​Novos trigos de ciclo precoce podem ampliar a produtividade

Filhos de TBIO Toruk têm ciclo precoce e superprecoce, além de proporcionar maior qualidade e segurança para a lavoura. Cultivares foram apresentadas no Seminário Técnico de Trigo, nesta quinta-feira (04), em Carazinho/RS

05.05.2017 | 20:59 (UTC -3)
Daniela Wietholter Lopes

O sistema de produção de um agricultor tem como objetivo rentabilizar ao máximo a área durante o ano. Uma das alternativas é semear diferentes culturas com menor ciclo durante o mesmo ano, onde o trigo entra como estratégia. Duas novas linhagens de trigo que atendem a esta demanda do produtor e da indústria moageira foram apresentadas na última quinta-feira (4), durante o Seminário Técnico de Trigo, realizado em Carazinho/RS. O evento também trouxe posicionamentos para a próxima safra de trigo do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, como a importância de acompanhar o clima para reduzir a incidência de doenças e da escolha do material genético para potencializar a produtividade, além de novidades para o setor da pecuária. Cerca de 300 pessoas participaram do evento, entre produtores de sementes, cerealistas, recomendantes, representantes do setor moageiro e todos aqueles envolvidos na cadeia produtiva do trigo.

Produzir mais em menos tempo, sem perder qualidade, ajuda a garantir uma lavoura mais rentável. Segundo o diretor de negócios da Biotrigo Genética, André Cunha Rosa, os lançamentos apresentados foram os primeiros filhos do TBIO Toruk, linhagens que, além de trazer melhorias na resistência a doenças e mais produtividade, possuem ciclo mais precoce. Ambas as cultivares possuem características melhores que o TBIO Toruk, facilitando o manejo em relação a doenças. “O TBIO Toruk está sendo um grande sucesso pela produtividade e a qualidade que vem apresentando e será o mais plantado em 2017 no país. Essas duas linhagens, pelo conjunto de características que possuem, também devem estar entre os cinco mais plantados no Brasil até 2019”, projeta.

Filhos do TBIO Toruk

A linhagem BIO 131364, que tem como nome sugerido TBIO Sonic, é um trigo Melhorador com ciclo superprecoce: ciclo 20 dias mais curto que o TBIO Toruk. Esta linhagem possui alto vigor de planta, elevada produtividade e resistência à diversas doenças, especialmente à brusone, bacteriose e mosaico. A superprecocidade do TBIO Sonic permitirá que culturas intercalares, como o nabo forrageiro, sejam mais eficientes tendo em vista um maior tempo disponível para desenvolvimento de biomassa e reciclagem de nutrientes. “É uma grande ferramenta para o produtor, pois oferece uma combinação de ciclo curto, qualidade e produtividade, inéditos para o campo” explica André.

A linhagem BIO 131450, cujo nome sugerido é TBIO Audaz, é um trigo de ciclo precoce (com aproximadamente 10 dias a menos que o TBIO Toruk) e com uma qualidade industrial Melhorador. Segundo o melhorista e diretor da Biotrigo Ottoni Rosa Filho, o TBIO Audaz será um grande aliado de cultivares já consolidadas como o TBIO Sinuelo, TBIO Toruk e TBIO Sossego. “É um material precoce que vem para melhorar ainda mais a qualidade industrial do trigo produzido no país, oferecendo ainda maior segurança na lavoura e elevada produtividade”, comenta Ottoni. A linhagem apresenta boa resistência às principais doenças do trigo, como o complexo de manchas foliares, mosaico, brusone, giberela e bacteriose.

Trigo como alimento para o gado de leite e de corte

O trigo para a produção de silagem, além de ser uma alternativa de alimento de qualidade no inverno, aumenta a produtividade de leite. O produtor Antônio Carlos Bordignon, de Sertão/RS, tem 180 animais em lactação e obteve no início deste ano um crescimento na produção de leite de cerca de 10%, com a silagem produzida a partir da cultivar TBIO Energia I. Agora, os pecuaristas de outras regiões irão ter a oportunidade de gerar mais renda na propriedade. A linhagem BIO 112049, que leva como nome sugestivo TBIO Energia II, também destinada para produção de pré-secado e silagem vem para contemplar as demais regiões onde o TBIO Energia I ainda não está presente. De acordo com o zootecnista da Biotrigo, Ederson Luis Henz, os principais destaques da linhagem são a ausência de aristas, a elevada produção de matéria verde e a sanidade foliar, além de ser 20 dias mais precoce que o TBIO Energia I. A linhagem vai acessar inicialmente as regiões mais quentes do Brasil, do Norte e Oeste paranaense até o até o Cerrado, atendendo essas regiões que têm uma grande bacia leiteira e de corte.

