Pesquisa desenvolve primeiros cafés híbridos para a Amazônia

Novas plantas reúnem a produtividade do conilon e a resistência do robusta

14.05.2019 | 20:59 (UTC -3)
Embrapa

Pela primeira vez, produtores de café da Amazônia Ocidental e do noroeste de Mato Grosso contarão com cultivares clonais individuais de café, proporcionando liberdade de escolha e agregação de valor à lavoura. Com um pacote tecnológico lançado pela Embrapa Rondônia, além de o cafeicultor saber quais clones deverão ser combinados na lavoura, será possível também escolher cada material de acordo com as características desejadas: produtividade, qualidade da bebida, resistência a doenças, entre outras.

Isso porque os pesquisadores desenvolveram cultivares clonais que reúnem vantagens das variedades conilon e robusta. Os novos materiais mostraram alta produtividade de café beneficiado, resistência à ferrugem e ao nematoide das galhas, boa qualidade de bebida e adaptação às condições edafoclimáticas da região amazônica.

As plantas do café conilon se caracterizam pelo menor porte e maior resistência à seca, enquanto as do robusta apresentam aspectos complementares como maior vigor vegetativo, grãos maiores e menor resistência ao déficit hídrico. Plantas híbridas, provenientes de cruzamentos naturais ou direcionados, têm se destacado nas avaliações de campo por expressar as melhores características dessas duas variedades.

Os clones foram desenvolvidos para serem cultivados em conjunto com outros, de modo a permitir a formação de novos cafezais de acordo com as preferências do produtor. Na prática, o pesquisador da Embrapa Rondônia, Alexsandro Teixeira, acredita que o produtor terá mais liberdade de escolha, tendo como resultado um produto final de maior valor agregado, atrelado a uma agricultura mais sustentável, com menos defensivos, e com uso mais eficiente da terra. Ele exemplifica que, caso o objetivo seja alta produtividade, o cafeicultor poderá utilizar clones que tenham essa característica.

“Da mesma forma, os cafeicultores que têm a qualidade da bebida como prioridade poderão optar por cultivares com maior potencial de gerar frutos graúdos e bebidas finas”, afirma o pesquisador da Embrapa, Enrique Alves. Já se a realidade da propriedade é o cultivo em ambientes sujeitos a déficit hídrico e problemas fitossanitários, a opção pode ser por clones menos exigentes em insumos agrícolas e mais tolerantes a pragas e doenças, por exemplo.

Com a disponibilização dos clones individualmente, recomenda-se que os produtores formem lavouras com plantas dos três grupos de compatibilidade identificados. Uma boa eficiência de polinização pode ser assegurada com a utilização de linhas polinizadoras ou com o cultivo de um número mínimo de clones. Os pesquisadores informam que o cultivo de seis clones, dois de cada grupo de compatibilidade, em iguais proporções, propicia uma boa eficiência de polinização. No entanto, quando não se conhece a compatibilidade, eles recomendam o cultivo de cerca de nove clones distintos para favorecer a polinização entre as plantas.

Segundo o pesquisador da Embrapa Rondônia, Rodrigo Rocha, essa prática é fundamental para garantir a estabilidade de produção, reduzir os riscos do cultivo e manter a variabilidade genética nos cafezais. Do contrário, a plantação ficará mais vulnerável a pragas, doenças ou fatores climáticos que podem ser desastrosos para a produção.

Pesquisa atende demanda do mercado do café

A demanda por cafés clonais, mais produtivos, tem crescido na região amazônica. Considerando a área plantada com café no estado, estimada em 72 mil hectares, tem-se uma área potencial para renovação de 36 mil hectares. Com uma densidade de três mil plantas por hectare, estima-se uma demanda de cerca de 108 milhões de mudas, apenas para a renovação da área atualmente cultivada em Rondônia, sem considerar a instalação de novos plantios. “Temos também como mercados potenciais os estados de Mato Grosso, Amazonas e Acre, nos quais os novos clones também foram testados e apresentaram boa adaptabilidade às condições locais”, acrescenta o analista da Embrapa Rondônia, Calixto Rosa.

Ele conta que a cafeicultura em Rondônia vem passando por transformações positivas nos últimos anos, com a adoção de novas tecnologias de cultivo, principalmente pela utilização de mudas clonais, práticas adequadas de manejo da cultura, uso de corretivos, fertilizantes e irrigação.

De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), embora a área plantada tenha diminuído 77% nos últimos 19 anos, a produtividade cresceu 321%, devendo alcançar por hectare 32,8 sacas (60 kg) de café beneficiado na safra 2019, com produção estimada de 2,1 milhões de sacas.

Os novos clones foram desenvolvidos, preferencialmente, para cafeicultores que utilizam média tecnologia de produção, considerando práticas como a calagem, conservação de solo e água, adubação, poda de condução, controle químico e biológico de pragas, doenças e plantas daninhas, produção de café com qualidade e, quando necessário, irrigação suplementar, conforme recomendações publicadas no Sistema de Produção Cultivo dos Cafeeiros Conilon e Robusta para Rondônia.

Instituições parceiras para desenvolvimento das novas cultivares de café

O desenvolvimento das novas cultivares contou com a parceria de diferentes instituições públicas de ensino e pesquisa e de cafeicultores: Entidade Autárquica de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Rondônia (Emater-RO), Embrapa Café, Instituto Capixaba de Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Instituto Agronômico (IAC),  Universidade Federal de Rondônia (Unir), Embrapa AcreConsórcio Pesquisa Café, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Amparo ao Desenvolvimento das Ações Científicas e Tecnológicas e à Pesquisa do Estado de Rondônia (Fapero), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Secretaria de Agricultura do Estado de Rondônia (Seagri).

“Foi fundamental a atuação dos cafeicultores parceiros, a quem gostaríamos de agradecer, especialmente, e beneficiar com os esforços das instituições de ensino, pesquisa e extensão participantes”, destaca o pesquisador da Embrapa Rondônia, Alexsandro Teixeira.

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