Mercado brasileiro de defensivo biológico projeta expansão anual de 15% nos próximos anos

Dados foram analisados durante o Biocontrol Latam 2016, evento encerrado nesta quinta-feira (17), em Campinas/SP

17.11.2016 | 21:59 (UTC -3)
Noemi Oliveira

O mercado brasileiro e mundial de defensivos agrícola biológicos tem registrado forte crescimento nos últimos anos. No mundo, a média anual de crescimento gira hoje na casa dos 10% e este ano deve atingir US$ 3 bilhões, valor que representa 5% do mercado total de defensivos, incluindo os químicos. Já no Brasil, a perspectiva é de uma expansão média anual de 15% para os próximos anos. Atualmente, o mercado brasileiro representa 2% de um volume anual de defensivos que, em 2015, foi da ordem de R$ 9,6 bilhões.

Os dados foram analisados pelos conferencistas e participantes do Biocontrol Latam 2016 – Conference & Exibition, evento promovido desde dia 15 em Campinas/SP e encerrado nessa quinta (17). “A tendência de expansão do uso de defensivos biológicos é um movimento que não tem volta no Brasil e no mundo”, afirmou Pedro Faria Jr., presidente da ABC Bio – Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico, que deu suporte organizacional ao evento, realizado pela primeira vez na América Latina.

Para um dos organizadores do Biocontrol Latam 2016, William Dunham, sócio-gerente da DunhamTrimmer & Editor, que edita a 2BMonthly, uma das promotoras do encontro, a maior prova da importância que o mercado brasileiro vem adquirindo no contexto mundial de defensivo biológico é o fato de o Biocontrol Latam ter sido programado pela primeira vez no Brasil. “O evento só é realizado em mercados nos quais há grande potencial de crescimento do uso de biodefensivos. Daí a decisão de, a partir de agora, fazermos um revezamento na sua promoção, realizada a cada dois anos. Faremos uma vez na Ásia e outra na América Latina, com destaque para o Brasil”, informa Dunham.

Além da 2BMonthly, o Biocontol Latam é uma iniciativa da NewAg International, editora especializada em publicações técnicas sobre agricultura moderna, e reuniu centenas de participantes entre consultores, especialistas e empresários do segmento que debateram os desafios, oportunidades, além de avaliar as perspectivas futuras da área de defensivo biológico em todos os mercados do mundo. “Entendemos que o defensivo biológico se consolida como principal opção do produtor para combate a pragas e doenças, em função das deficiências do uso exclusivo do defensivo químico, que é utilizado há 50 anos e que, portanto, já não alcança a mesma eficácia”, comenta Faria Jr.

O presidente da ABC Bio acrescentou ainda, em entrevista coletiva realizada durante o evento, que o biológico é uma alternativa confiável e fundamental para um país que, em 30 anos saiu de uma produção anual de 50 milhões de toneladas de grãos, para 200 milhões de toneladas. “Outra razão que indica o bom potencial do Brasil é que quase a totalidade das grandes companhias de defensivos químicos já atua no país com produtos biológicos”, acrescenta.

A avaliação do presidente da ABC Bio foi confirmada pela apresentação feita por Fábio Brandi, responsável pela área de biológicos da Bayer no Brasil. Anunciando o lançamento de um novo produto biológico, Brandi lembrou que a Bayer vem investindo no segmento biológico desde 2009; que já adquiriu várias empresas dessa área; possui um banco de aproximadamente 100 mil genes de microorganismos em estudo ou desenvolvimento e que já integrou o Biológico como um quarto pilar de negócios da companhia, hoje formado por Sementes, Agroquímicos e Serviços. “Com essa estratégia, a Bayer atende uma demanda dos agricultores, que querem maior produtividade e rentabilidade, mas também o desejo dos consumidores que buscam, cada vez mais, menor toxidade nos seus alimentos. E isso só pode ser feito por meio do biológico, que possibilita um adequado Manejo Integrado de Pragas (MIP), onde também continua sendo utilizado o componente químico”, comentou Brandi.

Apesar do otimismo e das perspectivas de expansão do mercado, o presidente da ABC Bio detecta algumas questões importantes. “Temos dois grandes problemas para o pleno desenvolvimento e crescimento do defensivo biológico no Brasil: os produtos ilegais e os gargalos na área de treinamento e capacitação do pessoal necessário para disseminar a aplicação dos produtos”, destaca Faria Jr. Segundo relata, há um contingente enorme de produtos que são processados em condições totalmente inadequadas e de forma improvisada. “Além de não se ter controle sobre que tipo de micro-organismo está sendo manuseado, a preparação inadequada de biológicos acaba por comprometer a eficácia da aplicação, afetando a imagem do setor”, comenta Faria Jr.

O outro ponto destacado pelo presidente da ABC Bio é o da necessidade de se ter um amplo programa, inclusive com suporte governamental, para treinar e capacitar pessoas a fazer o manejo adequado da aplicação e uso dos biológicos, da mesma forma que foi feito quando da introdução dos defensivos químicos no país. No campo da regulamentação de novos produtos pelos órgãos competentes, outro ponto nevrálgico do segmento, o evento também trouxe algumas novidades, além da constatação de vários participantes sobre o excesso de burocracia e de regulação que posterga a aprovação de novos agentes biológicos, que pode demorar mais de dois anos.

Na palestra de Caio Augusto de Almeida, gerente de avaliação toxicológica da Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, foi destacado o avanço alcançado nos últimos anos no quesito liberação de novas agentes biológicos. Para ele, graças a reformulação interna do órgão, já se constata uma aceleração nos processos de avaliação. Segundo informa, em 2013 foram aprovados apenas seis produtos, número que subiu para 16, em 2014, 47, no ano passado, e que neste ano já chega a 54. “Temos tido um ganho significativo devido a pequenas mudanças que fizemos nos departamentos da Anvisa, o que permitiu reduzir o tempo médio de análise de 200 para 80 dias”, relata Almeida, salientando que o trabalho de agilização terá sequência.

Além da participação do representante da Anvisa, o Biocontrol Latam 2016 contou ainda com as participações de gestores de todos os importantes órgãos ligados aos defensivos. Um exemplo, foi a presença da Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, representada, na abertura do encontro, pelo seu diretor de pesquisa, Ladislau Martin. Assim como a Embrapa, as mais importantes entidades e empresas de defensivos biológicos nacionais e internacionais participaram no evento, que contou com representantes de 11 países, num total de 40 palestrantes que detalharam avanços tecnológicos e desafios do setor.

EXPOSIÇÃO – Em paralelo ao plenário dos debates, o Biocontrol Latam 2016 também reuniu um grupo de 18 empresas, nacionais e internacionais, assim como entidades ligadas aos defensivos biológicas para exibição das inovações tecnológicas, lançamentos, disseminação de conhecimento sobre a área, além da realização de negócios. A exposição atraiu um público estimado em 1.200 pessoas durante os três dias do evento, servindo também de importante ponto para a realização de networking entre profissionais da área, técnicos, representantes governamentais, engenheiros, empresários, empreendedores e integrantes da academia. Participação na exposição, em ordem alfabética: ABC Bio – Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico, Arysta Lifescience, Atlantica Agrícola, Ballagro, Basf, Bayer Crop Division, Biobest, Biokrone, Greencorp México, Koppert Biological Solutions, Laboratório Farroupilha/ Lallemand, Monsanto Bioag, SGS Group, Simbiose Agro, Sipcam, Stoller do Brasil, Sumitomo Chemical Brasil, TSG/CESIS e Vignabrasil/UDI/Tecam.

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