Tecnologia 5G promete melhorar conectividade no campo e impulsionar agricultura

Segundo Embrapa, transformação digital deve influenciar os rumos da competitividade do agro

19.03.2021 | 20:59 (UTC -3)
Embrapa

A tecnologia 5G representa uma grande oportunidade para a melhoria da competitividade da agricultura brasileira, trazendo mais eficiência, aumento de produtividade e redução de custos. Mas para que os produtores possam se beneficiar dessa inovação é preciso superar, principalmente, os desafios de infraestrutura e ampliar a conectividade.

Os impactos dessa tecnologia e a importância de melhorar a conexão no setor rural foram discutidos em audiência pública, realizada por videoconferência nessa quinta-feira (18), pelo grupo de trabalho (GT) da Câmara dos Deputados que acompanha a implantação do 5G no Brasil. O objetivo do grupo é analisar o processo de implantação e propor estratégias normativas buscando aperfeiçoar a legislação relativa aos serviços de telecomunicações.

Uma das integrantes do GT, a chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária, Silvia Massruhá, explicou como a transformação digital deve influenciar os rumos da competitividade e sustentabilidade das cadeias produtivas agropecuárias brasileiras. Ela ainda falou sobre a evolução da agricultura e a importância da conectividade na sociedade 5.0, caracterizada pela automação e robotização, lembrando que o foco do avanço tecnológico está na melhoria da qualidade de vida, trazendo inclusão e sustentabilidade econômica, social e ambiental.

“Entendemos que essa é uma questão estratégica para o Brasil. É algo que vai nos trazer uma melhora da produtividade, da eficiência, da competitividade dos produtos do Brasil, e obviamente isso significa aumentar os empregos no campo, o consumo do campo que acaba acontecendo na cidade – máquinas, equipamentos; e isso movimenta a economia brasileira”, disse o deputado Vitor Lippi (PSDB-SP), parlamentar que pediu a audiência pública para debater o tema.

Lippi ressaltou que a ampliação da conectividade é “um fator determinante para aumentar a produtividade dos setores industrial e agrícola”, mostrando preocupação com a realidade brasileira, já que mais de 70% das propriedades rurais ainda não têm acesso à internet. Por isso, frisou a importância de se debater a questão exatamente nesse momento em que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) aprovou a proposta do edital para o leilão do 5G, que segue para análise do Tribunal de Contas da União (TCU) nos próximos dias.

Leilão do 5G

Esse é o maior edital da história da Agência, com diversas faixas de radiofrequência, para aprimorar os serviços de telecomunicações no País, tanto de quarta como de quinta geração, segundo o presidente da Anatel, Leonardo Euler de Morais. Com o espectro da rede de baixa frequência do 5G na faixa de 700 mega-hertz (MHz), espera-se melhorar a cobertura das áreas rurais.

De acordo com a Anatel, 89,2% da população brasileira já é atendida com a rede de internet 4G. Entretanto, observa-se que essa cobertura está concentrada nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e no Distrito Federal, ao passo que Maranhão e Piauí apresentam os menores percentuais. Das 21 mil localidades com cobertura, identificadas pela Agência no País, que incluem os municípios sedes e não-sedes - como povoados, vilas e aglomerados, apenas 57% têm 4G. Entre 12 e 14 mil localidades não-sedes não dispõem de nenhuma cobertura.

O edital 5G deve contemplar 8 mil locais que ainda não têm acesso à rede e também vai propiciar maior conexão do campo. A cobertura desse tipo de localidade e de estradas é a que mais se relaciona com a conectividade rural, na visão de Morais. “Ainda que sejam localidades urbanizadas, a característica de propagação da faixa de 700 MHz, uma faixa mais baixa, certamente contribuirá para a melhoria da cobertura em áreas rurais”, afirmou o presidente da Anatel.

Outra vantagem é a ampliação da malha rodoviária de seis rodovias federais que vão de norte a sul do País, cuja cobertura 4G é de apenas 41%. No caso da BR 364, que passa  por Cordeirópolis (SP) e vai até Mâncio Lima, no Acre, só 23% têm 4G. A expansão nas rodovias vai favorecer o escoamento da produção agropecuária. Além disso, o 4G permite conectar cerca de 10 mil dispositivos por quilômetro quadrado (Km2) enquanto o 5G possibilita que até 1 milhão desses dispositivos estejam conectados por Km2. Isso deve impulsionar a internet das coisas (IoT) no campo, com maior uso de sensores e equipamentos agrícolas automatizados, trazendo maior confiabilidade na coleta de dados.

Digital é o novo paradigma

Para o diretor de Inovação da Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Cléber Soares, “o novo paradigma do agronegócio no mundo será suportado pelo digital”. Numa metáfora, conectividade é a pavimentação inicial de uma grande estrada para se chegar a um caminho, mas ela não é tudo, explicou o diretor. É importante também desenvolver ferramentas digitais, sistemas, softwares e serviços.

“Quando nós falamos em conectividade no campo é importante termos a consciência e a ciência de que no melhor cenário, ano-base 2020, apenas 23% do território agrícola brasileiro têm algum nível de conectividade”, alertou Soares. Segundo ele, o Ministério da Agricultura está preocupado com essa realidade e vem trabalhando em estratégias para  elevar esse índice.

Um estudo em parceria com a Associação Brasileira de Marketing Rural (ABMR), também de 2020, identificou que 94% dos produtores rurais têm celulares e, desses, 68% possuem smartphones. “Isso mostra que o nosso produtor rural, mais ou vez, está apto e pronto para receber tecnologias”, enfatizou. Soares disse, ainda, não ter dúvida de que a conectividade vai dar um novo dinamismo ao agronegócio e será a promotora do novo paradigma do agronegócio brasileiro e tropical.

