Pesquisadores e extensionistas rurais discutem desafios para altos rendimentos da soja no DF

Distrito Federal poderia alcançar uma produtividade média de 150 sc/ha com o melhor manejo e as tecnologias mais apropriadas, garantindo sustentabilidade

14.07.2021 | 20:59 (UTC -3)
Embrapa

Apesar de ter a maior média nacional de produtividade em soja – cerca de 65 sc/ha –, o Distrito Federal poderia alcançar uma produtividade média de 150 sc/ha com o melhor manejo e as tecnologias mais apropriadas, garantindo, ainda, a sustentabilidade. Nesse contexto, os desafios na gestão ecoeficiente para altos rendimentos na cultura foram debatidos na 4ª reunião técnica sobre a parceria Embrapa-Emater-Produtor Rural, realizada na Embrapa Cerrados (DF) no dia 9 de julho. 

O encontro teve a participação de cerca de 15 extensionistas rurais da Emater-DF e pesquisadores. Foram apresentadas experiências de sucesso da parceria e discutidas demandas e ações para o fortalecimento da sojicultura no Distrito Federal como primeira safra, além de alternativas para a segunda safra (safrinha) com milho, sorgo, milheto e o boi safrinha.

O chefe-geral da Embrapa Cerrados, Sebastião Pedro, salientou a necessidade de maior conexão entre os agentes da parceria, com reuniões mais frequentes para a elaboração de planos de trabalho. “Estamos em Planaltina, no DF, e temos aqui dentro um escritório regional da Emater-DF. Queremos pensar com vocês uma forma de ficarmos mais juntos e percebermos as demandas mais rapidamente, pois vocês têm uma capilaridade muito maior, e também de reagirmos de forma mais rápida e assertiva para produzirmos mais informações técnicas e orientarmos os produtores”, afirmou.

Para Sebastião Pedro, cada cultura agrícola do DF, apesar das altas produtividades, pode ser ainda melhor aproveitada. “A partir do DF, podemos formar uma referência para o restante do Brasil. Aqui temos várias unidades da Embrapa, uma Emater das mais bem estruturadas do País e um território que responde rápido, pois o agricultor é bastante tecnificado”, observou.

O chefe-geral salientou a necessidade de maior agilidade nas ações, uma vez que a partir deste ano o Brasil passa a ter na agropecuária o setor econômico mais forte e mais competitivo. “Temos que desenvolver nossa própria tecnologia, ser mais eficientes, produzir mais com menor custo e agredindo menos o meio ambiente. A cada ano, surgirá um novo problema e teremos que reagir rápido”, apontou, citando a reunião técnica realizada há três anos sobre a cigarrinha do milho.

O gerente do Centro de Inteligência e Planejamento (CIP) da Emater-DF, Carlos César da Luz, representou a diretora-executiva do órgão, Loiselene Trindade da Rocha. Ele destacou a relação próxima e de décadas entre a Emater e a Embrapa. Também falou sobre o CIP, estrutura que está sendo criada para pensar o planejamento estratégico junto a outras instituições e verificar, a partir das demandas, as respostas a curto, médio e longo prazo.

Luz lembrou que a Emater-DF esteve por muito tempo envolvida com o tema da soja quando da construção do Programa de Cooperação Nipo-Brasileiro para o Desenvolvimento Agrícola dos Cerrados (Prodecer) mas, posteriormente, passou a focar na produção diversa das commodities agrícolas. “É hora de retomarmos. Há muita coisa que o serviço de extensão rural, em articulação com a pesquisa, pode resolver, como os processos de gestão e de negociação junto às tradings, já que alguns produtores ficam a sós por não estarem vinculados a organizações”, citou.

Ele destacou que o DF conta com um verdadeiro ecossistema de inovação, com universidades, extensão rural, instituições de pesquisa e agentes financeiros próximos entre si. “Do ponto de vista de parcerias entre instituições, vamos construir um ponto de vista diferenciado no DF e na RIDE-DF. O secretário de Agricultura tem essa visão. Estamos juntos”, finalizou.

Pedro Ivo Borges Passos, coordenador de operações da Emater-DF, observou que apesar da área de produção de grãos no DF ser pequena, a região tem grande potencial, que será otimizado com a estruturação dos Polos Agroindustriais do Rio Preto e do PAD-DF. “A ideia de realizar encontros periódicos é muito boa porque promove a aproximação com os produtores. A gente vê o que está acontecendo e reage”, afirma.

O chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Cerrados, Fábio Faleiro, relembrou as edições anteriores da reunião técnica e os planejamentos de parceria discutidos. Ele lembrou que a partir dos encontros foram criadas a Expedição Safra-Brasília com os temas “soja, milho e culturas irrigadas” e “fruticultura - maracujá”. 

“As reuniões de planejamento com Embrapa, Emater e produtor juntos são o melhor caminho para realmente impactarmos o agronegócio de forma positiva, reconhecendo a importância e o espaço do grande, do médio e do pequeno produtor”, comentou. 

Como atividades recentes decorrentes da parceria, Faleiro citou a realização, neste ano, da reunião on-line sobre bovinocultura de leite e de corte e da Capacitação em Fruticultura Tropical, que está reunindo especialistas para abordar, até fevereiro de 2022, 17 temas de fruticultura, além de promover visitas técnicas a propriedades rurais com casos de sucesso.

Desafio é aumentar a eficiência agronômica

O supervisor do Setor de Implementação da Programação de Transferência de Tecnologia (SIPT) da Unidade, Sérgio Abud, fez uma apresentação sobre os desafios na gestão e no manejo ecoeficiente para altos rendimentos em soja, conteúdo que também pode ser aplicado a outras culturas agrícolas.

