Medidas de manejo contra murcha de Fusarium em tomate

Manejo deve incluir medidas preventivas e integradas como uso de mudas e sementes sadias, além de rotação de culturas com espécies não hospedeiras

18.09.2020 | 20:59 (UTC -3)
Cultivar Hortaliças e Frutas

A murcha de Fusarium é uma doença de grande importância em tomateiro, podendo inviabilizar o cultivo em determinadas regiões ou épocas do ano. A doença é causada pelo fungo de solo Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici, o qual apresenta distintas raças fisiológicas, das quais pelo menos três já foram identificadas no Brasil, conforme suas habilidades de infectar e causar doença em uma série de cultivares diferenciadoras. As raças 1 e 2 predominam na maioria das áreas de produção de tomate de mesa e para processamento, enquanto a raça 3 é mais restrita, tendo sido confirmada causando epidemias em áreas de produção de tomate de mesa nos estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais. Nas últimas décadas a doença não apresentava grande importância na cultura, pois as cultivares plantadas apresentavam resistência efetiva contra as raças prevalecentes do patógeno (1 e 2). Entretanto, com o aparecimento da raça 3 nas áreas de produção do Espírito Santo, a doença voltou a fazer parte dos principais problemas fitossanitários da tomaticultura, embora ainda não tenha sido relatada nas regiões de cultivo de tomate para processamento industrial no Brasil.

A doença ocorre em qualquer época ou fase de desenvolvimento do tomateiro, mais frequentemente em plantas adultas a partir dos estádios de florescimento e frutificação. Em viveiro, os sintomas da doença podem ser observados nas mudas na forma de clareamento das nervuras das folhas e curvamento dos pecíolos (epinastia). Contudo, estes sintomas têm sido atribuídos, na maioria dos casos, à raça 3 do patógeno. Os primeiros sintomas da doença são observados individualmente em algumas plantas ou em pequenas reboleiras, com o amarelecimento das folhas mais velhas, que gradualmente murcham e apresentam necrose marginal ou total do limbo, acompanhada de murcha das folhas superiores nas horas mais quentes do dia, devido ao comprometimento parcial do sistema vascular da planta pela presença do patógeno nos vasos do xilema. Com o progresso da doença, o amarelecimento aumenta de forma ascendente até atingir também as folhas mais novas. Nesta condição, os frutos não se desenvolvem, amadurecem ainda pequenos ou caem prematuramente. É comum a murcha ou o amarelecimento aparecer apenas em um lado da planta ou da folha.

Planta de tomateiro com amarelecimento unilateral causado por Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici.
Planta de tomateiro com amarelecimento unilateral causado por Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici.

Quando o caule de plantas com sintomas visíveis é cortado no sentido longitudinal observa-se uma coloração marrom característica na região do xilema, mais intensa na base do caule, enquanto a medula não apresenta nenhuma descoloração. É importante ressaltar que, em tomateiro, este sintoma é marcante, porém não exclusivo do ataque de F. oxysporum f. sp. lycopersici. Plantas de tomateiro infectadas por Verticillium dahliae também apresentam necrose vascular, porém não tão intensa quanto F. oxysporum f. sp. lycopersici. Nas raízes, observa-se inicialmente crescimento reduzido ou atrofia, mas com o tempo estas podem apodrecer. Plantas doentes apresentam crescimento reduzido e podem morrer após ter seu sistema vascular completamente comprometido pelo patógeno.

O patógeno pode ser disseminado para novas áreas de cultivo por meio de lotes de sementes contaminados, mudas, máquinas e ferramentas agrícolas contaminadas, ou pelo escoamento de enxurradas oriundas de lavouras infestadas, localizadas acima das novas áreas de cultivo. No campo, a doença é disseminada por meio da movimentação do solo e do escoamento de água de chuva e irrigação, podendo ser constatado pelo aumento do tamanho das reboleiras após ciclos sucessivos de cultivo.

Quando presente na área de cultivo, o fungo pode sobreviver no solo e em restos culturais de uma estação de cultivo para outra, ou períodos mais longos na forma de estrutura de resistência, conhecida como clamidósporo, que possibilita a sobrevivência do patógeno de forma viável por até oito anos no solo, mesmo na ausência do hospedeiro. Além dos clamidósporos, nos restos culturais contaminados são produzidos numerosos esporos do fungo, conhecidos como macroconídios e microconídios que, assim como as hifas do fungo, são responsáveis pela infecção das plantas.

