
Erosão hídrica custa ao Brasil mais de US$ 5 bilhões anuais somente para a reposição de nutrientes perdidos.
Um estudo da Embrapa identificou e mapeou as áreas suscetíveis e vulneráveis à erosão hídrica do estado de Alagoas. Foram elaborados três mapas temáticos que poderão apoiar o setor produtivo e o poder público na tomada de decisão para priorização e seleção das unidades territoriais mais vulneráveis à erosão em programas de conservação, recuperação ou reinserção de áreas com potencial produtivo. Os mapas de erodibilidade, de vulnerabilidade e de suscetibilidade do solo à erosão hídrica de Alagoas, na escala 1:250.000, serão disponibilizados para a sociedade na plataforma Geoinfo, interligada à Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais (Inde), após a entrega ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
O método, desenvolvido por uma equipe de pesquisadores e analistas da Embrapa Solos (RJ), formada por especialistas em ciência do solo, agrometeorologia, planejamento regional e agricultura digital, levou em consideração dois aspectos: a suscetibilidade e a vulnerabilidade do solo à erosão hídrica. Eles estão relacionados, respectivamente, à predisposição e ao risco de degradação dos solos nas áreas do estado.
Dados produzidos por instituições de pesoPara o processamento e análise espacial dos dados, que geraram os mapas com informações inéditas para o estado de Alagoas, a equipe utilizou o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS) e diversas bases de dados disponibilizadas por instituições como Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Fundação Nacional do Índio (Funai), Ministério do Meio Ambiente (MMA), Agência Nacional de Águas (ANA), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento da Universidade Federal de Goiás (Lapig/UFG), plataforma MapBiomas e Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), que desenvolveu o Modelo de Erosividade das Chuvas para o Brasil. |
“O primeiro expressa a suscetibilidade natural dos solos à erosão em sua ambiência, ou seja, considerando o relevo em que se encontram e as condições climáticas às quais estão submetidos. Dessa forma, por meio de modelagem conceitual baseada na interpretação especialista, realizamos a integração dos dados sobre a erodibilidade do solo, a declividade do terreno e a erosividade das chuvas para obter o mapa de suscetibilidade. O mapa de vulnerabilidade, por sua vez, ao integrar a suscetibilidade natural dos solos com o nível de exposição destes à erosão, em função do uso agropecuário ou da cobertura vegetal natural, traz a noção de risco das áreas aos processos erosivos”, detalha o pesquisador Rodrigo Demonte.
De acordo com o analista Ricardo Dart, a plataforma Geoinfo, que disponibilizará para o público as informações e os dados espaciais produzidos pelo estudo, segue padrões seguros e de qualidade que possibilitam a preservação dos dados. “Ela é de grande valia para gestores de políticas públicas, possibilitando a geração de novas informações a partir das disponibilizadas e a sua difusão para toda a sociedade”, declara.
Panorama da erosão em todo o Brasil
A pesquisadora Margareth Simões revela que a Embrapa Solos irá lançar, nos próximos meses, os mapas nacionais de vulnerabilidade e de suscetibilidade do solo à erosão hídrica. “A mesma metodologia será implementada para o processamento dos dados em todos os estados e no Distrito Federal, o que nos permitirá tornar disponíveis as informações sobre a suscetibilidade e a vulnerabilidade do solo à erosão hídrica, que é o principal fator de degradação das terras e da perda de potencial produtivo em todo o País.”
Os mapas originados pelo estudo mostram que, no estado de Alagoas, predominam áreas com muito baixa a moderada suscetibilidade à erosão (veja figura 1), embora exista uma concentração de áreas de elevada erodibilidade natural, sobretudo aquelas situadas a oeste, no Sertão (veja figura 3).
De acordo com a pesquisadora, a condição de relativa suavidade do relevo no Sertão alagoano constitui o principal fator responsável por esse contraste, já que o relevo é um dos maiores controladores da erosão hídrica, neste caso, amenizando o efeito dos processos erosivos. “No entanto, as áreas de muito alta e alta suscetibilidade à erosão não são desprezíveis e se encontram dispersas em todo o estado, normalmente associadas aos locais de elevada erodibilidade natural e formas de relevo mais acidentadas”, revela.
Já quando o componente uso e cobertura do solo é integrado à suscetibilidade à erosão, observa-se a maior vulnerabilidade dos solos aos processos erosivos nas áreas agrícolas, como pode ser visto acima na figura 2, que mostra locais de muito alta vulnerabilidade à erosão que coincidem com as principais áreas de cultivo de lavouras anuais (milho, feijão e mandioca) e perene (fumo), localizadas especialmente no Agreste e na Zona da Mata alagoanos.
Em contrapartida, a oeste do estado, no Sertão alagoano, predominam as classes de vulnerabilidade baixa a moderada (figura 2), apesar da expressiva erodibilidade dos solos e da relativa suscetibilidade, muito provavelmente devido à maior proteção do solo pela vegetação natural de Caatinga e uso agropecuário menos intensivo em relação às áreas ocupadas com uma agricultura mais intensiva.
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O tamanho bilionário do buraco
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO/ONU), a erosão causada pela água, vento e preparo do terreno continua sendo a maior ameaça à saúde do solo e aos seus serviços ecossistêmicos em muitas regiões do mundo. Trata-se, portanto, de uma ameaça global à produção de alimentos, à disponibilidade futura de terras para a agricultura e à qualidade da água, afetando a saúde humana, a biodiversidade do planeta e a subsistência do meio rural.
Muitos estudos apontam que, nas áreas agrícolas, a erosão do solo reduz sua capacidade de infiltração, disponibilidade e drenagem da água, prejudica a profundidade de enraizamento das plantas e favorece a perda de água, solo, matéria orgânica, fertilizantes e nutrientes. E, ainda, as partículas deslocadas dos locais erodidos causam sedimentação e poluição de águas superficiais, bloqueio de cursos d’água e destruição de infraestruturas, causando perdas econômicas significativas para produtores e toda a sociedade.
No Brasil, uma pesquisa recente da Embrapa publicada em 2019 estimou um potencial de perdas anuais de solo de 1,18 bilhão de toneladas devido à erosão hídrica, totalizando um custo anual de US$ 5,2 bilhões apenas com a reposição de nutrientes perdidos em áreas agrícolas, o que representou aproximadamente 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária brasileira no ano de 2007.
“A caracterização da erosão do solo e a avaliação dos custos e benefícios de práticas que promovam a sua prevenção são, portanto, importantes para informar e subsidiar os tomadores de decisão e apoiar políticas públicas orientadas à mitigação desse problema tão grave para o setor da agropecuária nacional. É isso que preconiza a FAO e é esse o objetivo desse nosso trabalho de caracterização da erosão hídrica do solo nos estados brasileiros, que começamos por Alagoas”, reforça Margareth Simões.