Soja tolerante à seca será alternativa para estiagens como a dessa safra

Testes apresentam até 30% de aumento na produtividade, em situações de seca, com soja que leva tecnologia de tolerância à estresses abióticos

13.02.2019 | 21:59 (UTC -3)
TMG

As condições climáticas desfavoráveis desta safra de soja, com longo período de estiagem e temperaturas altas, causaram expressiva redução de produtividade, principalmente no Paraná, segundo maior produtor da oleaginosa no País. Na região oeste, considerada uma das mais produtivas do Estado, dados da INTL FCStone do dia 25/01 estimam quase 45% de redução na produção, com relação à estimativa inicial feita em dezembro. A área de soja do estado é de quase 5,5 milhões de hectares e a região mais atingida pela estiagem planta próximo a 1,1 milhão de hectares. 

Problemas como esse estão perto de ter uma alternativa à mão do produtor com o desenvolvimento de novas variedades transgênicas de soja com a tecnologia HB4, um trait que confere à planta tolerância a estresses abióticos, principalmente seca. Iniciada em 2015, a parceria da empresa nacional Tropical Melhoramento & Genética S/A – TMG com a Verdeca LLC, joint venture das empresas Bioceres S.A. e Arcadia Biosciences, comprovou que a soja HB4 realmente apresenta resposta superior em condições de estresse hídrico, a exemplo do que já foi observado em anos de testes na Argentina, onde obteve até 30% de aumento na produtividade em situações de seca. 

De acordo com Alexandre Garcia, gestor de Pesquisa da TMG, a tecnologia HB4 está presente na soja e no trigo e foi desenvolvida através de um gene nativo do girassol, cultura que naturalmente tem maior tolerância ao estresse abiótico. “Diferente de outros mecanismos de tolerância à seca que não tiveram sucesso no mercado, a soja com tecnologia HB4 não interrompe seus processos biológicos no período em que ocorre a estiagem. A planta continua realizando a fixação biológica de nitrogênio, fotossíntese e trocas de carbono, o que normalmente é interrompido durante eventos de seca em genótipos sem a tecnologia. Dessa forma, a soja HB4 consegue manter níveis elevados de produtividade em situações moderadas de estresse, sem ter o rendimento prejudicado em condições normais”, completa. 

Seca no Paraná 

Produtor de Nova Santa Rosa, no oeste do Paraná, Clésio Mengarda enfrentou nesta safra estiagem e temperaturas altas durante 35 dias. Com duas variedades de soja numa área de 90 hectares, a 390 metros de altitude, Clésio conta que plantou no período de 11 a 16 de setembro, fez investimento alto com três aplicações de fungicida, porém, a média de produção ficou muito baixa. 

 “O clima foi normal com chuvas semanais até final de novembro. Mas a última chuva foi em 29 de novembro com 30 milímetros e voltou a chover somente em 4 de janeiro, com 50 milímetros”, conta o produtor. Na safra anterior, 2017/18, o agricultor obteve, na mesma área, média de produção de 68 sacas por hectare (ou 165 sacas por alqueire), com colheitas realizadas no final de janeiro. Já nesta safra, com a colheita realizada entre 22 e 26 de dezembro, com antecipação de 15 dias o ciclo das cultivares com relação ao ano passado, a média foi de 42 sc/ha (ou 102 sc/alq). “Nunca havia ocorrido uma seca tão severa como esta na região”, pontuou.

Perspectiva 

Martin Mariani Ventura, gerente geral da Verdeca LLC, define a tecnologia como uma ferramenta única. "A tecnologia HB4 dará aos produtores uma ferramenta única para ajudar a combater os desafios da gestão da variabilidade climática. Os resultados positivos foram demonstrados em numerosos testes de campo nas principais áreas de produção de soja na América do Sul e nos Estados Unidos”, destaca. 

Em 2018, a TMG submeteu à CTNBio o dossiê com o pedido de aprovação comercial da soja HB4 em âmbito nacional. Na Argentina, a tecnologia está liberada e conta com muitos estudos feitos ao longo dos últimos anos. Na safra 2017/18, quando o país vizinho passou pela pior seca dos últimos 70 anos, ensaios com soja HB4 em solo argentino obtiveram significativos ganhos na produtividade, comparados com plantas equivalentes sem a tecnologia. 

Neste ano, a novidade apresenta evolução semelhante em ambiente de seca moderada em experimentos da TMG no Sul do Brasil. “Estamos ansiosos para ver os resultados de rendimento. Nas fotos dos ensaios HB4 verificamos efeitos muito semelhantes aos que vimos no ano passado na Argentina. Há uma resposta visual consistente”, exemplifica Alexandre.

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