Abud explicou que o programa de melhoramento genético de soja da Embrapa tem como foco o desenvolvimento de variedades com alto rendimento, mas que consigam atender às necessidades do produtor. “A questão da ecoeficiência está ligada à alta produtividade com um custo viável para o produtor, inclusive do ponto de vista operacional, e ao mínimo impacto possível ao meio ambiente”, afirmou.

Ele apontou que o DF tem a maior média de produtividade de soja do País – cerca de 65 sc/ha em aproximadamente 52 mil hectares de área plantada. “Mas quanto estamos deixando de produzir e por quê?”, indagou, destacando que há um modelo científico adaptado à realidade brasileira que determina a produtividade potencial, estipulada em 250 sc/ha; a produtividade atingível e a produtividade real da soja.

Entre os fatores que determinam a produtividade potencial da soja, o primeiro ponto é a genética. “As variedades desenvolvidas atualmente têm maior foco nas altas produtividades. Por essa razão, os produtores têm que estar atentos ao manejo da lavoura para não perderem produtividade”, disse o supervisor do SIPT.

Os outros pontos são o arranjo de plantas (distribuição espacial das plantas por m² e por hectare), a radiação solar e a temperatura. “Temos (no Brasil) uma faixa ótima de luz durante o ano, só que ela muda de acordo com a data. Devido a isso, o produtor tem que estar atento à melhor época de plantio para aproveitar melhor a disponibilidade de luz durante o ciclo da soja e obter maiores rendimentos”, enfatizou. 

“E aqui no DF a altitude é boa (média de 1000 m), as noites são frescas e as temperaturas não são muito altas durante o dia. A temperatura é um fator crucial para o funcionamento da RuBisCO, enzima que regula a concentração de carbono, portanto de produtividade, das plantas”, explicou.

Já a produtividade atingível, também determinada por modelo científico, é limitada pela disponibilidade de água para a planta num dado ano ou local. Para o DF e região, a produtividade atingível é estimada em cerca de 150 sc/ha. “Hoje, com as condições climáticas, genética e tudo o mais sendo o melhor possível, mas com a limitação da água, podemos produzir 150 sc/ha. Se nossa produtividade média real é de 65 sc/ha, nosso déficit de produtividade é de 85 sc/ha, ou seja, isso é o que pode estar escapando”, comentou Abud.

Ele mostrou que entre os recordistas de produtividade, mesmo em fazendas que utilizam a irrigação de salvamento em soja na região, a produtividade historicamente não supera a das lavouras recordistas em condições de sequeiro. 

“Possivelmente, há um fator que reduz a produtividade nas áreas irrigadas, que pode ser a quantidade de água aplicada no momento em que a planta mais precisa. Não importa a água que cai na folha, mas sim a água disponível no solo, que é retirada pela planta no momento e na quantidade que ela precisa”, explicou, argumentando a necessidade de experimentos para determinar o coeficiente de produção a partir da lâmina d’água aplicadas nos diversos estádios (momentos) do desenvolvimento da cultura.

Já a produtividade real em sequeiro é aquela obtida na lavoura, e dependerá do nível de tecnificação do produtor. “Esse é o ponto que mais nos preocupa. Os fatores redutores de produtividade são muitos e atuam intensamente: época de plantio, forma de plantio, pragas, doenças, plantas daninhas, estresse da interação com produtos e sua metabolização e a qualidade da colheita. Temos que conhecer melhor a resposta da planta aos produtos e suas misturas com a interação com as plantas”, salientou, reforçando que a genética atualmente desenvolvida é mais sensível ao manejo aplicado na lavoura.

“Os problemas agronômicos estão nas mãos dos agrônomos. Temos que resolver isso”, alertou, lembrando que o programa de melhoramento genético da Embrapa está atento às necessidades dos produtores, ofertando cultivares convencionais e geneticamente modificadas adaptadas às diversas regiões sojícolas brasileiras. “Um lado é ter uma genética adaptada às necessidades do produtor; o outro é o produtor se adaptar às necessidades da genética. E aí o conhecimento agronômico é de fundamental importância”, ressaltou.

O supervisor do SIPT explicou que a eficiência climática do ano é calculada pela razão entre a produtividade atingível e a produtividade potencial estimadas, o que varia conforme o local, a região e a época. Já a eficiência do manejo agronômico na lavoura é a razão entre a produtividade real colhida pela produtividade atingível estimada. “Se estamos produzindo 65 sc/ha, o que é muito bom, mas a produtividade atingível é 150 sc/ha, quer dizer que estamos com 50% de déficit de produtividade. Precisamos entender o que está acontecendo e como resolver isso para reduzir as perdas de produtividade”, apontou.

Abud mostrou o manejo utilizado pelos recordistas de produtividade e salientou que existem alguns pilares de fundamental importância para a obtenção desses resultados, como a construção da fertilidade do solo com perfil mais profundo, permitindo um bom desenvolvimento do sistema radicular e o armazenamento de água e oxigênio para as plantas; a escolha de uma variedade adaptada a cada ambiente de produção; o ótimo tratamento de sementes; o plantio com boa distribuição de planta; o excelente manejo fitossanitário e dessecação na hora certa; e a colheita com alta qualidade. “O produtor deve fazer o manejo básico, mas bem feito. A qualidade agronômica associada à qualidade operacional é necessária para o sucesso da lavoura”.

Dessa forma, com alta eficiência agronômica ou de manejo, o produtor fica cada vez menos vulnerável à baixa eficiência climática que possa ocorrer na safra. “Quando o produtor tem boa eficiência agronômica e a eficiência climática muda, mesmo assim ele ainda terá mais sucesso”, concluiu.

Ao final da reunião, os participantes conheceram a vitrine tecnológica com cultivares de milho, sorgo e milheto da Embrapa instalada nos campos experimentais da Unidade.

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