Registradas as primeiras variedades de banana-da-terra do Brasil

Registro permitirá aos produtores acesso ao crédito rural

26.02.2019 | 20:59 (UTC -3)
Embrapa

Graças ao apoio da pesquisa científica, o Brasil conta agora com duas variedades de plátanos registradas oficialmente e uma terceira encontra-se em processo para essa oficialização. Fruto muito semelhante à banana, o plátano tem casca mais dura, é mais esverdeado e costuma ser comercializado com o nome de banana-da-terra.

Apesar de já serem cultivados há mais de uma década no Brasil, os plátanos não contavam com mudas registradas. A inclusão das variedades D’Angola e Terra Maranhão no Registro Nacional de Cultivares (RNC) do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), permitirá a produção e identificação de matrizes livres de vírus, bem como o acesso dos produtores aos sistemas oficiais de crédito rural. Por isso, era uma demanda antiga de agricultores e biofábricas de plantas.

“Assim como aconteceu com a laranja Pera D-6 e a banana Prata-Anã, a Embrapa foi demandada pelos agricultores a liderar o processo de registro”, conta o pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura Edson Perito Amorim, líder do Programa de Melhoramento de Banana e Plátano, que solicitou o registro. Ele explica que os plátanos oficializados são variedades de domínio comum e a Empresa não vai ter propriedade sobre elas nem receber royalties.

“A inclusão no RNC permitirá que os agricultores tenham acesso a mudas de qualidade fitossanitária, a financiamento público para a implantação da lavoura e ao seguro agrícola”, comemora. “O plantio de mudas de qualidade vai permitir que os produtores incrementem a produção e melhorem a qualidade da fruta, uma vez que o ponto inicial de sucesso de qualquer área de produção de banana são as mudas de qualidade”, afirma. A Embrapa iniciou em 2018 o registro da Terrinha, o terceiro plátano mais cultivado do País.

O processo de registro

Amorim credita o prazo de registro relativamente rápido — cerca de um ano — à importância das duas variedades e pelo fato de já serem de domínio público. “Deixamos claro no pedido de registro que a Embrapa não estaria tomando posse das cultivares e que, por não estarem registradas, as mudas não poderiam ser comercializadas de forma oficial pelas biofábricas brasileiras. Por consequência, os produtores não podiam nem fazer seguro agrícola no banco. Nosso interesse era registrar para padronizar a produção de mudas”, conta Amorim ao recordar que a pesquisa teve que descrever tecnicamente as particularidades de cada cultivar, como altura, tipo de cacho, número de frutos e comprimento dos frutos, entre outras características, para o registro no Ministério.

Sistema de produção a caminho 

A perspectiva é que a Embrapa desenvolva, em breve, um sistema de produção específico para plátano e a sua própria variedade. “O registro em si vai permitir que planejemos experimentos em áreas de produtores visando melhorar o manejo dessas cultivares. Até então tínhamos áreas de produtores bastante desuniformes porque eles utilizavam mudas da própria área”, comenta o especialista.

Testes estão sendo realizados pela primeira vez no Vale do Ribeira, região tradicional de cultivo de banana no estado de São Paulo, onde a Embrapa desenvolve duas linhas de pesquisa: teste de genótipos de plátanos da coleção de germoplasma (amostra de variedades de uma mesma espécie de planta) da Empresa e validação de híbridos resistentes à Sigatoka-negra desenvolvidos pelo Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA).

Orivaldo Dan é um dos produtores parceiros em Jacupiranga. “Vejo um crescimento de vendas [de plátano] há um bom tempo. É uma planta que pode nos dar uma boa sustentação para industrialização e abrir um mercado muito bom. Temos dez variedades sendo testadas com suporte da Embrapa e da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) para chegar à mais produtiva. A única forma de baixar custo de produção e também ter um preço razoável para o consumidor é a produtividade e, para isso, temos que achar uma variedade mais precoce e que também dê um cacho maior”, ressalta.

Silvio Romão, da fazenda Univale, também em Jacupiranga, é outro parceiro de experimentos com banana Terra. “A gente tem visto cada vez com mais frequência o uso na culinária, especialmente em São Paulo. É um nicho de mercado bastante interessante. Eu pretendo levar para área comercial assim que eu tiver volume. A gente tem compradores fixos de banana e todos demonstraram interesse em distribuir. Acho que vai ser um nicho bom para trabalhar”, acredita.

Industrialização da banana-da-terra 

Desde setembro de 2014, o Baixo Sul Baiano conta com um empreendimento que depende exclusivamente da produção local da banana Terra Maranhão. Trata-se da empresa Alina do Brasil, gerenciada pelo venezuelano Gerardo Rosales. Em 2010, buscando na internet onde encontrar matéria-prima para instalar uma fábrica de processamento de banana-da-terra no Brasil, Gerardo se deparou com uma publicação da pesquisadora da Embrapa Marilene Fancelli sobre controle da doença moleque-da-bananeira no Baixo Sul da Bahia. “Fizemos contato com a Secretaria de Agricultura do Estado e marcamos uma visita à Embrapa e ao município maior produtor, Wenceslau Guimarães. O secretário de agricultura era Juarez, que me levou a conhecer a produção, que ficava na sua fazenda”, recorda.

A Alina não tem marca própria, tendo optado por realizar apenas o processamento e a embalagem por encomenda em saquinhos de 40 e 45 gramas, a depender da marca. A tecnologia utilizada é a mesma da região do Caribe, que é onde mais se consome esse produto. Atualmente, o produto final é fornecido para quatro empresas: Boa Terra, do município do Gandu; Cooperativa de Produtores de Presidente Tancredo Neves (Coopatan); e Mundial Chip e Roots to Go, ambas de São Paulo. “Eles mandam fazer as embalagens com a marca deles e entregamos aqui o produto pronto para comercializar”, acrescenta.

Cerca de 25 produtores cadastrados de Gandu, Teolândia, Wenceslau Guimarães, Barra do Piraí e Presidente Tancredo Neves entregam a fruta de acordo com a necessidade da empresa, que tem capacidade de fabricar dez mil quilos por semana, mas a produção atual ainda não chega a 10%. “Eles estão dispostos a, de acordo com a nossa demanda, aumentar a capacidade de oferta”, salienta.

Cinco empregados fixos estão registrados, mas diversos colaboradores temporários são contratados, às vezes uma semana, outras duas ou mais. De acordo com Gerardo, não existem concorrentes no mercado nacional. “Agora é esperar o tempo para o brasileiro se acostumar a comer a banana chip e deslanchar”, diz.

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