Vale do São Francisco busca Indicação de procedência de seus vinhos

​Ao longo dos últimos quatro anos, um time de 40 pesquisadores, professores e técnicos teve como missão entender a vitivinicultura do Semiárido, em especial a estabelecida no eixo Petrolina-Juazeiro

26.10.2017 | 21:59 (UTC -3)
Viviane Zanella​

Ao longo dos últimos quatro anos, um time de 40 pesquisadores, professores e técnicos teve como missão entender a vitivinicultura do Semiárido, em especial a estabelecida no eixo Petrolina-Juazeiro. Liderar essa força-tarefa foi a missão do pesquisador da Embrapa Uva e Vinho (Bento Gonçalves, RS) Giuliano Elias Pereira, ao coordenar o projeto "Desenvolvimento de tecnologias e uso da agricultura de precisão para colaborar com a certificação dos vinhos e com a sustentabilidade do setor vitivinícola do Vale do Submédio São Francisco".

Nos dias 17 e 18 de outubro, a equipe reuniu viticultores, empresários do vinho, autoridades, pesquisadores, professores e estudantes para apresentar uma síntese dos principais resultados obtidos, no Seminário Indicação Geográfica para os vinhos finos tranquilos e espumantes do Vale do São Francisco, que aconteceu em Petrolina (PE).

Na sequência, com base nessas informações, a equipe do projeto irá elaborar as notas técnicas para o pedido de reconhecimento da Indicação de Procedência (IP) junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) no próximo ano. A solicitação será feita pelo Instituto do Vinho do Vale do São Francisco (Vinhovasf), entidade privada representante dos produtores da região.

A execução do projeto, que contou com aporte superior a R$ 1 milhão do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), veio atender uma demanda antiga do setor produtivo. Para o presidente do Vinhovasf, José Gualberto Almeida, os resultados apresentados são a concretização de um sonho. Ele é um dos pioneiros na produção de vinhos no Semiárido e, desde o reconhecimento da IP Vale dos Vinhedos, em 2002, queria realizar esse trabalho no Vale do São Francisco. “Participei do lançamento em Bento Gonçalves e lá mesmo já havia manifestado o interesse de que nossos vinhos fossem estudados e também reconhecidos. Demorou um pouco, mas estamos chegando lá”, comemorou. Ele também aproveitou o evento para agradecer à Embrapa por abraçar a causa.

O projeto

Iniciado em 2013 com previsão de término em dezembro de 2017, as atividades desenvolvidas possibilitaram a caracterização histórica e geográfica do território vitivinícola do Vale do Submédio São Francisco; a delimitação da área geográfica da Indicação de Procedência Vale do São Francisco; a caracterização do relevo, das condições climáticas, dos solos, dos vinhedos comerciais; levantamento das paisagens vitícolas da região; estudos das uvas e enológicos para a melhoria da qualidade, da tipicidade e da estabilidade dos vinhos tropicais, incluindo a caracterização da composição química, metabólica e sensorial. Também foi definido o regulamento de uso da IP, além do plano de controle dos produtos.

A equipe multidisciplinar que chegou a esses resultados tem representantes da Embrapa Uva e Vinho, Embrapa Semiárido, Embrapa Agroindústria Tropical e Embrapa Clima Temperado, instituições de ensino, incluindo Universidade de Caxias do Sul (UCS),  Universidade Federal de Lavras (UFLA), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e Instituto Federal do Sertão Pernambucano (IF Sertão), além do Vinhovasf.

A IP dos Vinhos do Vale do São Francisco

Segundo a professora Ivanira Falcade, da UCS, a área delimitada da Indicação de Procedência Vale do São Francisco para os vinhos finos tranquilos e espumantes contempla os municípios de Juazeiro, Casa Nova, Sobradinho e Curaçá, na Bahia, e Petrolina, Lagoa Grande, Santa Maria da Boa Vista e Orocó, em Pernambuco, todos integrantes da Rede Integrada de Desenvolvimento (RIDE) Petrolina-Juazeiro.

Estarão autorizados a receberem a indicação geográfica os vinhos tranquilos brancos, tintos e rosés, os vinhos espumantes brancos e rosés, além do moscatel espumante. Os mesmos deverão ser elaborados com 100% de uvas produzidas na área geográfica delimitada para a IP. Foram autorizadas para a produção dos vinhos 23 cultivares de uvas Vitis vinifera L., indicadas pelos próprios produtores, pelo excelente desempenho na região.

Em geral os vinhos são frutados, de baixo teor alcoólico e acidez moderada, podendo ser de leves a encorpados, com predominância para vinhos jovens. O carro-chefe da produção são os espumantes, com 2,5 milhões de litros, seguidos dos vinhos tranquilos, com 1,5 milhão de litros. Todas as atividades relacionadas à IP do Vale do São Francisco serão acompanhadas e controladas pelo conselho regulador, formado por sete profissionais do setor, com representantes das vinícolas associadas e de empresas públicas.

Para Jorge Tonietto, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, que desenvolve projetos de estruturação de indicações geográficas desde os anos 90, o crescimento das indicações nos vinhos brasileiros, que hoje já são seis, é animador. “O Brasil tem caminhado muito rápido nestas conquistas, que em outros países é mais lenta. Isso demonstra o sucesso deste formato de reconhecimento, que deverá crescer como modelo. Ainda mais com a possível conquista de uma indicação geográfica de vinhos tropicais, inédita no mundo vitivinícola, no formato dos exigentes padrões europeus”, avalia.

A obtenção do registro da IP Vale do São Francisco irá garantir a constante melhoria da qualidade dos vinhos que chegarão aos consumidores, pois todos os produtos qualificados passarão por testes analíticos e por avaliação sensorial realizada às cegas, sendo aprovados apenas aqueles que atendam aos requisitos da IP. A conquista, a exemplo de outras regiões, também estimulará a venda dos produtos, em função da divulgação, e o enoturismo na região. Espera-se que esta inovação setorial atraia novos investimentos, fortalecendo a vitivinicultura do Vale do São Francisco e valorizando este território.


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