Relatório estima redução da safra de café de 40,7% em Minas Gerais para 2021

Pesquisa foi feita pelo Sistema FAEMG e a Emater-MG em vários municípios produtores para verificar os impactos nos cafezais

19.03.2021 | 20:59 (UTC -3)
Sistema FAEMG

Em 2020, eventos climáticos adversos afetaram grande parte das lavouras de café de Minas Gerais, reduzindo as projeções de safra para este ano. A Emater-MG (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais) e o SISTEMA FAEMG/SENAR/INAES (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais) realizaram uma pesquisa em vários municípios produtores para verificar os impactos nos cafezais, e os dados obtidos foram consolidados no relatório “Levantamento da Estimativa de Perdas na Cafeicultura por Intempéries Climáticas em Minas Gerais”. O trabalho estima que 193 mil hectares de área cultivada com café foram atingidos no Estado e poderá haver uma redução de safra de 20,7%, em 2021. Ao considerar o efeito da bienalidade negativa, a estimativa percentual de perda se eleva para 40,7%. Além disso, avalia-se que aproximadamente 15 mil cafeicultores tiveram as lavouras afetadas pelas intempéries climáticas, especialmente pelo déficit hídrico. 

As informações foram coletadas junto a produtores, cooperativas e entidades representativas do setor. O levantamento obteve respostas em 322 municípios produtores de café e os dados foram consolidados pelo Departamento Técnico da Emater-MG e pela Gerência Técnica e Gerência de ATeG do Sistema FAEMG/SENAR/INAES. Os municípios participantes foram agrupados em 4 macrorregiões: Sul de Minas, Chapada, Matas de Minas e Cerrado Mineiro.

Da amostra, 218 municípios relataram a ocorrência de alguma intempérie climática no período de julho a novembro de 2020, mas em alguns municípios ocorreu mais de um fenômeno climático. “No ano passado, de agosto a outubro, praticamente não choveu nada. A planta busca água no solo para se manter e desenvolver, por isso a seca foi o que mais afetou os cafezais mineiros”, comenta o coordenador técnico de Cafeicultura da Emater-MG, Julian Carvalho, um dos responsáveis pelo estudo. O déficit hídrico atingiu 55,9% dos municípios e as altas temperaturas médias, 42,5%. Também foi observada a ocorrência de granizo (9,3%) em 30 municípios.

Queda na safra

Em 65,2% dos municípios, os produtores tiveram suas lavouras afetadas, sendo que em 20,8% dos municípios consultados, mais de 150 produtores em cada município tiveram suas lavouras atingidas. A ocorrência da seca traz expectativa de redução na produção da safra 2021, podendo interferir, também, em safras futuras. No último ano, a partir de setembro, foi registrado um aumento de temperatura acima de 25°C e é nessa época que ocorre a floração da planta. “O café tem várias fases fenológicas (florada, frutificação, etc). Quando alguma intempérie atinge uma fase, a planta pode ter uma produção menor e ainda poderá ter uma perda na qualidade dos frutos, o que reduz a rentabilidade do agricultor”, argumenta o coordenador da Emater-MG.

O relatório mostra que em 73,1% dos municípios que relataram perdas, a frutificação foi comprometida com intensidade de média a alta. A influência negativa na frutificação do cafeeiro poderá comprometer a produção na safra a ser colhida em 2021, em volume e qualidade (redução do tamanho e peso dos grãos). O estudo aponta ainda que, em 60,1% dos municípios que relataram perdas, os tratos culturais foram comprometidos com intensidade de média a alta. Os atrasos das atividades nas lavouras fazem com que o sistema produtivo se torne menos eficiente. Como consequência, poderá diminuir a rentabilidade das lavouras, prejudicando a próxima safra e também safras futuras. 

Poderá haver uma redução na produção cafeeira dos municípios produtores em Minas Gerais, devido às intempéries climáticas da ordem de 21,2% para o café arábica sequeiro e de 13,2% para o café arábica irrigado. O total estimado de redução para a safra de café 2021 no estado, em relação à safra de 2020, será de 40,7% se considerado, além das perdas pelas intempéries climáticas, a natural redução de safra devido ao efeito da bienalidade negativa que, em média, proporciona uma perda de aproximadamente 20% da produção. Em termos de volume é esperado a redução em torno de 10,3 milhões de sacas na safra mineira de café arábica. Com isso, o levantamento aponta uma projeção da safra 2021 da ordem de 17,9 milhões de sacas. 
 
O coordenador de Cafeicultura da Emater-MG, Julian Carvalho, esclarece que a condição demonstrada no relatório reflete um estágio avaliado em janeiro de 2021, podendo ocorrer mudanças em virtude de tratos culturais e condições climáticas. Por isso, a perda para safra 2021 poderá ser maior ou menor à estimada e é esperado também um reflexo dos problemas ocasionados em 2020 para a safra 2022.

Ajuda aos produtores atingidos

O diretor técnico da Emater-MG Feliciano Nogueira explica que a realização do levantamento surgiu, no segundo semestre de 2020, da parceria entre a Emater-MG e o Sistema FAEMG/SENAR/INAES, com o propósito comum de apoiar os cafeicultores atingidos por intempéries.  Segundo Feliciano, o estudo será um importante subsídio para a formulação de políticas públicas para o setor. “O levantamento dá mais clareza sobre essa provável perda na safra de café em 2021, que já seria menor devido à bienalidade negativa. As intempéries exigem um cuidado mais intenso com as lavouras e o agricultor pode precisar de um suporte mais técnico, de crédito ou seguro rural. Ter uma estimativa possibilita que o governo se articule junto aos agentes financeiros, associações e cooperativas para buscar estratégias e políticas públicas a fim de minimizar prejuízos”, argumenta o diretor da Emater-MG.

De acordo com o vice presidente da FAEMG e o presidente das comissões de Cafeicultura da entidade e da CNA, Breno Mesquita, diante da constatação das perdas, algumas medidas já estão sendo tomadas para ajudar os produtores atingidos. “Em cima dessa perda de mais de 40% em relação a 2020, a CNA e a FAEMG, com apoio de outros setores da cafeicultura brasileira, conseguiram a aprovação de uma linha de crédito de R$150 milhões, justamente para o cafeicultor que sofreu com a seca. Assim ele pode se financiar, com carência de 2 ou 3 anos, e passar a fase de baixa produção em condições de cuidar da sua lavoura e tocar o seu negócio”, esclarece Breno.

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