SP e MG produzirão 287,76 milhões de caixas de laranja na safra 2020/21

​Quebra de 25,6% em relação à temporada anterior deve-se à menor reserva nutricional das plantas e às condições climáticas desfavoráveis

11.05.2020 | 20:59 (UTC -3)
Fundecitrus

A safra de laranja 2020/21 do cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro é estimada em 287,76 milhões de caixas de 40,8 kg, de acordo com o anúncio online feito hoje (11) pelo Fundecitrus. O número é 25,6% menor do que safra anterior, que foi finalizada em 386,79 milhões de caixas, e 12,5% inferior à média dos últimos dez anos. Cerca de 20,56 milhões de caixas deverão ser produzidas no Triângulo Mineiro.

A produtividade média é estimada em 790 caixas por hectare, ante as 1.045 caixas por hectare obtidas na temporada anterior.

“É uma safra pequena considerando o potencial produtivo dos pomares, mas isso ocorre devido ao ciclo bienal da laranja”, explica o gerente-geral do Fundecitrus, Juliano Ayres. “Como a safra passada foi alta, a reserva nutricional das plantas nesse ano é menor. Somado a isso, tivemos as condições climáticas desfavoráveis verificadas durante a fixação e a primeira fase de crescimento dos frutos”, comenta.

Influência do clima e floradas tardias

A quebra de safra foi provocada pela redução do número de frutos por árvore em comparação à safra passada. A grande produção na temporada anterior aumentou o consumo das reservas nutricionais das plantas, tornando-as mais escassas, e desencadeando o fenômeno conhecido como alternância de produção. Além disso, o clima também influenciou negativamente: as altas temperaturas nos meses de setembro e outubro de 2019 prejudicaram a fixação dos frutos recém-formados.

Condições climáticas desfavoráveis também foram observadas em março e abril de 2020 e atingiram os frutos já em estágio mais avançado de desenvolvimento. De acordo com dados da Somar Meteorologia, o volume acumulado de chuva nesse período não chegou sequer à metade da média histórica (1981-2010) e restringiu o crescimento dos frutos.

Do total estimado, 245,15 milhões de caixas são de frutos de primeira e segunda floradas (85,2% do total), 34,64 milhões de caixas de terceira florada (12%) e 7,97 milhões de caixas de quarta florada (2,8%).

O tempo seco em março e abril de 2020 restringiu o crescimento dos frutos, que devem permanecer menores até a colheita. A expectativa é que as laranjas sejam colhidas com peso de 159 gramas.

Alternância de produtividade nas regiões

A produtividade por setor nesta temporada, comparada à do ano anterior, mostra variações significativas entre as localidades. O Noroeste, que abrange as regiões de Votuporanga e São José do Rio Preto, ocupa o primeiro lugar no ranking que mede a queda de produtividade. As 492 caixas por hectare, que deverão ser produzidas nesse setor, representam uma queda de 46,7% em relação à safra 2019/20. Em seguida estão o setor Norte (regiões de Triângulo Mineiro, Bebedouro e Altinópolis), com produtividade esperada de 686 caixas por hectare (-35,9%); o setor Centro (regiões de Matão, Duartina e Brotas), com 721 caixas por hectare (-30,1%); o setor Sul (regiões de Porto Ferreira e Limeira), com expectativa de 781 caixas por hectare (-16,5%); e o Sudoeste (regiões de Avaré e Itapetininga), onde deverão ser colhidas 1.185 caixas por hectare (-2,7%) (veja o gráfico abaixo).

“Quanto maior a queda de produtividade esperada para esta safra, maior foi o aumento observado na safra anterior. Essa é uma evidência do ciclo bienal de produção das laranjeiras, mostrando que a carga de frutos de um ano normalmente é inversamente proporcional à carga do ano anterior, refletindo em variações significativas de produtividade por hectare que se alternam entre as safras”, analisa o coordenador da PES, Vinícius Trombin. “Mas, o principal motivo das oscilações da safra são as mudanças climáticas que frequentemente ocorrem de um ano para outro. Nas regiões com clima mais estável, como, por exemplo Avaré e Itapetininga, as oscilações de produtividade são menores”, complementa o coordenador da pesquisa.

 

Recuperação do consumo de suco

O cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro é o maior produtor mundial de laranja para suco. De acordo com o coordenador metodológico da PES e professor da USP e da FGV, Marcos Fava Neves, a safra 2020/21 e o volume de estoques ficam agora equilibrados devido à recuperação da demanda pelo suco, que foi aquecida nos principais mercados por causa da pandemia de covid-19. 

"Diante da busca pelo fortalecimento da imunidade, o setor citrícola observa o aquecimento do consumo do suco de laranja. Trata-se de um alimento líquido extremamente nutritivo”, comenta.

Citricultura e sustentabilidade

Esse ano, a PES estimou, com base em metodologia desenvolvida pela Embrapa Territorial, a área com mata preservada presente nas propriedades citrícolas: são 182 mil hectares em todo o cinturão citrícola.  Na média, há um hectare dedicado à preservação nas propriedades para cada 2,52 hectares destinados ao cultivo de citros. Os dados foram obtidos a partir do cruzamento das informações coletadas no campo pelo Fundecitrus com os dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR).

“O trabalho nos mostra o importante papel da citricultura na preservação ambiental e biodiversidade, com a convivência de grande área de ambientes preservados nas fazendas”, diz Trombin.

Metodologia

Para elaboração da estimativa, 2.557 talhões foram contados, planta por planta, e 1.590 árvores foram colhidas em todo o cinturão citrícola.  “A redução do número de amostras em função da Covid-19 impactou muito pouco no resultado geral do levantamento, o que pode ser comprovado pelo erro de ±2,65% no número médio de frutos por árvore”, comenta o analista de metodologias da PES. José Carlos Barbosa, professor do Departamento de Engenharia e Ciências Exatas da FCAV/Unesp.

A Pesquisa de Estimativa de Safra do Fundecitrus é realizada em cooperação com a Markestrat, com a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP) e com a Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita” (Unesp).

Para ler o relatório completo em português, acesse o link.

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