Pilotos automáticos se tornaram obrigatórios para quem quer rentabilidade

O piloto automático não pode ser mais considerado apenas uma tecnologia para facilitar o trabalho do operador, mas uma ferramenta indispensável para quem busca diminuir custos e aumentar a eficiência dos maquinários

10.11.2020 | 20:59 (UTC -3)
Revista Cultivar

A agricultura de precisão é um método de administração, com objetivo de otimizar custos, melhorar as práticas de manejo e aumentar a produtividade das lavouras, baseado nas diferentes condições do solo e das culturas. A elevação dos níveis de produtividade das culturas exige cada vez mais o aumento da precisão nas operações de semeadura, tratos culturais e na colheita, fator que vem sendo favorecido pelo uso de tecnologias de direcionamento, que auxiliam o operador a reduzir erros durante as operações.

No Brasil, várias técnicas são empregadas para controlar o tráfego de máquinas nas lavouras. Sistemas visuais como barras instaladas na dianteira do trator com cordas simulam a largura do implemento ou sistemas de bandeiras auxiliam o agricultor na condução da máquina. Os primeiros sistemas que utilizam tecnologia embarcada surgiram como a barra de luz, um mecanismo simples, onde o operador marca uma trajetória e o sistema, através de indicadores visuais luminosos, informa ao operador a rota. Em comum nessas técnicas é que o controle do tráfego é manual, ou seja, a qualidade do trabalho depende diretamente da atenção, concentração e experiência do operador.

Com a modernização e o aumento da frota agrícola, principalmente propriedades com grandes extensões de área, técnicas manuais tornam-se obsoletas e pouco práticas, dando espaço para sistemas mais modernos como o piloto automático. O uso do direcionamento automático baseado em sistemas de posicionamento por satélite pode vir embarcado em máquinas agrícolas como tratores, colheitadeiras, distribuidores e pulverizadores autopropelidos e permite que a máquina seja guiada automaticamente com precisão e acurácia, com linhas de tráfego com perfeito paralelismo, ou seja, sem falhas ou sobreposição na lavoura.

Existem dois tipos de sistemas de piloto automático que são utilizados atualmente na agricultura, que diferem basicamente na forma de atuação. São o piloto hidráulico e o piloto elétrico. O piloto elétrico consiste em motores elétricos que atuam sobre o volante, permitindo o direcionamento automático da máquina de acordo com a necessidade de alteração do deslocamento. O sistema é composto basicamente por uma antena receptora, monitor, módulo de navegação e motor elétrico. Já o piloto hidráulico atua diretamente no sistema hidráulico da máquina. Essa integração pode ser através de uma válvula hidráulica acoplada ao sistema de direção ou através de interface que se comunica diretamente à máquina. O piloto hidráulico é composto por um monitor, módulo de navegação e sensores de ângulo e posicionamento, válvula hidráulica de acionamento do sistema de direção.

Para que ocorra essa correção no posicionamento das máquinas, tem-se disponível diferentes níveis de precisão dos receptores e modos de correção do sinal.

Piloto automático é uma peça fundamental na modernização da produção
Piloto automático é uma peça fundamental na modernização da produção

SINAL SUBMÉTRICO

Sinal submétrico é um sinal aberto que é corrigido por algoritmos internos de correção que provém uma precisão superior a um metro entre passadas, podendo ser utilizado em operações agrícolas que têm sobreposição de passadas, como preparo de solo, pulverização e distribuição de insumos a lanço. Independentemente do fabricante, os algoritmos internos de correção têm comportamento semelhante em todos os receptores, ou seja, mantêm a precisão passada a passada, perdendo gradativamente essa precisão à medida que transcorre o tempo. Os algoritmos internos não têm custo para o seu uso e são disponibilizados junto com a aquisição do sistema.

Alguns fabricantes disponibilizam um sinal submétrico diferencial que utiliza correção via satélite e garante precisão inferior a um metro entre passadas em operações como preparo de solo, pulverização e distribuição de insumos a lanço. Esse sistema de correção em alguns casos tem um custo anual para sua liberação.

