​Pesquisa no RJ mostra que adensamento aumenta produtividade do café por área

Estudioso fez acompanhamento de variedades da cafeicultura de montanha durante 13 anos

15.12.2016 | 21:59 (UTC -3)
Aline Proença

Uma pesquisa realizada pelo Núcleo de Pesquisa Participativa, do Programa Rio Rural, em parceria com a Pesagro-Rio, Faperj e o Consórcio Brasileiro de Pesquisa & Desenvolvimento do Café, mostrou que o adensamento dos pés de café eleva a produtividade. O Noroeste Fluminense é o maior produtor de café do estado do Rio, com produção média anual de 260 mil sacas, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O resultado pode se tornar ainda melhor com a alteração no manejo dos cafezais.

Entre 2004 e 2016, Wander Eustáquio de Bastos, da Pesagro-Rio, estudou o comportamento dos cafezais submetidos a diversas combinações de espaçamento. Os testes foram feitos na fazenda Calendária, no município de Bom Jesus do Itabapoana. Entre os diversos arranjos de plantas, o espaçamento que se mostrou mais produtivo foi o de 2m x 0,5m, dois metros entre as linhas de café e meio metro de distância entre os pés de café na mesma linha.

“A diferença entre o arranjo que se mostrou o mais produtivo e as outras combinações é grande, com até 18% a mais na quantidade de sacas por hectare”, enfatiza Bastos.

A pesquisa revelou que se o espaçamento entre os pés de café nas linhas for menor do que meio metro, o sistema sufoca a planta, provocando a perda de cobertura inferior do cafeeiro, conhecida como “saia”. Se a distância for superior a meio metro também não é vantajoso, pois a área total é subutilizada, diminuindo a quantidade que poderia ser colhida.

O adensamento no Noroeste Fluminense

O adensamento na lavoura de café é uma boa alternativa para os produtores do Noroeste Fluminense, que praticam a cafeicultura de montanha. Os quatro municípios produtores de café da região – Varre-Sai, Bom Jesus do Itabapoana, Porciúncula e Natividade – possuem características semelhantes. Os cafezais ficam em terrenos com mais de 600 metros de altitude, são da variedade catuaí e possuem cerca de 3 mil pés por hectare. Em média, são colhidas 20 sacas em áreas com essas características.

Bastos acredita o espaçamento 2m x 0,5m pode triplicar o número de plantas por hectare. A região detém pontos favoráveis à implementação do adensamento, como altitude, clima e temperatura.

Na cafeicultura de montanha, devido aos gastos com mão de obra (as máquinas têm dificuldade para operar em morros), o custo pós-colheita representa até metade do valor da saca de café arábica colhido manualmente, hoje vendida no mercado por R$ 438. “Com o aumento do número de pés de café por área, o custo de produção por saca vai cair, melhorando os lucros do produtor”, afirma o pesquisador.

Na balança

O sistema de adensamento possui outras vantagens, como maior concentração de matéria orgânica, que potencializa a umidade do solo. A incidência de pragas também é menor. Os principais pontos negativos do sistema são a poda (feita a cada seis anos) e o dia a dia de trabalho, pois o espaçamento prejudica os tratos culturais normais da lavoura.

“O adensamento é bom, mas é preciso selecionar uma variedade resistente à ferrugem, que responda bem à rebrota e que tenha porte baixo”, pondera o estudioso. Ele afirma que o ideal é ter a avaliação de extensionistas. Nos escritórios locais da Emater-Rio, os produtores podem contar com o apoio dos técnicos do Rio Rural. Nos últimos dois anos, o programa investiu quase R$ 3 milhões em projetos para fortalecer a cadeia produtiva do café no estado.

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