Pesquisador aponta potencial e desafios para soja em novas regiões do NE

Apresentar os resultados dos ensaios recentes com mais de 50 cultivares de soja e seu alto desempenho produtivo no Agreste e Tabuleiros Costeiros foi o objetivo do evento

09.05.2017 | 20:59 (UTC -3)
Saulo Coelho

Apresentar os resultados dos ensaios recentes com mais de 50 cultivares de soja e seu alto desempenho produtivo no Agreste e Tabuleiros Costeiros, na nova fronteira agrícola denominada SEALBA – recorte territorial que abrange novas áreas com alto potencial para grãos em Sergipe, Alagoas e Bahia.

Este foi o objetivo da palestra realizada pelo pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju, SE) Sérgio Procópio na noite da segunda-feira (8) na sede da Associação de Engenheiros-Agrônomos de Sergipe (AEASE).

Procópio, que coordena estudos para adaptação de cultivares à região desde 2013, fez a apresentação dos dados e debateu com os participantes – agrônomos associados, atores do setor produtivo, assistentes técnicos, representantes de empresas de insumos e agentes públicos.

Promovido pela AEASE, o evento teve apoio da Embrapa, Conselho Regional de Engenheria e Agronomia de Sergipe (CREA-SE), da Caixa de Assistência do CREA-SE (Mútua) e Infographics. Prestigiaram o encontro diversos representantes da classe e autoridades, entre elas o secretário da Agricultura de Sergipe, Esmeraldo Leal, o presidente da AEASE, Fernando Andrade, e o chefe-geral da Embrapa Tabuleiros Costeiros, Manoel Moacir Macedo.

Diversificação
A soja pode ser uma grande aliada na diversificação e plantios e diminuição das áreas de monocultivo. A cultura pode ajudar no enfrentamento das crises que trazem queda de preço das commodities e perdas para os produtores no SEALBA, especialmente no cinturão do milho, em Sergipe, e na secular monocultura da cana em Alagoas, que nos últimos anos tem sofrido com crises severas, com redução de área plantada e fechamento de usinas.

De acordo com Procópio, a soja, por ser uma cultura de grande valorização, tem grande potencial de ganhos para os produtores da região, pois pode atender a importantes demandas regionais e globais de mercado. "No Nordeste há uma grande demanda por soja para compor a alimentação animal nas fazendas e granjas de quase todos os estados, e a posição estratégica do território, com proximidade de portos, ajuda a baratear custos de frete e escoar parte da produção para exportação", explica o pesquisador.

Outro fator importante, de acordo com Procópio, é a diferença entre os ciclos de clima no SEALBA e as nas regiões tradicionais no restante do país, com chuvas em diferentes épocas do ano. As chuvas no SEALBA ocorrem no meio do ano, durante o inverno, e nas demais regiões a estação chuvosa é o verão. "Isto demonstra um grande potencial para atendermos às demandas fora da safra do Sul e Centro-oeste, além de nos dar a oportunidade de sermos um grande banco de sementes de alta qualidade para fornecimento aos produtores dessas regiões, que começam a plantar no final do ano", acredita.

Desempenho
Além de bom desempenho de produtividade, a soja traz a vantagem de fixar nitrogênio no solo por meio de bactérias inoculadas, dispensando a aplicação de toneladas de fertilizantes nitrogenados, o que traz grande economia de insumos.

Segundo dados dos primeiros ensaios de campo em 2013 e 2014, a produtividade da grande maioria dos materiais apresentou desempenho acima da média nacional – em torno de 48 a 55 sacas por hectare. Especialmente no Agreste, onde o solo é mais rico em nutrientes e apresenta temperaturas mais baixas à noite, mais de 40 variedades e cultivares superaram as médias nacionais, com algumas chegando até 5 toneladas por hectare.

Análises de grãos de soja produzidos em Frei Paulo, SE, (safra 2014/2015) demonstraram altos teores de proteína, com valores em torno de 38 a 40% em todas as cultivares e variedades, o que reforça o potencial para atender à demanda de farelo para alimentação animal.

Outro resultado surpreendente foi a produtividade considerável observada mesmo num ano de extrema escassez de chuvas como 2016, que apresenta perdas de até 90% da produção de milho nas principais regiões produtoras. O desempenho produtivo de algumas das cultivares no Agreste chegou a passar de 40 sacas por hectare, apesar de um período extremamente seco para época, com precipitações abaixo de 40 mm, a cada decêndio (10 dias), em todos os meses de maio a agosto, além de longos veranicos (períodos sem qualquer chuva) em junho e agosto. Nos Tabuleiros Costeiros, região com média de chuvas superior ao Agreste, mas onde em 2016 também se observou baixa precipitação, muitas cultivares chegaram a superar 50 sacas por hectare.

Pesquisa
Com o objetivo de formatar um sistema de produção para essas regiões, diversas ações de pesquisa vêm sendo realizadas pelos cientistas da Embrapa.

As iniciativas englobam a seleção de cultivares com base em adaptabilidade e estabilidade de produção, porte para colheita mecanizada, nível de acamamento das plantas (quando pendem e deitam), e ciclo de produção; determinação dos melhores períodos para o plantio; avaliação dos arranjos de plantas – espaçamento e população; adaptação da cultura no sistema de plantio direto; recomendação para a inoculação de sementes, visando a não dependência de fertilizantes nitrogenados; levantamento das pragas, doenças e plantas daninhas de ocorrência regional, com os seus respectivos métodos de controle; determinação do momento correto da colheita; avaliação da qualidade de sementes – sanidade, germinação e vigor; e inserção da cultura em sistemas conservacionistas junto à agricultura familiar.

O Zoneamento Agrícola de Risco Climático para a soja em Sergipe e Alagoas para a safra 2015/2016, coordenado pela Embrapa e publicado pelo Ministério da Agricultura, abre caminho para financiamento bancário e seguro agrícola para o plantio do grão em diversas regiões desses estados.

Cooperação
Os dirigentes da Embrapa e AEASE aproveitaram a oportunidade para celebrar um convênio de cooperação para o fortalecimento das ações de pesquisa agropecuária e transferência de tecnologia em Sergipe.

O termo formaliza a união de forças para promover cursos, palestras, dias de campo e outras ações para transmitir conhecimento e levar soluções sustentáveis ao campo sergipano, capacitando assistentes técnicos e extensionistas que lidam diretamente com os produtores rurais.

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