Pesquisadores falam sobre situação atual, ocorrência e controle dos nematoides

Sintomas da Soja Louca II também foram abordados durante XVIII Encontro Técnico da Fundação MT

21.05.2018 | 20:59 (UTC -3)
Julianne Caju

Os danos causados pelos nematoides estão afetando a produtividade da soja brasileira. No caso da soja louca II, principalmente em regiões quentes e chuvosas dos estados do Maranhão, Tocantins, Pará e Mato Grosso.De acordo com pesquisadores que estiveram no XVIII Encontro Técnico realizado pela Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso, Fundação MT, nas regiões de maior ocorrência da doença, o produtor rural e sua equipe devem ficar atentos. Os especialistas recomendaram que ao menor sinal de incidência, deve-se começar o manejo.

Na apresentação realizada no evento, a pesquisadora Luciany Favoreto, da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), falou sobre os sintomas da soja louca II. Segundo Luciany, as plantas afetadas permanecem verdes e enfolhadas depois que as sadias atingem o ponto de colheita. Ocorre acentuado abortamento de flores e, em alguns casos, rosetamento dos racemos florais. Há redução no número de vagens, e as remanescentes geralmente apresentam deformações, lesões necróticas marrons, apodrecimento e redução do número de grãos. As folhas ficam com coloração mais escura, ocorre formação de bolhas no limbo foliar e engrossamento das nervuras e dos nós.

Além dessas informações, Luciany apresentou aos participantes do XVIII Encontro Técnico Fundação MT medidas de controle da soja louca II. “É preciso fazer controle eficiente de plantas invasoras (pré e pós emergência). Fazer manejo de plantas invasoras na cultura de cobertura de solo (entressafra). É importante que a semeadura da soja seja feita em palhada completamente dessecada. A safrinha de milho ou de outra cultura que não propicie a multiplicação do nematoide é muito importante, devemos tirar o alimento do nematoide. Sem comida ele não sobrevive.”

O pesquisador Waldir Pereira Dias, da Embrapa Soja, também foi enfático ao afirmar que “os nematoides precisam ter comida sempre”. A rotação de culturas e, quando disponível, a semeadura de cultivares de soja resistentes é a forma de matar esses bichos de fome. Mas, segundo o especialista é importante também atentar que alguns nematoides são comuns a mais de uma cultura, como por exemplo soja/milho ou soja/algodão. “Se tiver comida o ano inteiro para eles, eles não morrem, pelo contrário, multiplicam-se”.   

Conforme Waldir Dias, o nematoide de cisto de soja, por ser muito específico da soja, é aquele mais facilmente controlado pela rotação de culturas. “É só substituir a soja pelo plantio de outras culturas como arroz, cana e capim”. Outra estratégia eficiente para controle do nematoide de cisto é a utilização de cultivares de soja resistente. O grande problema, segundo o pesquisador, é que no Mato Grosso existem várias raças do nematoide de cisto. Então, o produtor tem que saber qual é a raça presente em sua lavoura e, a partir de tal informação, precisa selecionar a cultivar resistentes adequada. Para aumentar a durabilidade da resistência, o produtor “nunca” deve adotar a monocultura de uma mesma cultivar resistente ou de cultivares resistentes oriundas de uma mesma fonte.

O ideal é ele rotacionar cultivares com resistência vinda de fontes diferentes. “Se o produtor rural começar a praticar a monocultura de cultivares resistentes ela acaba selecionando outras raças que vencem a resistência dessas cultivares. A estratégia para aumentar a durabilidade da resistência é os programas de melhoramento de soja diversificarem as fontes de resistência e os agricultores fazerem a rotação das cultivares resistentes geradas.  Por exemplo, se plantar em um determinado ano uma cultivar derivada de Peking (fonte de resistência para as raças 1,3 e 5) no ano seguinte ele deverá utilizar uma cultivar derivada de outra fonte, por exemplo PI88788 (fonte de resistência para as raças 3 e 14)”, explicou Waldir Dias durante sua apresentação no XVIII Encontro Técnico Fundação MT realizado semana passada em Cuiabá/MT.

Outro risco que vem acontecendo, de acordo com Waldir Dias, principalmente na região de Sorriso/MT, é a existência de raças do nematoide que vencem a resistência da fonte mais completa (PI 437654). “Se o agricultor começar a fazer monocultura de cultivares derivadas dessa fonte, ele acabará selecionando essas raças que acabaram vencendo a resistência dessa fonte e de cultivares com resistência múltipla derivadas da mesma. E como não existe outras fonte melhores, o produtor acabará deixando de ter o uso de cultivares resistentes como ferramenta para controle do nematoide de cisto naquela região, e assim terá que plantar milho em vez de soja”.

Rosangela Silva, pesquisadora da Fundação MT, também recomendou, como medidas eficientes para controle dos nematoides, o monitoramento constante da lavoura e o empilhamento de manejo, aquele que concilia várias ferramentas, que inclui o manejo genético, o cultural, o químico e o biológico. Segundo a especialista na safra 2017/2018 aumentou a incidência do nematoide reniforme (Rotylenchulus reniformis). “Isso pode ter ocorrido, possivelmente devido ao aumento da área de soja com cultivares sem resistência”.  Já para o nematoide de cisto da soja, a maior incidência nas lavouras de Mato Grosso, foi das raças 2, 4 e 5. A raça 2 teve alta incidência principalmente na região do Parecis e a raça 4 no sul do Estado. “A diminuição da sobrevida dos nematoides passa pelo uso de um conjunto de táticas de manejo. O uso de ferramentas integradas é que garantirá ao produtor rural ter áreas mais saudáveis, sustentáveis e rentáveis”, destacou a pesquisadora aos participantes do evento.


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