Uma vez na planta, as hifas e/ou o tubo germinativo emitido pelos esporos do fungo penetram diretamente por aberturas naturais das raízes das plantas, formadas pela emissão de raízes laterais, ou em ferimentos provocados pelo atrito das raízes com o solo, insetos, nematoides ou por dandos mecânicos causados pelos tratos culturais. Após a penetração, as hifas do fungo crescem através do córtex da raiz intercelularmente e atingem os vasos do xilema. O micélio então se desenvolve no interior dos vasos, colonizando as células, produzindo esporos (microconídios) e promovendo a distribuição sistêmica do fungo pela planta, através da corrente ascendente de seiva. Em consequência desta colonização, a planta acumula géis, gomas e tiloses nos vasos como estratégia de defesa, o que resulta na obstrução dos vasos do xilema, dificultando a absorção de água e nutrientes para a parte superior da planta. Como consequência, a planta não absorve água e nutrientes necessários para a sua produção ou sobrevivência, culminando na sua morte.

O desenvolvimento do patógeno é favorecido por temperaturas entre 21°C e 33°C, ótima de 28°C, e alta umidade no solo. Plantas cultivadas em solos ácidos, pobres e deficientes em cálcio tendem a ser mais afetadas, assim como aquelas cultivadas em solo com baixos teores de nitrogênio e fósforo e alto teor de potássio. Solos com alta infestação de nematoides também propiciam o aumento da severidade da doença em alguns casos, em função dos ferimentos causados nas raízes, que servem de porta de entrada para o patógeno.

As medidas de controle adotadas para a murcha de Fusarium são preventivas, uma vez que, após a infestação do solo, é impossível a erradicação do patógeno. O plantio de cultivares resistentes às raças fisiológicas 1 e 2 de F. oxysporum f. sp. lycopersici tem sido adotado pela maioria dos produtores, pois atualmente existe um número significativo de cultivares resistentes disponíveis no mercado. Por outro lado, há grande preocupação com relação à raça 3, tendo em vista o número restrito de cultivares ou porta-enxertos resistentes disponíveis comercialmente.

Muitos produtores de tomate de mesa no país utilizam porta-enxertos de tomateiro resistentes como alternativa para o controle de doenças causadas por patógenos de solo em cultivos conduzidos em ambiente protegido. Neste sentido, pesquisas têm sido conduzidas com o objetivo de obter cultivares e porta-enxertos resistentes a esses patógenos, visto que o controle químico não é eficaz e economicamente viável para o manejo da doença.

Caule de tomateiro infectado por Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici com escurecimento característico dos vasos
Caule de tomateiro infectado por Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici com escurecimento característico dos vasos

O uso de sementes e mudas sadias e o plantio em áreas livres do patógeno são, naturalmente, recomendados. Práticas culturais como a solarização do solo e a rotação com culturas não hospedeiras (gramíneas) por pelo menos cinco anos, embora contribuam para a redução da população do patógeno no solo, são de custo elevado e eficiência limitada, devido à persistência do fungo no solo por anos. Outras medidas culturais, como calagem do solo, para aumentar o pH para 6,5 a 6,8, adubação equilibrada e emprego de compostos orgânicos, com o objetivo de aumentar a microflora antagonista, são recomendadas como medidas complementares.

A identificação e o correto diagnóstico da doença são essenciais para um manejo adequado. É importante que o produtor conheça o histórico da área e adote sempre medidas preventivas, de modo a impedir a contaminação de novas áreas. Uma vez contaminada a área, o produtor deve realizar a rotação de culturas com espécies não hospedeiras, preferencialmente gramíneas para reduzir a população do patógeno e auxiliar na recuperação das áreas. Enfim, vale ressaltar que as medidas de prevenção e controle devem ser adotadas de forma integrada, o que levará o produtor a conseguir uma produção mais segura e rentável.

Ricardo Borges Pereira e Alexandre Augusto de Morais, Embrapa Hortaliças

Cultivar Hortaliças e Frutas Setembro 2020

A cada nova edição, a Cultivar Hortaliças e Frutas divulga uma série de conteúdos técnicos produzidos por pesquisadores renomados de todo o Brasil, que abordam as principais dificuldades e desafios encontrados no campo pelos produtores rurais. Através de pesquisas focadas no controle das principais pragas e doenças do cultivo de hortaliças e frutas, a Revista auxilia o agricultor na busca por soluções de manejo que incrementem sua rentabilidade. 

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