil e empoderou mulheres em seu campo, são pesquisadores espetaculares”.

Em seis edições, as áreas contempladas foram Física e Astronomia (2013), Ciências Biológicas (2014), Matemática (2015), Química (2016), Geologia (2017) e Engenharia (2018). Nessas edições, somente em 2014 uma mulher foi premiada, pelos estudos sob prevenção da AIDS e saúde da mulher na Àfrica. Em 2020, na sétima edição, a agricultura foi contemplada pela primeira vez. Os dois vencedores do prêmio são agrônomos que conduzem pesquisas básicas e aplicadas envolvendo desde manipulação com genes até a adoção de tecnologias a campo. 

Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN) 

Mariangela explica que, somente em 2019, a Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN) trouxe uma economia de 14 bilhões de dólares ao Brasil. Isso porque para produzir 1 tonelada de soja são necessários cerca de 80 kg de nitrogênio. Esse nutriente é o mais requerido pela cultura e pode ser obtido gratuitamente na natureza, por meio de algumas bactérias do gênero Bradyrhizobium (risóbios). De acordo com a pesquisadora, essas bactérias são capazes de capturar o nitrogênio da atmosfera e transformá-lo em fertilizante para as plantas. A fixação biológica do nitrogênio dispensa a utilização de fertilizantes nitrogenados na cultura da soja; produtos que além de aumentar os custos de produção, podem ser prejudiciais ao ambiente.

Além dos trabalhos com rizóbios em soja, Mariangela também já coordenou pesquisas que culminaram com o lançamento outras tecnologias: autorização/recomendação de bactérias (rizóbios) para a cultura do feijoeiro, Azospirillum para as culturas do milho e do trigo e de pastagens com braquiárias e coinoculação de rizóbios e Azospirillum para as culturas da soja e do feijoeiro e melhoria das pastagens. “Em um curto espaço de seis anos, a coinoculação da soja já é adotada em 25% de toda a área cultivada com soja no Brasil, mostrando a importância da tecnologia”, destaca Mariangela. A pesquisadora trabalha com várias parcerias privadas no desenvolvimento de novos inoculantes já registrados e comercializados. 

Reconhecimento 

Em novembro de 2020, Mariangela Hungria foi classificada entre os 100 mil cientistas mais influentes no mundo, de acordo com estudo da Universidade de Stanford (EUA). O estudo, entitulado “Updated science-wide author databases of standardized citation indicators”, foi realizado a partir de um banco de dados mundial com sete milhões de cientistas e publicado no prestigioso periódico PLOS Biology. No estudo foram usadas as citações da base de dados Scopus, que atualiza a posição dos cientistas em dois rankings: 1) o impacto do pesquisador ao longo da carreira e; 2) o impacto do pesquisador em 2019.

Currículo 

Mariangela possui graduação em Engenharia Agronômica (USP-ESALQ), mestrado em Solos e Nutrição de Plantas (USP–ESALQ), doutorado em Ciência do Solo (UFRRJ) e pós-doutorado em três universidades: Cornell University, University of California-Davis e Universidade de Sevilla. A pesquisadora foi representante da área ambiental e do solo da Sociedade Brasileira de Microbiologia por 20 anos, foi a primeira presidente da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo e atuou como vice-presidente e presidente da RELARE (Reunião da Rede de Laboratórios para a Recomendação, Padronização e Difusão de Tecnologia de Inoculantes Microbianos de Interesse Agrícola), que reúne representantes da pesquisa, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e do setor privado. Também faz parte do comitê coordenador do projeto N2Africa, financiado pela Fundação Bill & Melinda Gates para projetos de fixação biológica do nitrogênio na África, além de projetos com praticamente todos os países da América do Sul e Caribe, além de países da Europa, Austrália, EUA e Canadá. 

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