SINAL DECIMÉTRICO

O sinal decimétrico, conhecido comumente como sinal pago, garante uma precisão em torno de 10cm entre passadas, suprindo a demanda em precisão para operações agrícolas, tais como preparo de solo, pulverização e plantio. Para utilizar essa correção existe um custo anual com a assinatura do sinal.

Antena de sinal RTK
Antena de sinal RTK

SINAL CENTIMÉTRICO

Também conhecido como sinal RTK ou correção em tempo real, é o tipo de correção com a maior precisão do mercado, em torno de 2,5cm entre passadas, e o único que realmente garante repetibilidade, ou seja, a capacidade de o veículo trafegar na mesma linha, mesmo após longo período. É indicado para todas as operações, principalmente plantio em linhas e criação de taipas na cultura do arroz. Ele é feito com o uso de uma estação ou base de referência localizada em um ponto georreferenciado transmitindo sinal de correção via rádio. Essa base pode ser fixa, normalmente montada sobre uma estrutura metálica fixa, e que tem um alcance maior (um raio de aproximadamente 20km), e a base móvel onde está é montada sobre um tripé e que possui um alcance menor (cerca de 3km a 4km de raio) pode ser movimentada dentro da propriedade.

Existe ainda a possibilidade de aquisição de pacotes de tecnologia diferenciados como, por exemplo, ferramentas que garantem que a máquina continue trabalhando por um período de tempo, mesmo após a perda de sinal transmitido, devido a algum obstáculo ou condição climática desfavorável à recepção do sinal.

Dentre as principais vantagens de utilização destes sistemas estão a redução do tempo de máquina parada e a maior obediência à janela de cultivo, possibilitando trabalhar com as máquinas em períodos em que não seria possível o operador direcionar a máquina devido à baixa visibilidade, como, por exemplo, à noite. Ocorre também a diminuição dos custos de produção, ao evitar sobreposição na aplicação de produtos; redução do gasto de combustível, bem como de insumos necessários como fertilizantes e defensivos. Além disso, ao evitar sobreposição nas passadas, aumentamos o aproveitamento da área total de cultivo e também evitamos a ocorrência da compactação do solo, fator que é desfavorável ao desenvolvimento radicular das culturas.

Piloto instalado no sistema de direção hidráulica
Piloto instalado no sistema de direção hidráulica

O piloto automático se aplica em todas as etapas de produção de uma lavoura, desde o preparo do solo até a colheita. Somado ao conjunto de tecnologias da agricultura de precisão, o piloto automático contribui para que as atividades de correção física e química do solo sejam realizadas de forma precisa, garantindo que mapas de distribuição de insumos sejam executados respeitando a variabilidade do solo, elevando a eficiência de tempo e aproveitamento de insumos.

Na aplicação de produtos fitossanitários, o piloto contribui para que haja maior eficiência do produto aplicado. Ao evitar a sobreposição de passadas, reduz o desperdício de calda, bem como a ocorrência de fitotoxicidade por excesso de aplicação. Além disso, possibilita a aplicação em horários alternativos, em que se pode conseguir uma maior eficiência do produto aplicado devido às condições climáticas como temperatura, vento e umidade, estarem mais adequadas. Estima-se que haja uma redução de custos de aproximadamente 15% com os insumos agrícolas, devido à adoção da tecnologia ocasionar a redução de erros durante a operação.

Na colheita também existe a possibilidade de aplicação do piloto, possibilitando a redução das perdas por amassamento de plantas e também a colheita com exatidão nas passadas da plataforma, que aumenta a eficiência com o uso total da plataforma.

Com uma agricultura que avança cada vez mais em tecnologia, a utilização do piloto automático não pode ser mais considerada como apenas uma tecnologia para facilitar o trabalho do operador. Como mencionado anteriormente, ela reduz consideravelmente os erros de espaçamento e sobreposições em diversas aplicações, ainda assim possibilita o controle de tráfego dos maquinários agrícolas e o melhor aproveitamento da área, o que melhora consideravelmente o rendimento e o gerenciamento das operações de campo.

Gustavo dos Santos, Dauto Carpes, Juan Paulo Barbieri, Base Assessoria Agronômica

Leia mais na edição de outubro da Cultivar Máquinas.

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