Além do TBIO Energia II, outra alternativa para produção animal lançada durante o seminário é o primeiro trigo para pastejo desenvolvido com genética Biotrigo. Posicionada exclusivamente para pastagem, a cultivar, cujo nome proposto é TBIO Lenox, visa atender a demanda dos criadores de gado leiteiro e de corte. A linhagem, com bom manejo pós-pastejo, é capaz de superar 4 cortes com alta carga animal em sistemas de pastejo rotacionado ou contínuo. Entre as características da cultivar está a alta palatabilidade, excelente sanidade foliar, elevada produção de biomassa e a alta capacidade de rebrota.

Reguladores de crescimento na cultura do trigo

A utilização de regulador de crescimento na cultura do trigo contribui no manejo do acamamento. Os ganhos com produtividade para as cultivares suscetíveis podem chegar a 30%, com reflexos positivos sobre a qualidade. O manejo de trigo com regulador de crescimento foi o assunto da palestra do engenheiro agrônomo e gerente técnico da Fundação ABC do Paraná, Luís Henrique Penckowski. Segundo o pesquisador, um dos primeiros efeitos após a aplicação do regulador de crescimento (Moddus) é a mudança de arquitetura das plantas. “As folhas ficam eretas, isto implica em melhor aproveitamento da radiação solar pelas plantas principalmente pelos perfilhos”. Outro benefício da mudança na arquitetura é que a deposição da calda de pulverização, principalmente dos fungicidas, melhora, facilitando o manejo de doenças na cultura de trigo.

Clima 2017 e as doenças do trigo

Em 2017 o clima deve ser mais frio até o mês de agosto, com uma distribuição de chuvas normais. Esta condição, de frio e umidade de solo na semeadura, favorece a ocorrência do Mosaico Comum nas fases iniciais da lavoura de trigo. Já na primavera, as previsões apontam para uma temperatura acima da média e um maior volume de chuva, o que alerta para a possibilidade da ocorrência da Giberela. Segundo o fitopatologista da Biotrigo Genética, Dr. Paulo Kuhnem, o produtor precisa estar preparado para escolher bem o material genético e aplicar o fungicida no momento certo para garantir uma lavoura com sanidade. “A ocorrência das doenças é influenciada pelas condições climáticas da safra de trigo, mas a intensidade em uma lavoura pode ser reduzida pelas medidas integradas de manejo que nós vamos adotar”.

O fitopatologista também alertou ainda que em fevereiro de 2017, a ANVISA regulamentou o limite máximo tolerável de DON (micotoxina produzida pelo fungo da giberela) nos grãos de trigo em 3 ppm, o que faz com que o produtor precisa estar ainda mais preparado para escolher bem o material genético e aplicar o fungicida no momento certo para garantir uma lavoura com qualidade de grãos que atendam esta nova legislação.

Projeções positivas para o mercado

O analista sênior da Consultoria Trigo & farinhas, Luiz Carlos Pacheco, explicou como é o comportamento das cotações do trigo. Segundo ele, a redução de área no Brasil e o volume e a qualidade do trigo produzido no mercado internacional são fatores de influência no preço interno. A previsão de uma redução na área de trigo nesta safra deve fazer com que o preço pago pelo cereal aumente. “Deve haver uma oferta menor de produto por conta dessa redução de área no Brasil. Externamente, os fundos de investimento excessivamente vendidos e problemas de clima nas áreas de produção de trigo de inverno nos Estados Unidos tendem a valorizar quem plantar trigo nesta próxima safra”. Para Pacheco, é preciso que o produtor, além da área agronômica, domine as questões mercadológicas. “Os produtores sempre dizem que o trigo não dá lucro, mas é o contrário. Eles não usam todas as ferramentas de comercialização. Não é por culpa deles, mas da própria estrutura do mercado. O mercado está estruturado para desenvolver uma produção grande e boa e não está estruturado para uma boa comercialização”.


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