O Mapa também está olhando para outras formas de conectividade, seja usando fibra óptica, conexão via satélite e até mesmo as bandas analógicas com baixa frequência, que possuem qualidade, baixo custo e podem resolver os problemas dos produtores que estão em locais de difícil acesso. Em um cenário de ampliação de 25% na conexão atual do campo, o Ministério prevê um aumento de 6,3% no valor bruto da produção agropecuária do País, cuja estimativa é de 1 trilhão de reais em 2021.

“A conectividade vai melhorar a eficiência, ajudar na otimização dos insumos e dos recursos naturais, melhorar a eficiência das operações agrícolas, e também ajudar na melhoria da produtividade e na redução de custos”, avaliou a chefe da Embrapa Informática Agropecuária. Ela também mostrou que 85% dos pequenos e médios produtores já estão usando algum tipo de tecnologia digital para gerenciamento de suas propriedades, segundo um levantamento realizado pela Embrapa, em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Outra característica relevante é que a tecnologia digital é transversal a toda cadeia de valor da agropecuária, desde a pré-produção à produção. A tecnologia 5G pode beneficiar uma série de aplicações no setor agrícola, como estimativa de safra, monitoramento de culturas e animais, colheita e pulverização automatizadas, detecção de pragas e doenças agrícolas, entre outras. Essa discussão da conectividade vai muito além de trazer tecnologia para o campo, na opinião de Silvia. “É uma oportunidade para o Brasil criar um programa de modernização da agricultura”, enfatizou.

Conectar pessoas e incentivos

“Conectar o agro não é somente máquinas; muito mais do que máquinas, são as próprias pessoas”, reforçou o CEO da Datora Telecomunicações, Tomás Fuchs. Ele contou que as pequenas e médias operadoras foram as responsáveis por expandir a internet para as pequenas cidades do Brasil. Mas citou que 3,8 milhões de propriedades brasileiras não possuem conexão, destacando que a conectividade no agro representa aumento de produtividade, melhoria de gestão, segurança e retenção no campo, tanto de trabalhadores como familiares.

O leilão 5G pode proporcionar uma grande melhoria para o agronegócio, principalmente, com a oferta da rede de 700 MHz, considerada por especialistas do setor a ideal para as áreas rurais, de acordo com o CEO. Fuchs defendeu incentivos à desoneração, com redução do imposto sobre circulação de mercadorias e serviços (ICMS) nos estados para estimular o mercado, o que poderia ser feito com um fundo garantidor usando recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), contribuindo assim para gerar ganhos, promover o desenvolvimento e reduzir desigualdades.

O coordenador técnico do Instituto CNA, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Joaci Franklin de Medeiros, salientou que o agro “é movido a ciência, tecnologia, inovação e, além disso, por pessoas”. Medeiros lembrou a importância da criação da Embrapa em 1973, contribuindo para a evolução da agricultura brasileira.

Ele apresentou dados econômicos que mostram a relevância do setor, responsável por 21,4% do produto interno brasileiro (PIB), 32,3% da mão de obra e 48% das exportações do País, em 2019. O coordenador apontou que dos 5,07 milhões de propriedades rurais, 72% possuem internet; entretanto, no Nordeste, apenas 50% dos empreendimentos estão conectados, segundo o Censo Agropecuário 2017, produzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“A conectividade é um fator de desenvolvimento regional. Então, é importante levar para essas regiões e para todos os produtores rurais”, destacou Medeiros, frisando que a infraestrutura é um fator limitante no meio rural. Os dez maiores municípios produtores de grãos no Brasil ainda possuem dificuldades de acesso à internet. No caso de Sorriso, em Mato Grosso, principal produtor, o acesso à rede é de 54%. Por isso, ele defendeu a universalização dos serviços de telecomunicações e um ambiente regulatório favorável, com segurança jurídica, observando que a expectativa é que a nova geração de internet ainda demore de dois a quatro anos para chegar às capitais brasileiras.

A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) vem se esforçando para a regulamentação dos recursos do Fust na implantação do 5G, além de viabilizar uma política voltada à área rural, “para que a conectividade no campo chegue o mais rápido possível”, conforme o consultor da FPA João Henrique Hummel Vieira.

Vitor Lippi reafirmou que o Brasil é uma potência no setor agrícola e, com esse trabalho integrado, vai ser uma superpotência, para gerar as riquezas necessárias e dar segurança alimentar ao mundo. “Sem dúvida, o grande desafio é a conectividade”, concluiu. Assim, tanto é fundamental a implantação das novas tecnologias, como a garantia dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, beneficiando a Embrapa e todos os institutos de pesquisa do Brasil, acredita.

Durante as discussões, o deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) também ressaltou essa mobilização da FPA, reafirmando que é preciso melhorar o acesso à tecnologia para o desenvolvimento agrícola. Ele ainda questionou a adoção do padrão standalone no edital de 5G, que exige investimento novo das operadoras e pode ser mais demorado e caro, destacando que o agricultor no interior não tem conexão, mas tem pressa. Já o deputado General Peternelli (PSL-SP), além de solicitar esclarecimentos sobre aspectos técnicos, chamou a atenção para a necessidade de aumentar a produção agrícola em 70% até 2050, para alimentar 9 bilhões de pessoas no planeta, em um ambiente integrado e sustentável.

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